
Cerca de 706 mil toneladas de emissões de gás carbônico foram evitadas por meio do programa de logística reversa Mãos Pro Futuro, em 2024. Desde 2013, foram 4,5 milhões de toneladas. Um dos programas de logística reversa pioneiros no país, ele já recuperou e destinou corretamente à reciclagem mais de um milhão de toneladas de embalagens pós consumo.
O Mãos pro Futuro existe desde 2006, mas em 2024 foram calculadas pela primeira vez as emissões de carbono que ele evitou, na última década. Foi usada uma metodologia com parâmetros do GHG Protocol e ISO 14067:2018 , que abrange GEE, pegada de carbono nos produtos e requisitos e diretrizes para quantificação das emissões.
O cálculo foi realizado pela consultoria de mudanças climáticas GSS Carbon, e se baseou no que cada produto emite durante seu ciclo. Pense em uma garrafinha plástica de água, feita com PET.
Para ser produzida, ela requer extração de matéria prima (petróleo ou gás natural), refinamento, produção de polímeros, moldagens, resfriamentos, envase e distribuição. Para cada quilo desse tipo de embalagem, cerca de 3,5 quilos de gás carbônico (CO2) entram na atmosfera.
Já uma garrafa feita a partir de PET reciclado, conhecido como rPET, passa por um sistema que inclui coleta, triagem, lavagem e processamento mecânico ou químico para sua reutilização. Todas essas etapas emitem, em média, 0,5 quilo de CO2 para cada quilo de embalagem – uma quantidade muito mais baixa do que manufaturá-las do zero.
Quando se trata de metais, a diferença é ainda maior: para cada quilo produzido pela primeira vez são emitidos 19,6 quilos de CO2, diante de 0,2 quilo do produto reciclado. O trabalho dos catadores e demais trabalhadores da economia circular que recolhem latinhas, por exemplo, evita que 19,4 quilos de CO2 sejam despejados na atmosfera a cada quilo coletado.
“A logística reversa é uma das principais ferramentas para conectar economia circular e agenda climática”, diz Paulo Zanardi, sócio da GSS Carbon. O Acordo de Paris, selado durante a COP21, em 2015, apontou a necessidade de limitar o aumento das temperaturas globais em até 2°C.
Impactos além de ambientais
Zanardi lembra que os impactos do Mãos Pro Futuro não são apenas ambientais. “O projeto não demonstra só redução de emissões, mas também fortalece a inclusão social e geração de renda, faz uma conexão forte entre clima, resíduos e geração de renda”, diz.
Ao calcular as emissões evitadas, o Mãos Pro Futuro consegue viabilizar uma de suas metas futuras: transformá-las em um ativo. Elas podem ser transformadas em créditos de carbono, que, por sua vez, serão comercializados no mercado voluntário. “Isso gera mais valor para o projeto, as empresas aderentes e as cooperativas parceiras”, diz Fábio Brasiliano, diretor de desenvolvimento sustentável da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), criadora do programa.
O programa Mãos Pro Futuro tem hoje parceria com mais de 200 organizações de catadores, que reúnem 6 mil profissionais – 56% deles, mulheres. Para garantir condições de trabalho mais dignas, a iniciativa mediu também o impacto das mudanças climáticas no cotidiano desses trabalhadores.
No Brasil, os eventos extremos mais comuns são ondas de calor e chuvas torrenciais. Para saber como elas afetam os profissionais da economia circular, o programa fechou uma parceria com a Wiego, organização de apoio a mulheres em vagas de trabalho informais, que esse ano passou a monitorar 16 cooperativas ligadas ao projeto, localizadas em seis capitais.
“Tanto prefeituras quanto indústrias devem fazer um investimento em sensibilização climática. Os catadores precisam entender o que são as mudanças climáticas e precisam desenvolver estratégias para lidar com as consequências, inclusive para a saúde”, diz Sônia Dias, especialista em resíduos da Wiego.
A Wiego elaborou um questionário para avaliar a condição base das instalações e condições do trabalho. A cada evento classificado como extremo que atinge a localidade delas, a organização entra em contato para avaliar quais foram os impactos na infraestrutura do local.
“A parceria entre a abordagem estruturante do Mãos Pro Futuro e a experiência da Wiego com arranjos de trabalho informal e economia solidária é pioneira no mundo. Ela contribui para a avaliação e enfrentamento dos eventos climáticos extremos no Brasil, diretamente com um dos públicos mais afetados por estes eventos: as organizações de catadores de materiais recicláveis”, diz Brasiliano.
Presente em 174 municípios do país, o Mãos Pro Futuro inclui, além da ABIHPEC, outros quatro setores, a Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados), a ABIPLA (Associação Brasileira de Produtos de Limpeza e Afins), a Abrafati (Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas) e a Abióptica (Associação Brasileira das Indústrias Ópticas). Juntas, elas representam cerca de 200 empresas aderentes, entre elas grandes companhias como Natura, Grupo Boticário, P&G, Unilever, Bombril, Bauducco, M. Dias Branco, Mondelez, Wickbold, Akzo Nobel e Sherwin-Williams.
Este mês, durante a COP30, em Belém, o programa participou na debates na Blue e na Green Zone e fora do pavilhão oficial da conferência. É a terceira COP na qual o Mãos Pro Futuro está presente e é pauta de painéis diversos, destacando seus resultados expressivos e a conexão entre economia circular e descarbonização.
Conheça mais resultados do Mãos Pro Futuro no relatório anual 2024 do programa.