A iniciativa Science Based Targets (SBTi), referência mundial na certificação dos planos net zero corporativos, divulgou hoje a primeira metodologia padronizada para as atividades que dependem diretamente da terra, como agricultura, pecuária e papel e celulose.
Esses setores respondem por 22% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas até agora não existia um método unificado e lastreado na melhor ciência disponível para reduzir o impacto ambiental dessas indústrias.
Trata-se de um trabalho técnico, que servirá de base para o estabelecimento ou adaptação das metas de descarbonização das companhias que já fizeram ou pretendem fazer compromissos de cortes de emissões validados pela ciência.
Uma das principais diretrizes do documento, entretanto, não é exatamente novidade: 80% do potencial de mitigação do carbono nesses setores depende do fim do desmatamento.
As companhias que seguirem a FLAG (sigla em inglês para as diretrizes de estabelecimento de metas para florestas, terras e agricultura) terão de se comprometer com desmatamento zero até 2025, no máximo.
Mais de 360 empresas cujas operações fazem uso intensivo da terra já fizeram compromissos públicos pela SBTi, mas suas metas não incluíam perda de vegetação ou emissões relacionadas ao uso de insumos agrícolas, por exemplo, por falta de uma metodologia.
O frigorífico Marfrig é um desses casos. Os planos da companhia, que receberam o selo da SBTi em maio passado, envolvem o corte de 33% das emissões para cada animal abatido até 2035.
Como a nova metodologia não estava pronta quando a estratégia foi chancelada, o compromisso da empresa ainda não inclui ganhos relacionados à recuperação de áreas degradadas ou a adoção de sistemas que integram lavoura e pecuária.
Segundo a Science Based Targets, companhias que produzem proteínas animais, óleo de palma e madeira, entre outros, terão de diminuir em 72% os gases de efeito estufa que lançam na atmosfera até 2050.
Mas os compromissos terão de incluir objetivos de curto prazo. A mudança é questão de sobrevivência dos negócios, disse Martha Stevenson, diretora-sênior da World Wide Fund for Nature (WWF) e conselheira da SBTi. “A comercialização do nosso ambiente natural é uma fonte significativa de emissões, e o setor também é o mais vulnerável aos efeitos do aquecimento global”, afirmou ela em comunicado.
A SBTi, uma entidade independente e sem fins lucrativos, é formada por um conjunto de ONGs climáticas, incluindo o CDP (Carbon Disclosure Project, WWF e World Resources Institute.