Neca Setubal: Papel social das empresas não se esgota em filantropia durante a covid

Neca Setubal: Papel social das empresas não se esgota em filantropia durante a covid
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As empresas que fizeram grandes doações para combater os efeitos da pandemia precisam levar esse envolvimento social para dentro de seus próprios negócios no pós-covid. A avaliação foi feita na manhã de hoje pela socióloga Maria Alice Setubal, durante o evento Impacta Mais On, que discute investimentos de impacto.

Uma das principais acionistas do Itaú, Neca Setubal opinou que as fundações filantrópicas têm um papel central para levar essa reflexão para dentro das empresas às quais são ligadas. Ela é presidente do conselho da Fundação Tide Setubal e do GIFE, entidade que reúne 170 fundações empresariais.

“O investimento social privado tem papel grande no advocacy com as empresas, porque muitas das fundações são fundações empresariais. [É preciso] trazer as empresas que apoiaram no covid, que fizeram grandes doações. Agora você tem um papel, você tem uma responsabilidade. Qual é o impacto [da sua atividade]?”, disse ela para uma plateia online de 500 pessoas.

O evento, que vai até amanhã, é organizado pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), Vox Capital e ImpactHub.

Neca Setubal se atribuiu o papel de exercer esse advocacy dentro do grupo Itaú. “As pessoas que estão em diferentes espaços de acesso a empresas, aos bancos, e ao setor financeiro têm um papel enorme. E eu estou me colocando nesse lugar também, que é de influenciar as empresas nesse tripé de retorno, risco e impacto [nos negócios].”

Para ela, a pandemia “descortinou um capitalismo que não estava levando em conta as pessoas. Estava muito mais focado em seu próprio desenvolvimento e crescimento e onde as pessoas não tinham lugar central.”

Mas, em sua opinião, o simples desejo de mudança que veio à tona não resolve. “Acho super importante que cada um de nós seja responsável no seu espaço, para que seja agente dessa mudança: os trabalhadores, os consumidores, os investidores, os empresários. A gente vai ter que fazer a mudança em várias dimensões, não vai cair do céu.”

Particularmente no Brasil, a covid “trouxe um sentido de maior responsabilidade com o coletivo, com o bem comum, que a gente não tem muito”, que agora precisa ser preservado.

Neca Setubal também fez uma enfática defesa de que as periferias do país assumam protagonismo na sociedade. “As periferias não querem mais ser uma laboratório de experiências de negócios de impacto. Elas querem ser protagonistas dos seus negócios. Conhecer essas periferias é fundamental”, disse.

“A partir disso temos que construir um olhar de Brasil. Dos investidores, dos empresários, onde essas periferias, onde a população negra, as mulheres estejam fazendo parte deste país. Não é [para ser] incluída ali do lado. Temos muita potência nesse olhar onde as periferias podem ser protagonistas”, completou.