'Conar dos EUA' quer que JBS baixe o tom em publicidade de net zero

Propagandas podem levar os consumidores a tirar 'conclusões equivocadas' sobre descarbonização da empresa, diz órgão de autorregulação

Ilustração mostra lupa sobre o logotipo da JBS
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A Europa está criando regras mais restritas sobre a propaganda de atributos ambientais e climáticos dos produtos por parte das empresas para prevenir o greenwashing

Nos Estados Unidos, um sinal veio da autorregulação da própria indústria de publicidade. 

No fim do mês passado, o National Advertising Review Board (NARB), espécie de Conar dos Estados Unidos, ‘recomendou’ que a JBS revise as alegações feitas em anúncios de seus planos de net zero. 

O órgão avaliou algumas propagandas questionadas pelo Instituto de Agricultura e Política Comercial (IATP, na sigla em inglês), uma ONG que trabalha pela alimentação sustentável, e concluiu que elas poderiam levar a “conclusões equivocadas” pelos consumidores. 

“As alegações questionadas comunicam que a JBS já está no processo de implementar um plano documentado que já foi avaliado e que tem uma expectativa razoável de atingir o net zero até 2040”, afirmou o NARB em sua decisão. 

“Contudo, a JBS ainda não tem um plano examinado até o momento. Em vez disso, a empresa está no estágio exploratório em direção ao objetivo de se tornar neutra em carbono até 2040.”

A JBS submeteu seu plano de descarbonização à Science Based Targets initiative (SBTi), entidade que avalia se as metas da companhias estão alinhadas com a ambição esperada para o setor e se são factíveis para conter o aquecimento global na rota de 1,5ºC até o fim do século ou “bem abaixo de 2ºC”. Mas o plano ainda não foi aprovado pela entidade. 

O órgão pediu que a JBS descontinue as propagandas que foram alvo de questionamento, que incluem afirmações como (em tradução livre):

  • “A JBS está se comprometendo a ser net zero até 2040”
  • “Compromisso global de atingir emissões líquidos zero de gases de efeito estufa até 2040”
  • “Bacon, asas de frango e carne bovina com emissões net zero. É possível”
  • “Liderar a mudança ao longo da indústria de alimentos e atingir nosso objetivo de se tornar net zero até 2040 será um desafio. Qualquer coisa a menos não será uma opção”; e
  • “O SBTi reconheceu o compromisso de net zero da JBS”

O Conar americano adicionou ainda que “nada na sua decisão impede a JBS de fazer alegações verdadeiras mais restritas”, tanto em relação a seus esforços de pesquisa em relação a potenciais métodos para reduzir as emissões e aos passos que está tomando para alinhar suas atividades aos critérios do SBTi.

Apesar de se tratarem de recomendações, as decisões do NARB costumam ser seguidas pelas empresas. O órgão é uma espécie de segundo tribunal que analisa casos já julgados por instâncias inferiores – e, em caso de não cumprimento de suas recomendações, pode levar o caso para agências reguladores federais, como a Federal Trade Commission (FTC). 

Em nota emitida à própria NABR, a JBS disse que “discorda da interpretação de como os consumidores percebem as alegações questionadas”, mas afirmou que “vai atender a recomendação” nos anúncios presentes e futuros.