Grupo Boticário fortalece governança e planejamento da agenda ESG

Gerir os resíduos sólidos gerados por sua cadeia produtiva. Zerar o balanço hídrico de água. Assegurar a rastreabilidade dos fornecedores de matérias-primas críticas. Ter ao menos 25% de lideranças corporativas negras. Estes são alguns dos compromissos que o Grupo Boticário se comprometeu, há dois anos, a cumprir até 2030. 

Com essa lista de objetivos ambiciosos em mãos e pouco tempo pela frente, o Grupo decidiu, em 2022, focar esforços em estruturar a governança e em evoluir a discussão sobre as metas voltadas exclusivamente para a agenda ESG. 

A ideia é que essa agenda seja cada vez mais transversal e possa permear toda tomada de decisão do grupo.

“Um passo importante dado em 2022 foi fortalecer ainda mais a nossa governança ESG com uma estrutura dedicada ao tema na vice-presidência”, explica Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário. 

Modé conta ainda que o ano foi marcado pela reestruturação do Comitê ESG, do qual participa a alta liderança, que passou a ser presidido por uma conselheira independente.

“É preciso fazer do ESG um modelo mental e considerar profundamente as relações de causalidade entre ação, resultado e impacto”, diz Carolina Costa, líder do Comitê ESG do Grupo Boticário. 

Para aprimorar o planejamento e a performance das ações ESG, o Grupo Boticário implementou na agenda a metodologia OKR, sigla para objective key results, que, como o nome diz, se baseia em metas e métricas de resultado e já era aplicada na gestão estratégica do grupo. 

OKRs

“Hoje debatemos ESG com o mesmo modelo de planejamento das demais áreas de negócios”, diz Luis Meyer, diretor de ESG. 

A liderança da empresa participa de reuniões mensais para estabelecer resultados-chave conectados a objetivos estratégicos dessa agenda. Em seguida, esses indicadores são comunicados às demais áreas. 

“A diretoria de ESG funciona como um farol, direciona e dá o ritmo, mas as próprias áreas lideram suas iniciativas e depois as reportam para nós.”

O resultado desta governança de ESG pode ser conferido no novo Relatório ESG. Empresa de capital fechado, mas sempre em busca de transparência, o Grupo Boticário optou por usar o padrão GRI (Global Reporting Initiative).

O documento lista os compromissos firmados pelo grupo em 2021 – divididos em três grandes áreas: ambiental, diversidade e social –, e os avanços atingidos em cada um deles no ano passado.       

Logística reversa

Na questão ambiental, um dos maiores desafios do Boticário, segundo Meyer, são os resíduos sólidos gerados por toda a cadeia. É preciso não só reciclar como reutilizar materiais e reduzir a quantidade de resíduo gerada.

A meta, até 2030, é mapear e dar o destino correto para o equivalente a 150% deste material – ou seja, inclui também reciclar o que é produzido por outras empresas da cadeia de operação. 

“Avançamos de 32% de resíduos solucionados em 2021 para 37% em 2022”, diz o executivo. 

Seguir aumentando o percentual de reciclagem junto com o aumento da produção é um desafio. “Para uma empresa do tamanho do Grupo Boticário, com seu ritmo de crescimento, é uma operação extremamente complexa”, afirma Meyer. 

Uma das iniciativas essenciais para que esse objetivo seja atingido é a Polos de Vidro. 

O projeto recolhe, centraliza e separa o vidro em um container preparado para armazenar o material. Em seguida, o resíduo é enviado para a beneficiadora e fornecedora de embalagens para ser reciclado e reinserido na cadeia de produção. 

O primeiro polo foi implementado em 2021, em parceria com a startup Green Mining, como um piloto. No ano passado, o grupo colocou mais um em atividade, desta vez também em conjunto com a empresa Ibema. A meta é chegar a nove polos até 2030.

“O vidro é o principal insumo da principal categoria do nosso negócio. Não podemos depender apenas da logística reversa”, conta Meyer. 

O vidro é um material ainda pouco atraente para as cooperativas de reciclagem. Com os Polos de Vidro, o Grupo Boticário quer proporcionar melhores condições de comercialização dos materiais e conseguir, em sete anos, reciclar 15% de todo o volume de vidro utilizado. 

