Há pouco mais de uma década falar em investimentos ambiental e social responsáveis que valorizassem a boa governança corporativa (ESG, na sigla em inglês) significava ser visto como um pássaro exótico muito bem intencionado, mas ainda longe dos holofotes do mercado financeiro. Isso mudou à medida que o discurso ganhou visibilidade e grandes gestoras transformaram esses princípios em teses de investimentos.
Durante o começo dos anos 2020, era ESG para tudo que é lado. Mas, nos últimos tempos, o interesse pela sigla deu sinais de enfraquecimento e há quem diga que ela até mesmo já morreu. No entanto, o que se percebe no discurso dos investidores e gestores é um interesse crescente por aspectos pragmáticos desse universo e como eles impactaram as teses desenvolvidas, o que gera um impacto direto na performance de seus investimentos.
Sai a característica virtuosa e um tanto etérea das três letras, que apontam para a responsabilidade dos financiadores com a transição para uma economia mais justa e sustentável, e entram questões mais objetivas, apontando para os riscos climáticos e como enfrentá-los.
“Os investidores estão mais pragmáticos em relação a sigla e os impactos dela nos recursos investidos. Depois do desastre no Rio Grande do Sul e do perceptível aumento das temperaturas globais, a questão é quais empresas estão preparadas para esses eventos e quais não estão”, diz Marcella Ungaretti, head de Research ESG na XP.
Os impactos do clima nos negócios e nos investimentos é um dos temas da agenda ESG que serão discutidos na Expert XP, maior festival de investimentos do mundo, que acontece nos dias 30 e 31 de agosto, em São Paulo.
Na hora de decidir onde aplicar, os investidores querem saber a quais riscos socioambientais as companhias estão expostas e qual o plano delas para reagir aos piores cenários. Isso passa por situações agudas e calamitosas como a tragédia gaúcha, nas quais as empresas precisam estar prontas para pausar atividades, terceirizar a produção, reconstruir fábricas, acolher colaboradores atingidos, entre outras medidas. Já as companhias seguradoras enfrentam possibilidades de sinistros nunca antes vistos, que não se encaixam nos cálculos de risco feitos até agora.
As mudanças climáticas já estão deixando claro os impactos financeiros que irão trazer para os negócios e o investidor estará cada vez mais atento a isso. Além de se preparar para os piores cenários, as empresas precisam perceber como o clima está afetando o dia a dia de suas operações, assim como sua oferta de produtos e serviços.
Entre as companhias de vestuário, por exemplo, aquelas que fizeram coleções de inverno com tecidos e modelos menos quentes, em resposta às alterações de temperatura, demonstraram ser mais adaptáveis. “É uma demonstração muito simples de como a questão ambiental passou a fazer parte do cotidiano das empresas, e os investidores querem saber se elas se deram conta disso”, diz Ungaretti.
Outro tema dentro do universo ESG que tem despertado o interesse de gestores e que terá um painel dedicado na Expert XP são os créditos de carbono. Esse instrumento financeiro permite que empresas que capturam mais carbono do que emitem vendam esse excedente para aquelas que não conseguem zerar suas emissões.
Contudo, há dúvidas quanto a real eficácia dessa ferramenta para diminuir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Mais do que compensar emissões, é preciso que as empresas tracem jornadas factíveis de descarbonização, alinhadas à ciência, e sigam à risca esse plano.
O Brasil está caminhando para ter um mercado regulado de créditos de carbono. “Enquanto isso não acontece, temos visto as empresas buscarem formas de vender e comprar créditos de carbono por aqui, é um tema importante para debate,” diz Ungaretti.
Mais um exemplo da tangibilidade do tema ambiental nos negócios tem sido o investimento de montadoras chinesas no Brasil, que se intensificou nos últimos anos. Isso evidenciou aos brasileiros que existe capital voltado à área de mobilidade. “Algumas montadoras têm apostado na eletrificação, outras nos híbridos de combustíveis renováveis e essas alternativas são sempre um assunto”, comenta a executiva.
Além dos debates sobre mudanças climáticas e investimentos, a Expert XP contará com painéis sobre diversidade de gênero nas finanças. Ungaretti diz que, para escolher os assuntos do evento, o time da XP se baseou no que observa no dia a dia em conversas com empresas e investidores.
“A agenda ESG é diversa e amadureceu de forma acelerada nos últimos anos, mas ainda há uma série de desafios no horizonte. É fundamental identificar o ponto em que estamos e quais as principais oportunidades, em sintonia com os setores público e privado, para que esta evolução ganhe ainda mais tração, com efeitos potenciais positivos para toda a sociedade”, afirma.
Confira alguns dos painéis com a temática ESG na Expert XP 2024:
- Clima e seus impactos (crescentes) nos mercados | Ana Luci Grizzi (Ernest Young) + Viviane Romeiro (CEBDS) + Aníbal Wadih (GEF Capital) + Luiza Aguiar (XP) + Rodrigo Favetta (Pacto Global Brasil) | Dia 30/8, às 14h30 // Pop-up Expert Talks
- Recuperando a credibilidade do mercado de carbono | Janaína Dallan (Carbonext) + Paulo Laguardia (Orizon) + Annie Groth (Verra Brazil) + Marcella Ungaretti (M – XP) | Dia 31/8, às 14h30 // Pop-up Onde Investir
- Elas em alta: a ascensão das mulheres no mercado de Day Trade | Juliana Requena + Aryane Oliveira + Mari Damaceno + Pam Semezzato (Mediadora, da XP) | Dia 31/8, às 12h40 // Arena Trader
- O papel da eletrificação na transição energética | Alexandre Baldy (BYD) + João Irineu Medeiros (External Stellantis) + Luciana Costa (BNDES) + Marcella Ungaretti (M – XP) | Dia 30/08, às 14h30
- Brasil e finanças climáticas: O papel da regulação | Nathalie Vidual (CVM) + Fabio Cruz (XP) + Ricardo Harris (BACEN) + Jessica Bastos (SUSEP) | Dia 30/08, às 15h20
- Ideias Plurais: Diversidade Fortalecendo Negócios | Andreza Maia (Futuros Possíveis) + Margareth Goldenberg (Mulher 360) + Amanda Lyra (Vale PcD) + Milca da Silva (XP – M) | Dia 31/08, às 12h40
