Com 15 mil empresas em processo de certificação, a América Latina vinha se destacando como a região do mundo com o maior potencial de crescimento do número de Empresas B, que integram o desenvolvimento social e ambiental ao seu modelo de negócio. Mas a pandemia de covid-19 colocou esse protagonismo sob risco.
A receita projetada para este ano para todo o Sistema B na América Latina, que atua em 19 países e tem 600 B-corps, teve um corte de 40%.
“Com o dinheiro da filantropia sendo direcionado para situações de emergência, houve uma queda muito grande e muito rápida dos recursos destinados a ações sistêmicas”, diz Marcel Fukayama, diretor do sistema para a região. As doações respondem por 30% do orçamento da entidade.
E os efeitos negativos do novo coronavírus não pararam aí.
A receita relacionada à certificação, que responde por 36% do orçamento e inclui a anuidade e taxas pagas pelas empresas integrantes da rede e pelas candidatas a tirar o selo “B”, também ficou comprometida pela crise.
Outro terço da receita vem de programas que são vendidos a empresas, como o Caminho+B, que assessora as empresas no diagnóstico dos impactos sociais e ambientais que geram e como identificar caminhos para melhoria. As vendas dos programas também caíram radicalmente.
O Brasil até agora foi menos afetado que outros países da região, mas diante da perspectiva de uma recessão severa, há preocupação com a sustentabilidade da operação local no médio prazo.
“Não são muitos os atores que estão preparados para implementar a agenda dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU até 2030. Se não cuidarmos das organizações que compõem a infraestrutura desse ecossistema, quando a crise acabar vai ser terra arrasada”, diz Fukayama.
Numa pesquisa com 600 empresas na região (180 no Brasil) para medir os impactos da crise, metade reportou que pode fechar em 60 dias por causa da quarentena. A maioria delas tinha caixa para apenas dois meses e, a essa altura, já queimou boa parte das reservas.
Por essa razão, uma das medidas pensadas pelo gabinete de crise no Brasil foi desenhar o CoVida20, para dar crédito a pequenos negócios com impacto social. No momento, estuda-se como replicar o modelo em outros países da região.
Para dar fôlego às associadas e cuidar de suas próprias finanças, o sistema mudou temporariamente as regras de certificação.
As empresas que precisavam renovar sua certificação agora ganharam um perdão de seis meses, prorrogável por outros seis. Para o pagamento da taxa anual — que varia de US$ 500 a US$ 500 mil, a depender do porte da empresa — foi concedida uma carência de três meses, seguida de parcelamento da taxa em seis vezes.
“Perder empresas custa mais caro do que deixar de trazer novas associadas. Perder é muito ruim”, diz Fukayama.
Lógica semelhante foi aplicada às candidatas a B-corps. Aquelas que comprovarem uma queda superior a 20% no faturamento poderão parcelar as taxas pagas ao sistema em seis a 12 parcelas. A maior redução no ritmo de certificação veio das empresas que faturam de US$ 100 milhões a US$ 1 bilhão.
Mesmo com todas essas medidas, a organização não escapou de reduzir em 25% seus custos operacionais e administrativos, o que incluiu cortes de pessoal.
Parte da queda da receita será compensada por recursos assegurados junto a algumas instituições como Bill & Melinda Gates Foundation, BMW Foundation e IDRC (International Development Research Centre). “São grandes mobilizadores de capital que podem alocar oxigênio para a infraestrutura do ecossistema.”