
A crise climática deixou de ser uma projeção distante e já produz efeitos concretos na economia global. No Brasil, os sinais são claros: secas prolongadas, enchentes severas, rupturas em cadeias produtivas e riscos crescentes à segurança hídrica.
Esse cenário exige respostas rápidas e estruturadas. O financiamento climático surge, portanto, não apenas como uma necessidade, mas como um vetor estratégico para o desenvolvimento sustentável. Mais do que um desafio, essa é uma agenda de oportunidades.
Estudos indicam que, sem ação, o Brasil pode perder até 18% do PIB até 2050. Ao mesmo tempo, somos um dos países com maior potencial para liderar a transição verde: matriz elétrica majoritariamente limpa, biodiversidade única e um agronegócio com capacidade regenerativa. O que falta? Escala, capital e projetos robustos.
Avanços na COP30
A COP30 consolidou o financiamento climático como um dos eixos centrais da transição energética e da adaptação global. O Mapa do Caminho de Baku a Belém estabeleceu a meta de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para acelerar a transformação nos países em desenvolvimento. Entre as propostas, destacam-se mecanismos inovadores de taxação e a ampliação do papel dos bancos multilaterais e dos fundos climáticos.
A conferência também foi marcada pela presença expressiva do setor privado, sinalizando que a era da implementação começou e veio para ficar. Entre os avanços, destacam-se a aprovação de 59 indicadores globais para monitorar políticas de adaptação e a meta ambiciosa de triplicar os recursos destinados à adaptação, com países desenvolvidos ampliando o apoio financeiro aos mais vulneráveis a partir de 2035.
O financiamento virou ação concreta: o TFFF mobilizou US$ 6,5 bilhões para a conservação de florestas, reforçando o papel essencial dos ecossistemas naturais. Paralelamente, os combustíveis sustentáveis ganharam protagonismo, e o primeiro Asset Owner Summit reuniu investidores que administram US$ 10 trilhões em ativos para discutir como canalizar capital e acelerar a transição.
Outro marco da conferência foi a criação de uma coalizão para integrar voluntariamente mercados regulados de carbono, já com 17 países aderentes, avançando na definição de governança e cronograma. Esses movimentos, somados às novidades na estrutura dos mercados de carbono, confirmam: a transição climática não é mais promessa, é realidade em construção.
O legado desta COP envia um sinal relevante ao setor financeiro e para países em desenvolvimento. No caso brasileiro, é a combinação dessas diretrizes globais com políticas públicas consistentes e o engajamento do setor privado que pode destravar oportunidades e dar escala à transição.
Fundo Clima e Eco Invest
Vale destacar o papel do setor financeiro, uma vez que nenhuma transição estrutural acontece sem capital. No Bradesco, essa agenda já é realidade: somos um dos maiores repassadores do Fundo Clima, direcionamos R$ 350 bilhões para negócios sustentáveis desde 2021 e avançamos em instrumentos como títulos sustentáveis, estruturas de blended finance e soluções cambiais inovadoras, como o Eco Invest.Financiamento climático: oportunidades para o Brasil
Além disso, investimos em metodologias de mensuração das emissões financiadas e ampliamos nossa atuação em setores estratégicos como energia renovável, agricultura de baixo carbono e infraestrutura resiliente.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios relevantes. É necessário ampliar a infraestrutura sustentável, garantir maior previsibilidade regulatória e continuar desenvolvendo instrumentos financeiros capazes de atrair capital de longo prazo.
O fortalecimento da geração de dados confiáveis e da capacitação técnica, tanto no setor público quanto no privado, também é essencial para estruturar projetos robustos e assegurar a aplicação eficiente dos recursos.
Esses desafios são, na verdade, oportunidades para articular esforços entre governo, empresas e sociedade civil, criando um ambiente mais favorável à mobilização de recursos e à implementação de soluções sustentáveis.
A transição climática não é apenas um imperativo ambiental, é um projeto de desenvolvimento nacional. O financiamento climático é o motor dessa transformação. Cabe ao setor financeiro continuar assumindo protagonismo, articulando capital, estratégia e compromisso com um futuro mais sustentável, resiliente e de baixo carbono.
Estamos diante de uma oportunidade histórica. O progresso dependerá da colaboração entre setores, visão de longo prazo e, sobretudo, da coragem de agir agora. Que possamos juntos transformar essa oportunidade em realidade.
* Fabiana Costa é head de sustentabilidade do Bradesco