Europa quer 'imposto de reciclagem' para roupas

Objetivo é responsabilizar o setor têxtil pelo ciclo de vida completo de seus produtos e incentivar iniciativas de circularidade

Europa quer 'imposto de reciclagem' para roupas
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A Comissão Europeia apresentou nesta quarta-feira uma proposta para fazer a indústria têxtil a pagar pelos custos da gestão de seus resíduos.

A ideia é que as empresas que comercializam roupas, sapatos e demais têxteis sejam responsabilizadas pelo ciclo de vida completa de seus produtos, replicando a experiência aplicada em setores como embalagens, baterias e equipamentos eletrônicos.

Com essa espécie de “imposto da economia circular”, a expectativa é que as companhias acelerem as iniciativas de coleta, reciclagem e reúso. 

Anualmente, 12,6 milhões de toneladas de resíduos têxteis são produzidos na União Europeia anualmente. Só um quinto desse total tem a destinação correta depois do descarte pelos consumidores. A maior parte acaba em aterros sanitários ou é incinerada.

A proposta foi apresentada pelo braço executivo da UE e precisa ser votada no Parlamento e no Conselho Europeu. Um dos alvos da medida são as grandes redes de fast fashion, como H&M e Zara.  

“Você não pode proibir as pessoas de comprar coisas novas se elas tiverem vontade e puderem pagar”, disse Virginijus Sinkevičius, comissário de meio ambiente da UE ao Financial Times.

Mas é necessário garantir que depois de descartadas as peças não sejam “incineradas ou mandadas para a África”, afirmou ele. 

Paralelamente, em dois anos entra em vigou outra regra da UE que vai cobrar de seus países-membros a implantação de sistemas de coleta específicos para resíduos têxteis a partir de 2025.

O texto diz que o valor cobrado das empresas será proporcional ao custo associado ao tratamento de cada material. O objetivo é incentivar a produção de peças mais sustentáveis, seja na escolha das matérias-primas ou nas possibilidades de reaproveitamento pós-consumo, por exemplo. 

Problema ambiental

As marcas de fast fashion e de ultra fast fashion, cujo maior exemplo é a chinesa Shein, têm sofrido críticas ao redor do mundo por promoverem, direta ou indiretamente, o consumo desenfreado e por não serem transparentes quanto às consequências sociais e ambientais de seus modelos de negócio.

Quando considerada toda a cadeia de produção, da plantação do algodão ao descarte, a indústria da moda é responsável por quase 10% das emissões de gases de efeito estufa no mundo – algo próximo ao setor de aviação, por exemplo. 

Só na Europa, espera-se que o consumo anual de roupas e sapatos passe dos 63 milhões de toneladas registrados em 2019 para 102 milhões de toneladas no fim da década, segundo informações da Agência Ambiental Europeia.

“A relação prejudicial que criamos com os têxteis polui nosso mundo. Ela exige o uso de grandes quantidades de água, faz mal à natureza e lança gases de efeito estufa na atmosfera”, afirmou Frans Timmermans, responsável pelas políticas de descarbonização do bloco. 

Em nota, o diretor geral da EuroCommerce, que representa o comércio varejista no bloco, Christel Delberghe, diz reconhecer a importância da circularidade e da redução do desperdício.

Um estudo realizado em parceria com a McKinsey estima que são necessários € 35 bilhões até 2030 para promover a circularidade no setor, destaca ele, complementados por subsídios e acompanhados por uma regulamentação “harmonizada”.