
A COP 30 promete ir além de uma conferência climática tradicional. Ao trazer os holofotes do mundo todo para Belém, no coração da Amazônia, o evento posiciona o Brasil como peça-chave na agenda de ações e negociações ambientais e evidencia um momento decisivo: o país, com sua vasta biodiversidade e florestas tropicais, tem a oportunidade de assumir um papel de protagonismo na construção de uma nova economia sustentável global.
Nos últimos anos, a sustentabilidade e o conceito ESG dominaram o discurso empresarial, prometendo transformar a forma como as corporações operam e impactam o mundo. No entanto, quando a balança financeira se desequilibra, a fragilidade de muitos compromissos fica evidente: ESG, para diversas empresas, ainda é uma estratégia de momento, não uma mudança estrutural ou algo que realmente represente geração de valor.
É necessário entender que o desenvolvimento sustentável não é mais um custo, mas uma necessidade para a perenidade dos negócios e da sociedade a longo prazo. A transição para uma economia regenerativa e de baixo carbono vai além de compromissos ambientais, sociais e econômicos.
ESG não é modismo, mas um modelo de negócios. Empresas que integram práticas sustentáveis aos seus modelos operacionais apresentam melhor desempenho financeiro, maior resiliência em crises e crescente atratividade para investidores.
Estudos da McKinsey indicam que negócios alinhados a essa agenda apresentam valuation superior e menor risco operacional. Já o World Economic Forum projeta que a transição verde pode criar US$ 10 trilhões em novas oportunidades, até 2030.
Mas transformar essa vantagem natural em modelo econômico exige ação coordenada. O Brasil tem diferenciais estratégicos que podem colocá-lo na vanguarda desse movimento global. A bioeconomia, por exemplo, pode ampliar a competitividade do país ao agregar valor à sociobiodiversidade, impulsionar a inovação e fortalecer cadeias produtivas sustentáveis.
Segundo a International Finance Corporation (IFC), o Brasil pode movimentar até US$ 284 bilhões com a bioeconomia até 2050, consolidando-se como referência mundial no setor.
A COP 30 será um marco para definir caminhos. No centro dessa discussão está o papel fundamental das florestas, conforme mencionou em sua primeira carta André Corrêa do Lago, presidente da conferência. Florestas são essenciais na transição para uma economia de baixo carbono. Além dos benefícios ambientais das nativas, o plantio de eucalipto também pode contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade, além de oferecer ganhos econômicos e sociais.
Empresas que operam com recursos renováveis demonstram que é possível aliar competitividade e impacto positivo. Líder global na produção de biomateriais a partir do plantio de eucalipto, a Suzano mantém 1,1 milhão de hectares destinados à conservação, o equivalente a 40% de sua área total, desde 2020 já removeu mais de 29 milhões de toneladas de CO2 equivalente da atmosfera e conta com 322 milhões de toneladas de CO2 estocados em suas florestas.
Além de sua rica biodiversidade, o Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com 83% provenientes de fontes renováveis, segundo a Empresa de Pesquisa Energética. Ainda é preciso expandir essa vantagem para setores intensivos em carbono, o que pode gerar novas oportunidades para a exportação de produtos com baixa pegada ambiental.
À medida que a demanda global e nacional por fontes renováveis de energia cresce, é fundamental que iniciativas de produção de energia utilizando biomassa e resíduos da produção, inclusive com a possibilidade de exportação de energia excedente ao grid nacional, aumentem ainda mais.
Transformação social
Para que essa transição seja bem-sucedida, ela precisa ser justa e inclusiva. A criação de empregos de qualidade e o fortalecimento das comunidades locais devem caminhar lado a lado com a redução das emissões, por exemplo. A OIT estima que a economia sustentável pode gerar 15 milhões de empregos líquidos na América Latina até 2030, desde que políticas adequadas sejam implementadas.
Um dos maiores desafios neste sentido é a desigualdade social, que aumenta a vulnerabilidade das populações, especialmente em relação aos impactos das mudanças climáticas. Crescimento econômico, conservação ambiental e desenvolvimento social não apenas podem, como devem andar juntos. E isso traz excelentes resultados!
O potencial brasileiro na transição climática ganha ainda mais força com o foco em educação profissional e em modelos de negócios regenerativos. Mitigar a pobreza vai muito além da geração de emprego e renda, passa também por assegurar uma maior resiliência das pessoas em situação de vulnerabilidade social a eventos extremos relacionados ao clima.
Os fluxos globais de investimento já estão priorizando negócios que demonstram impacto positivo e mitigação destes riscos. Mas, para além de investimentos, qualquer transformação só acontecerá a partir de uma ação coletiva e coordenada, que pode ser impulsionada a partir da COP 30. Governos, empresas, sociedade civil e instituições precisam trabalhar juntos. A hora de agir é agora, pois a transição não acontecerá sem que cada um assuma o seu papel.
Helena Boniatti Pavese é gerente executiva de sustentabilidade da Suzano