A GEF Capital fechou a compra de uma participação minoritária na LAR Plásticos, posicionando a empresa como um dos players para atuar na consolidação do setor de reciclagem no Brasil.
Os valores e a participação exata não foram revelados, mas a gestora de private equity, que tem foco na tese climática, costuma comprar fatias relevantes, superiores a 30%.
Num setor aquecido, em meio à demanda cada vez maior das empresas por reduzir sua pegada ambiental e de carbono, a LAR Plásticos atraiu o interesse de pelo menos seis fundos de investimento, num processo de venda que foi capitaneada pelo Santander.
Fundada em 2011, a LAR Plásticos é uma das poucas empresas do setor que consegue reunir escala e controles suficientes em relação à cadeia de fornecimento, afirma Anibal Wadih, gestor da GEF Capital.
“Esse é um setor com muita informalidade no fornecimento dos materiais e, normalmente, as empresas que conseguem ter controle sobre isso são pequenas para o nosso perfil de investimento”, diz.
A LAR tem foco na reciclagem de polipropileno (PP) e polietileno de alta densidade (PEAD), materiais bastante utilizados pelas indústria de bens de consumo — como frascos e tampas de cosméticos e produtos de limpeza —, e que ainda têm uma taxa de reciclagem baixa no Brasil quando comparados com outros materiais, como o PET.
Um diferencial da empresa é a verticalização. Além de transformar em resina reciclada o plástico que compra de cooperativas, também entrega produtos finais, fabricados em sua unidade de Atibaia. Há tanto itens de prateleira, como a venda de caixas e pallets de plásticos reciclado, até projetos feitos sob demanda para as empresas.
A LAR já produziu, por exemplo, lixeiras de coleta seletiva para a Ambev a partir de plástico recolhido nas ruas durante o Carnaval.
“Não nos vemos como uma empresa de reciclagem, apenas, mas sim como uma empresa de economia circular, capaz de fazer todo o ciclo do produto e recolocá-lo de volta do mercado”, afirma Leonardo Marino, diretor da LAR.
Ele é um dos fundadores, ao lado do seu irmão, Henrique Marino, ambos com experiência no mercado financeiro, e André Novelli, que tinha experiência na indústria petroquímica.
A LAR tem também uma planta que produz resinas recicladas para a Dow Química, em parceria com a Boomera, adquirida em 2021 pela Ambipar.
A atuação ponta-a-ponta permite que a LAR capture mais margens ao longo do processo do que as recicladoras tradicionais, aponta Wadih, da GEF. Em 2023, a expectativa é que a empresa tenha um Ebitda (lucro operacional, antes das despesas financeiras) de R$ 60 milhões.
O xadrez da consolidação
A ideia é que a LAR seja uma plataforma de consolidação de ativos no setor de reciclagem e gestão de resíduos, diz o gestor da GEF. O plano é comprar outras empresas tanto no setor de plásticos, ampliando a atuação para PET, por exemplo, quanto para criar outras verticais.
“O investimento primário [em que o dinheiro vai para o caixa da empresa e não para comprar a fatia dos sócios] foi para acelerar esse plano”, diz Wadih, sem citar valores. “É uma empresa que já vem crescendo 20% ao ano organicamente, vemos muito espaço para expansão.”
LAR e GEF Capital devem encontrar concorrência. Em agosto do ano passado, a EB Capital investiu R$ 200 milhões na Green PCR, focada em PET, com o plano declarado de criar a maior recicladora do país. Na época, disse que tinha mais quatro aquisições engatilhadas para os próximos 18 meses.
Na mesma época, a Braskem anunciou a compra de 61% da Wise Plásticos, que assim como a LAR, atua em PP e PEAD, por R$ 121 milhões. A petroquímica tem a meta de produzir 1 milhão de toneladas de plástico reciclado até 2030. Hoje, mesmo com a Wise, a ordem de grandeza não chega à casa da centena de milhares de toneladas.
Na mesma linha, a compra da Boomera pela Ambipar, em 2021, também foi um passo da empresa listada em bolsa para criar uma vertical de gestão de resíduos pós-consumo. Desde então, a companhia vem adquirindo uma série de empresas, desde recicladoras até especializadas em logística reversa.
Os planos da GEF
O investimento na LAR foi o terceiro do mais recente fundo da GEF para o Brasil, que tem como meta captar R$ 1,1 bilhão e deve concluir o closing final nas próximas semanas. Neste veículo, há duas empresas focadas em energia: a HCC, de energia solar, e a Automalógica, que usa tecnologia para melhor a eficiência do grid elétrico.
Agora com a aquisição da LAR para dar largada à tese de gestão de resíduos, outro foco para completar o portfólio deve ser no setor de agricultura sustentável.
“A mudança no uso da terra é um dos principais vetores de emissões de gases do Brasil e há muitas oportunidades nesse sentido dentro do agronegócio”, afirma Wadih.