DIVERSIDADE

Lula anuncia projeto de lei para igualdade salarial entre gêneros

Multa para quem descumprir a lei deve se equiparar a 10 vezes o maior salário pago na empresa; PL vai ao Congresso

O presidente Luís Inácio Lula da Silva anuncia projeto para garantir salários iguais para as mulheres

Um pacote de medidas pelos direitos das mulheres foi apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste 8 de março. O destaque ficou com o projeto de lei que determina a igualdade salarial entre homens e mulheres. 

A Casa Civil ainda não divulgou detalhes do projeto. A jornalistas, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que empresas com mais de 20 funcionários que não cumprirem a lei terão uma penalidade equivalente a dez vezes o salário mais alto pago pela companhia. 

O texto será encaminhado ao Congresso Nacional.

A bandeira foi levantada por Tebet durante a corrida presidencial e foi uma das condições para que ela apoiasse o petista no segundo turno. É também sua pasta que deve ficar responsável pela fiscalização da lei. 

“Quando aceitamos que a mulher ganhe menos que o homem no exercício da mesma função, nós estamos perpetuando uma violência histórica contra as mulheres. Quando negamos às mães solo o direito de criar os seus filhos com dignidade e segurança, nós estamos normalizando uma violência contra as mulheres”, disse Lula, em discurso no Palácio do Planalto. 

A cerimônia contou com a presença de ministras de Estado, da primeira-dama, Janja Lula da Silva, da ex-presidente Dilma Rousseff e das presidentes da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. 

“Com certeza esse projeto de lei representa um avanço. Embora já tenhamos na nossa Constituição Federal a previsão de que ninguém sofrerá preconceito de raça e gênero, sabemos que ele ainda existe e que é algo recorrente aí nas empresas brasileiras”, diz  Angela Donaggio, consultora de ESG, diversidade e ética há 20 anos e fundadora da Virtuous Company. 

Donaggio lembra que o salário não é o único meio de discriminação contra mulheres no ambiente de trabalho. “O salário é a base, o mínimo, mas ainda estamos arranhando a superfície. Há discriminações no dia-a-dia em relação a liderança de projetos, posições, status…”.

Ricardo Sales, CEO e sócio-fundador da Mais Diversidade e colunista do Reset,  também diz que a medida é bem vinda. “O projeto vem em boa hora, considerando que mulheres recebem, em média, 23% a menos que os homens. No caso das negras, a diferença chega a 40% quando se comparam as mesmas funções.”

Enquanto o projeto transita no Congresso, as companhias têm a chance de se preparar, afirma Sales. “As empresas agora não terão como escapar de um trabalho inevitável, que é identificar essas assimetrias, compreender as razões por trás delas e, mais importante, providenciar as correções.”

Além da questão salarial, o pacote anunciado também contempla questões como dignidade menstrual para mulheres de baixa renda, segurança, investimento em formação e construção de creches.

Desigualdade ao redor do globo

Assim como 8 de março é dia internacional da mulher, a desigualdade e descriminação também não são contidas por fronteiras. 

Em boa parte dos países ricos, inclusive os que aprovaram leis específicas para impedir a disparidade salarial de gênero, as mulheres seguem recebendo menos.

Segundo dados de 2021, a diferença média entre os salários de mulheres e homens na União Europeia é de 12,7%, um percentual que mudou “minimamente” na última década.

A situação é parecida nos Estados Unidos. O pagamento por hora das mulheres corresponde a 82% do dos homens, segundo análise do Pew Research Center. Há 20 anos, elas recebiam 80% do que se paga aos homens.

No Reino Unido, a primeira legislação nesse sentido foi aprovada em 1970. O Equality Act 2010 consolidou as regras salariais com outras leis antidiscriminação de gênero, raça e religiosas, entre outras.

Mesmo depois de tantos anos, o progresso foi lento. Em 2020, o governo britânico determinou que todas as empresas com 250 funcionários ou mais divulgassem a diferença salarial entre homens e mulheres.

Os dados mostraram que três quartos das companhias britânicas pagavam salários mais baixos para as mulheres. Em 9 de 17 setores da economia a média salarial dos homens era pelo menos 10% superior.

Transparência é uma das maneiras de combater esse aspecto da desigualdade, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

“Não existe uma solução única, e ainda estamos engatinhando em relação à transparência salarial”, afirmou em comunicado Manuela Tomei, diretora de condições de trabalho da OIT. 

“Precisamos de mais tempo para avaliar a eficácia das diferentes medidas, mas esse tipo de solução inovadora é uma das maneiras de atacar esse problema.”