Empresas brasileiras estão atrasadas em metas de descarbonização, diz CDP

Nova plataforma da entidade que acompanha reduções de emissões corporativas mostra que ainda há muito a fazer para limitar o aquecimento global a 1,5°C

Placa com net zero na frente de edifício
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O CDP lançou uma plataforma que vai registrar os avanços climáticos de empresas ao longo dos anos e permitir a visualização se elas estão ou não cumprindo as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa com as quais se comprometeram. 

No Brasil, 681 empresas integram o Corporate Environmental Action Tracker, das quais 23% estão no caminho certo para atingir seus compromissos. Outras 25% estão progredindo, ainda que atrasadas. 

O objetivo da plataforma é tornar acessível informações agregadas sobre a performance das empresas em suas trajetórias de descarbonização. Os dados são anônimos, e a análise é apresentada de maneira consolidada. 

O cenário brasileiro acompanha o mundial. Só 24% das empresas ao redor do globo, responsável por 5% das emissões, estão no caminho para atingir as metas com as quais se comprometeram. 

A base completa tem quase 10 mil empresas, incluindo 90 que integram o FTSE 100, principal índice da bolsa de Londres, e 400 do S&P 500, de Nova York. 

“A gente fala muito de meta, e meta é bacana, mas tão importante quanto é entender quais são as ferramentas, a estrutura do plano de transição para ajudá-la nessa jornada”, diz a diretora-executiva do CDP na América Latina, Rebeca Lima. “O nosso foco está na trajetória”.  

De cada dez empresas no mundo que informam seus dados – voluntariamente – ao CDP (antigamente chamado Carbon Disclosure Project), oito têm algum plano de transição climática e seis apresentam metas. 

“Nas empresas consideradas, apenas um terço tem metas direcionadas para o escopo 3 [de emissões indiretas]. O engajamento da cadeia de valor continua sendo um grande desafio”, afirma Lima. 

Hoje, o CDP cobre cerca de 10% das emissões globais e mira alcançar os 50% até 2030. O número de companhias aumenta cerca de 30% ao ano. A presença das brasileiras tem uma curva parecida. Elas passaram de 466 em 2019 para 691 em 2021.

A pressão exercida por grandes companhias ou instituições financeiras ajuda a ampliar a base. No Brasil, Klabin, Braskem e alguns bancos pedem que seus fornecedores estejam no CDP, diz a diretora. 

Mas o simples fato de mais empresas apresentarem seus dados “não necessariamente” indica uma comprometimento mais firme com a questão climática, afirma Lima. “Das 18,7 mil empresas que reportaram no ano passado, quase 3 mil são listadas em bolsa e, com certeza, estão mais dispostas. No entanto, muitas das outras reportam a pedido de investidores e clientes”. 

O caminho até 1,5°C

Mesmo que todas as ações planejadas e metas anunciadas fossem efetivadas, haveria uma redução média linear de 3% a 4% das emissões até 2030, afirma Lima – um avanço insuficiente para manter o aquecimento global a 1,5ºC. 

Quando se consideram os compromissos nacionais de descarbonização, o problema é ainda mais grave, de acordo com a ONU. Ainda que todos sejam atingidos, a concentração de gases de efeito estufa aumentará 10% até 2030.

O consenso científico é que seria necessário cortar as emissões pela metade até o fim da década para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C em 2100, em comparação com a era pré-industrial.

No tracker do CDP, é possível visualizar:

  • Volume de emissões globais, nacionais e setoriais;
  • Número de empresas com um plano de transição climática realista;
  • Quanto das emissões globais estão cobertas por metas baseadas na ciência, alinhadas à iniciativa Science Based Targets (SBTi);
  • Número de empresas com metas factíveis para redução do escopo 3;
  • Número de empresas que avançam no cumprimento de suas metas; e
  • Impactos potenciais das metas divulgadas de redução de emissões.