Heineken coloca R$ 150 mi em ESG de olho em geração de receita

Com parceiros especializados, nova divisão de negócios quer provar que carbono, reciclagem e agricultura regenerativa podem ser negócios rentáveis

Garrafas de Heineken
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*Correção às 12h08: A Heineken adquiriu uma fatia minoritária da Better Drinks, diferentemente do que constava na versão anterior. O texto foi corrigido.

A Heineken, segunda maior cervejaria do Brasil, está lançando uma nova unidade de negócios para acelerar seu processo de descarbonização e ao mesmo tempo rentabilizar suas ações ligadas a práticas ESG. O investimento inicial é de R$ 150 milhões.

A Spin, como foi batizada a nova frente, terá quatro pilares: agricultura sustentável, reciclagem de vidro, energia renovável e negócios de impacto. Essa é uma iniciativa pioneira do grupo e começa pelo Brasil, maior mercado da marca.

“As empresas têm compromissos globais e locais para reduzir suas emissões de carbono, mas na hora de implementar [os planos], é assustadoramente caro”, diz Mauro Homem, vice-presidente de sustentabilidade e assuntos corporativos do Grupo Heineken. “O que estamos tentando fazer é criar um sistema viável, com soluções que geram receita e caminham em direção ao nosso objetivo”. 

A meta global da Heineken é alcançar o net zero de emissões de gases de efeito estufa, incluindo toda a sua cadeia de valor, até 2040. 

Levando em conta a cadeia completa, as embalagens representam a maior parte da pegada de carbono da companhia (43,9%), com 700 mil toneladas de CO2 equivalente por ano, seguidas pela agricultura (24,8%), com 42 mil tCO2eq/ano, e logística (20%), com 300 mil tCO2eq/ano. 

A expectativa é que, já no primeiro ano, a Spin alcance o ponto de breakeven (ou seja, o negócio não seja deficitário). “Queremos mostrar que esse ecossistema é viável financeiramente, por si só, e também reinvestir e expandir as iniciativas em andamento”. 

A nova divisão vai atuar sempre com parceiros. A empresa recrutou a Rizoma Agro, de Pedro Paulo Diniz, filho de Abílio Diniz e ex-piloto de F1; a Ambipar, de gestão ambiental; Raízen e Ultragaz, do setor de combustíveis;  a ONG Central Única das Favelas (Cufa) e Better Drinks, que produz o Baer Mate. 

Outras iniciativas da Heineken, como o programa para long necks retornáveis, continuam acontecendo em paralelo. 

Agrofloresta na Mata Atlântica

Na agricultura sustentável, a Heineken firmou um contrato de 25 anos com a Rizoma. Juntas, as empresas vão reflorestar mais de 800 hectares de pastos degradados na cidade de Itu, em São Paulo. A cervejaria passou a ser dona da área quando adquiriu a Schincariol, em 2017. 

A recuperação será feita com um sistema agroflorestal, combinando espécies nativas da Mata Atlântica com produção agrícola. 

“Como a área é grande, vamos explorar vários conjuntos [de plantio]. Estamos pesquisando cacau e outras frutas que vão bem no Estado”, diz Diniz, CEO da Rizoma, que já atua no bioma.

Uma parte da terra será usada para restauração florestal e deve contar com mais de 60 espécies de plantas por hectare (o equivalente a um campo de futebol). Outra porção será focada na produção de limão orgânico, combinada a plantação de outras 20 espécies. O desenho ainda não está fechado, mas a adubação já começou há um ano e meio.

Em seus 16 anos de atuação, esse é o primeiro grande projeto da Rizoma. Em termos financeiros, o retorno do investimento deve vir principalmente da venda de produtos orgânicos, como suco de limão. A receita será compartilhada pelas duas empresas.

“Estamos falando de um retorno [projetado] acima de 20% de TIR (taxa interna de retorno) nesse sistema conjunto”.

Parte dos ganhos também deve vir da geração de créditos de carbono. Ainda não há clareza, segundo Homem, sobre o uso desses créditos. O aumento da biodiversidade e a melhora dos recursos hídricos ao redor da fábrica da Heineken também devem ser consequências positivas do negócio.

Reciclado, não reciclável

A Heineken já havia apresentado no ano passado um sistema para recolher garrafas long necks retornáveis em bares e restaurantes de algumas cidades do Brasil. Mas as compradas em supermercados, por exemplo, caíam na loteria da reciclagem: só 25% do vidro é reciclado no país, e o restante tende a parar no aterro sanitário. 

“Nosso primeiro desafio é aumentar o portfólio do que é retornável. O segundo é agir para aumentar os índices de reciclagem”, afirma o vice-presidente.

Em parceria com a Ambipar, a cervejaria planeja criar nove “hubs de vidro” para receber omaterial coletado por cooperativas, catadores individuais ou grandes compradores. Ali vai ocorrer o processo de beneficiamento, com limpeza e tritura das garrafas. Depois dessa etapa, o material será entregue às vidrarias que fabricam as embalagens da Heineken. 

Os primeiros hubs ficam no Espírito Santo, na Bahia e em Pernambuco. Em 2025 e 2026, outros seis pontos devem ser inaugurados. 

Uma vez prontos, os negócios devem contribuir para um aumento do faturamento da Ambipar em R$ 400 milhões ao ano, segundo a empresa.

Outros pilares

A Heineken reforçou sua atuação com a Raízen e Ultragaz, para expandir seu programa que permite a contratação de energia renovável por bares, restaurantes e consumidores. A meta é que 50% de seus bares utilizem apenas energia renovável até 2030. 

A cervejaria também apresentou uma parceria com a Better Drinks e com a CUFA, no que deve contribuir para a inovação no grupo de maneira mais acelerada e maior capilaridade de marcas que tenham um propósito e impacto positivo bem definido ao olhar da cervejaria.

A empresa se tornou sócia minoritária da Better Drinks. Sem um aporte de capital, a Heineken disponibilizará sua logística de expansão, distribuição, produção e acesso a fornecedores.