O Boti Recicla é outra iniciativa de destino dos resíduos e envolve as mais de 4 mil lojas do grupo. 

“O consumidor pode devolver para reciclagem não apenas nossas embalagens, como as de qualquer produto de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria de qualquer marca.”  

Na troca de três embalagens vazias, o consumidor recebe R$15 de desconto nas compras acima de R$150. Este programa está conectado a outras áreas do grupo, como Pesquisa e Desenvolvimento e Marketing de Produtos.

Reciclar é importante, mas o objetivo é gerar cada vez menos resíduos em produtos críticos. “Cerca de 64% dos novos produtos que lançamos em 2022 tinham algum atributo de sustentabilidade, e 73% de diversidade e inclusão”, diz o diretor. 

Novos produtos

Para medir o impacto de seus produtos e conectá-los à área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o grupo criou o Score ESG. 

Esse score é uma metodologia que avalia um produto de acordo com sete indicadores que se desdobram em 23 atributos, cada um com um peso específico. 

A solução de resíduos é o atributo com o maior peso na nota. Os indicadores se apoiam no impacto ambiental, social e econômico do item. 

Meyer explica como funciona na prática. Além do grupo pensar na rentabilidade e aderência com o consumidor — praxe no mercado — agora coloca-se um terceiro fator na equação, o ESG. O fator tem ganhado mais relevância na decisão sobre o desenvolvimento e lançamento de novos produtos.

“Vou lançar esse produto aqui, com essa matéria-prima, esses materiais na embalagem, esse custo e com essa nota 7,5 no Score ESG? Ou vou lançar esse outro que tem nota 9,5?” 

Ele conta que a metodologia dá muito trabalho para os times de pesquisa e desenvolvimento porque há mais critérios a serem analisados. 

Por enquanto, o score tem sido usado somente para os produtos de perfumaria, mas deve alcançar outras categorias. 

Biodiversidade estratégica

Com a premissa de que o esgotamento de recursos essenciais é um risco não só à vida, mas à continuidade do seu negócio, o grupo vem atuando em duas frentes complementares na questão da biodiversidade. 

Na conservação direta, por meio da Fundação Grupo Boticário, que mantém duas reservas: uma no bioma da Mata Atlântica, no Paraná, e outra no Cerrado, em Goiás. São 11 mil hectares preservados, área equivalente a 70 vezes o Parque do Ibirapuera, na capital paulista.

A outra frente se dá na pesquisa e desenvolvimento. Em 2022, a empresa inaugurou o Centro de Pesquisa e Inovação na fábrica de São José dos Pinhais (PR), composto pelo Quintana Lab e pelo Quintana Herbal. 

O objetivo do centro é mapear novos ingredientes e novas aplicações naturais da biodiversidade, priorizar insumos da biodiversidade em substituição a materiais já utilizados e mapear tecnologias e processos baseados em química verde, economia circular e resíduo mínimo. 

“Sabemos que é preciso se antecipar a tendências futuras de consumo. Queremos entender como utilizar esses insumos com respeito, simulando o cultivo de alguns deles em laboratório”, explica Meyer. 

Diversidade e equidade na liderança

A busca por mais diversidade no quadro de colaboradores está entre as prioridades da agenda ESG atual do grupo. 

Hoje, são 40% de mulheres em cargos de liderança (meta de 50% para 2025), 45% de colaboradores negros (meta de 50% ao fim deste ano) e 25% deles em liderança – a meta para 2023 foi atingida no ano passado. 

Franqueados e demais parceiros de negócios também estão contemplados na agenda ESG, por meio do Instrumento de Aceleração do Futuro (IAF), programa que avalia e gerencia a rede, engajando e reconhecendo boas práticas. 

O pilar ESG também tem peso de 20% na nota final de um programa semelhante voltado para o desenvolvimento de parceiros da empresa, e considera dez indicadores ligados à diversidade, logística reversa, governança e gestão. A avaliação do PADP é anual e os melhores desempenhos são premiados.  

“Não faz sentido o grupo evoluir numa agenda tão séria, de tanta consistência construída ao longo de anos, se não trouxermos nossos parceiros junto. Todos os elos têm de ter o mesmo olhar, construir coletivamente”, diz Meyer.