A Amazônia e o Cerrado, que ocupam os noticiários em grande parte devido ao aumento do desmatamento e das queimadas, estão em alta nas telas.
Os filmes sobre e das regiões vêm brilhando, inclusive, nos festivais no Brasil e no exterior.
Cineastas brasileiros e estrangeiros tentam apreender a cultura e a paisagem locais e as diversas ameaças aos biomas e povos originários, mostrando nos filmes uma versão mais atual dessas regiões.
Trazemos seis sugestões para maratonar nos streamings.
A Última Floresta (2021), de Luiz Bolognesi e Davi Kopenawa Yanomami
Em 2018, o diretor paulista fez Ex-Pajé, sobre Perpera Suruí, que abandonou seu posto como xamã por causa da pressão do pastor evangélico. É um belo filme, que ganhou uma menção especial do júri no Festival de Berlim, e também está disponível na Netflix. Mas, agora, o cineasta queria mostrar um indígena em posição de mais poder.
O documentário (foto) mostra a luta do xamã Davi Kopenawa Yanomami, autor de A Queda do Céu, em parceria com o etnólogo Bruce Albert, para manter vivas as tradições de seu povo, enquanto acontece a aproximação dos garimpeiros. Aqui, Bolognesi trabalhou junto com Davi Kopenawa Yanomami, que assina como co-diretor, para recriar mitos e cosmologias desse povo. O longa ganhou o prêmio do público da mostra Panorama do Festival de Berlim.
Onde assistir: Netflix*
Transamazônica – Uma Estrada para o Passado (2021), de Jorge Bodanzky
O cineasta viaja à Amazônia desde a década de 1970 – seu filme mais famoso é Iracema, Uma Transa Amazônica, em parceria com Orlando Senna, que já mostrava o impacto da rodovia na floresta e nos povos indígenas em 1974. E, em 2022, ele lançou Amazônia – A Nova Minamata?, que surgiu durante a filmagem de Transamazônica – Uma Estrada para o Passado.
Mais de 40 anos depois da inauguração da BR-230, ele voltou a fazer o percurso para expor as consequências de sua abertura, nesta série que deixa claro como ecoa até hoje a visão do governo militar de Emilio Garrastazu Médici de “integrar para não entregar” a floresta para estrangeiros e de “terra sem homens para homens sem terra” – basicamente um projeto de colonização, trazendo pessoas do Nordeste e do Sul para ocupar uma região vista como atrasada e improdutiva.
Os seis episódios abordam a história da área e suas diversas complexidades, da Guerrilha do Araguaia ao problema das obras faraônicas que incluem a Usina de Belo Monte, cujo contrato de concessão foi assinado em 2010, passando pela exploração de madeira, garimpo e pecuária e a invasão de territórios indígenas.
No centro de tudo está a concentração de terra na mão de poucos, que leva pequenos agricultores, incentivados então pelo governo federal e hoje por aquela mesma mentalidade, a migrar para a região.
Onde assistir: HBO Max*
Antes o Tempo Não Acabava (2016), de Sergio Andrade e Fábio Baldo
Em A Floresta de Jonathas (2012), Sergio Andrade fala de um jovem que mora em uma área rural, mas tem pouca vivência na mata – também disponível no Prime Video. Neste novo filme, em parceria com Fábio Baldo, o cineasta amazonense conta a história de Anderson (Anderson Tikuna).
Ele é um jovem indígena que deixou sua aldeia para morar na periferia de Manaus, onde trabalha em uma fábrica de eletrônicos. Anderson se vê dividido entre as tradições de seu povo, que incluem dolorosos ritos de passagem e de afirmação da masculinidade, e sua vida na cidade e descoberta da sexualidade. Antes o Tempo Não Acabava foge dos estereótipos ao falar de indígenas no contexto urbano e tratar abertamente de uma pauta LGBTQIA+ nesse universo.
Onde assistir: Prime Video*
A Febre (2019), de Maya Da-Rin
Regis Myrupu tornou-se o primeiro indígena a ganhar o prêmio de melhor ator nos festivais de Locarno e Brasília, por sua interpretação de Justino, um indígena do povo desana que migrou para a periferia de Manaus.
Ele trabalha como vigia no terminal de cargas do porto, enquanto sua filha Vanessa (Rosa Peixoto) é técnica de enfermagem. Quando ela é aprovada no vestibular de medicina em Brasília, Justino começa a sofrer de uma febre misteriosa. A carioca Maya Da-Rin mostra a melancolia de Justino, motivada pela distância de sua identidade, que está diretamente relacionada à convivência em comunidade e ao contato com a natureza.
Onde assistir: Netflix*
Piripkura (2017), de Bruno Jorge, Mariana Oliva e Renata Terra
Antes de dirigir A Invenção do Outro, Bruno Jorge fez este documentário em parceria com Mariana Oliva e Renata Terra. Nele, Jorge acompanha as expedições do indigenista Jair Candor para procurar os dois únicos sobreviventes conhecidos do povo piripkura em seu território, no norte do Mato Grosso.
A primeira incursão na mata tem como guia Rita Piripkura, que deixou a terra onde moram hoje seu irmão e sobrinho. Pakyî e Tamandua vivem isolados, acuados pelo avanço de grileiros, posseiros, pecuaristas e madeireiros. Candor precisa encontrá-los como prova de que a terra continua habitada. O último encontro se deu cinco anos antes da filmagem.
A causa dos piripkura é urgente – só em 2020 e 2021, houve um aumento de 27.000% no desmatamento de sua terra indígena, segundo o Instituto Socioambiental, em comparação aos dois anos anteriores.
Onde assistir: Prime Video*
Madalena (2021), de Madiano Marcheti
As máquinas usadas no cultivo da soja parecem naves espaciais ameaçadoras em certas cenas do longa-metragem de estreia do cineasta mato-grossense, filmado em Dourados (MS). A Madalena do título é uma personagem ausente: uma mulher trans assassinada, que assombra as plantações a perder de vista, ocupando o que antes era Cerrado e Mata Atlântica, hoje restrita a um pequeno oásis.
Os personagens traçam um panorama da cultura, da economia e da paisagem da região: Luziane trabalha como hostess em uma boate, Cristiano é filho de fazendeiro, e Bianca e seu grupo são travestis que lamentam o desaparecimento de mais uma amiga, no país que mais assassina pessoas trans no mundo.
Onde assistir: Netflix*
*sujeito a alteração na disponibilidade