Criticada por tratamento a entregadores, Deliveroo afunda na estreia na Bolsa de Londres

Num alerta para negócios da gig economy, app de entregas que tem a Amazon como acionista afundou mais de 30% nos primeiros minutos da estreia

Criticada por tratamento a entregadores, Deliveroo afunda na estreia na Bolsa de Londres
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No maior IPOs do ano na Bolsa de Londres, as ações da empresa de entregas Deliveroo afundaram mais de 30% nos primeiros minutos de sua estreia hoje, acionando o circuit breaker.

Mesmo tendo como pano de fundo a queda do setor de tecnologia de forma mais ampla, o colapso acende um sinal de alerta para modelos de negócios da chamada ‘gig economy’.

As práticas trabalhistas da Deliveroo foram amplamente criticadas antes da listagem e há muita preocupação por parte dos investidores sobre o impacto que uma regulação trabalhista para o setor teria sobre as margens apertadas do negócio.

Apesar do grande apetite dos investidores por papéis de empresas que aceleraram na pandemia, como o segmento de delivery, grandes fundos ingleses, como Aberdeen e Aviva chegaram a vocalizar que não comprariam os papéis porque o tratamento dado aos entregadores não se alinha às práticas de investimento responsável. 

“Queremos investir em negócios que não sejam apenas lucrativos, mas sustentáveis”, disse o chefe de ações da Aberdeen no Reino Unido, Andrew Millington, antes do IPO. “Os direitos e o envolvimento dos funcionários são uma parte importante disso.”

Os entregadores prometem fazer paralisações na próxima semana, reivindicando melhores condições de trabalho e pagamento — alguns deles alegam que ganham menos do que um salário mínimo por mês. Desde o ano passado, entregadores brasileiros também fizeram paralisações pelos mesmos motivos.

“Vemos este IPO como uma oportunidade de realmente exigir que precisamos de direitos ou do respeito desta empresa”, disse o entregador da Deliveroo, Ethan Bradley, à Bloomberg. O app tem mais de 100 mil entregadores atualmente.

E não é só uma questão de bom-mocismo por parte dos investidores.

Conforme cresce a pressão sobre os apps como o Deliveroo por mais direitos e melhor remuneração dos trabalhadores, investidores questionam se o modelo de negócio se sustentaria sem a precarização do trabalho.

“Se for forçada a oferecer benefícios mais tradicionais aos funcionários, como contribuições previdenciárias, as margens já estreitas da Deliveroo terão dificuldade em subir, e o caminho para a lucratividade parecerá muito difícil”, disse Sophie Lund-Yates, analista de ações da Hargreaves-Lansdown, à CNN Business.

No prospecto da oferta, a Deliveroo disse que seu negócio “seria adversamente afetado se nosso modelo de entregadores ou abordagem ao status de entregadores e as nossas práticas operacionais fossem contestadas com sucesso ou se mudanças na lei exigirem que reclassifiquemos nossos entregadores como funcionários”.

Janela ruim

Dificilmente o desempenho sofrível pode ser atribuído a esse único fator. A janela para listagem de empresas de tecnologia não poderia ser pior, com papéis perdendo valor nas bolsas do mundo todo nos últimos dias.

Além disso, os investidores passaram a questionar se os negócios que aceleraram na pandemia manterão o mesmo fôlego com a reabertura da economia nos países em que a vacinação já está avançada. É o caso dos aplicativos de delivery de alimentos com a reabertura dos restaurantes.

No caso específico da Deliveroo, também pesaram o fato de a companhia ainda não ser lucrativa e a sua estrutura de governança. 

Com duas classes de ações, o fundador Will Shu manterá o controle do negócio pelos próximos três anos. Embora bem aceita no mercado americano, a estrutura atraiu críticas entre os investidores britânicos; e com direitos restritos para os minoritários, a empresa não poderá integrar o índice FTSE100, por exemplo, o que exclui o papel de estratégias passivas.

O fracasso na estreia é também um revés para a City londrina, que vem tentando manter sua relevância e evitar que muitas companhias fujam para as bolsas americanas no pós-Brexit.

Já numa antecipação do que viria hoje, a empresa teve que rever a faixa indicativa de preços do IPO para baixo e acabou por fixar o valor dos papéis no piso. A oferta totalizou US$ 2,1 bilhões, a maior desde setembro. A maior parte da oferta foi primária, para financiar o plano de expansão, mas Shu e Amazon também foram vendedores. A companhia foi avaliada em US$ 10,5 bilhões antes de derreter na estreia.