Dia 6: Estudo aponta que clima pode aumentar casos de câncer em 200% até 2050

Um estudo realizado pela Prudential, maior seguradora independente no segmento de vida no Brasil, divulgou neste sábado (15), na Casa do Seguro na COP30, dados de um estudo inédito que conecta riscos climáticos, saúde pública e sustentabilidade do seguro de vida.

Realizado pela companhia em parceria com a consultoria especializada em sustentabilidade ERM NINT, ele aponta que a falta de hábitos saudáveis pode ampliar significativamente os impactos dos eventos climáticos sobre a população já a partir de 2030.

Se nada mudar, em um cenário mais pessimista, os casos de doenças como o câncer, por exemplo, tendem a aumentar cerca de 200% até 2050. “O seguro, portanto, tem um papel muito importante neste futuro”, disse Tatiana Assali (com o microfone, na foto), sócia da consultoria. “A gente precisa realmente levar as mudanças climáticas em conta, e as seguradoras que começam a olhar para isso com cuidado, com dados e mais informação, terão uma grande oportunidade tanto de novos produtos e serviços, quanto de melhorar sua gestão financeira.”

A Prudential foi a empoderadora da Casa do Seguro no sábado (15). Patricia Freitas (à esq. na foto), CEO da seguradora, fez uma homenagem ao protagonismo de Belém e da Amazônia na COP30. “O Pará e Belém não são apenas palco da COP, são símbolos da força da Amazônia e da resistência do seu povo”, disse.

Descarbonização do agro

O agronegócio brasileiro está diante de uma oportunidade para reduzir emissões em larga escala com tecnologias e práticas que já domina. Uma coalizão formada por empresas e entidades do setor mapeou 15 alavancas capazes de cortar até 80% das emissões agrícolas até 2050. “O agronegócio brasileiro é parte da solução climática”, afirmou Alessandra Fajardo, diretora executiva técnica do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), ao apresentar o estudo no primeiro painel do dia. Apesar do otimismo técnico, o avanço depende de financiamento: “Existe um gap de 100 bilhões que precisa ser coberto por capital catalítico e novas ferramentas”, disse.

Ações conhecidas: A descarbonização do setor pode ser alcançada com alavancas que já são conhecidas no país, como plantio direto, intensificação lavoura-pecuária-floresta (ILPF), intensificação animal e cultivos de cobertura. A Citrosuco, maior processadora de suco de laranja do mundo, trouxe um case que já vem dando resultados. O programa Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) Carbon Agro remunera produtores pelo sequestro de carbono em pomares de laranja e amplia a adoção de práticas regenerativas na cadeia. Segundo Leon Cruz, especialista de ESG da companhia, a agricultura regenerativa é hoje “o principal ponto de resiliência para os nossos riscos climáticos e fitossanitários”.

O papel dos seguros: No agro, o seguro pode atuar atua na proteção do produtor, permitindo que suas reservas sejam utilizadas em investimentos em inovação e práticas sustentáveis, em vez de para recompor perdas. Há um grande espaço para o seguro apoiar a agricultura regenerativa ou os sistemas agroflorestais – gerando economia no preço da implementação e redução de risco a longo prazo. 

Palavra de empoderador

As mudanças climáticas já afetam a saúde, longevidade e segurança financeira. Esses desafios já estão no nosso negócio. Como proteger melhor o nosso futuro? O setor de seguros precisa ser protagonista nessa atuação

Patricia Freitas, CEO da Prudential do Brasil

Setor financeiro e agenda climática

Agenda conjunta: Anbima, CNseg e Febraban apresentaram os resultados de uma frente conjunta de capacitação para riscos climáticos e finanças sustentáveis. O trabalho integra temas como crédito, seguros, mercado de capitais e gestão de riscos climáticos. Para as entidades, a coordenação tem efeito direto na escala e na velocidade da transição.

Recursos de longo prazo: Os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagros) foram destacados como uma das principais fontes emergentes de capital de longo prazo para o agronegócio, com capacidade de financiar transformações estruturais, como agricultura regenerativa, sistemas integrados e práticas de baixa emissão. Segundo Luiz Pires, da Anbima, os fundos têm ajudado a “trazer o investidor urbano para dentro do agro” e ampliar os recursos destinados à transição.

Taxonomia: A Taxonomia Sustentável Brasileira, recém-lançada, foi apontada como um marco que melhora a credibilidade e reduz assimetria para emissões rotuladas, como títulos verdes, sociais e sustentáveis. Ela também ajuda na demanda crescente de investidores estrangeiros por clareza sobre riscos.

Setor bancário: Os bancos têm integrado de forma crescente critérios climáticos e socioambientais nas operações de crédito, impulsionados tanto por exigências regulatórias quanto pela exposição crescente a eventos extremos. “O problema não é o risco ser alto, o problema é ele ser desconhecido”, afirmou Cintia Oller Cespedes, gerente de sustentabilidade da Febraban. 

Regulação: A Susep já exige que seguradoras incorporem sustentabilidade, clima e risco socioambiental na governança, planejamento e estratégias. Ao mesmo tempo, as regras de gerenciamento de risco climático já “mudaram a forma como o crédito é analisado no país”, disse Jessica Bastos, diretora da Susep.

Lacuna de proteção

Ameaça sistêmica: A lacuna de proteção de seguros (Insurance Protection Gap) foi identificada como uma ameaça sistêmica à resiliência econômica e à estabilidade financeira, especialmente em países em desenvolvimento que não estão assegurados contra perdas globais por mudanças climáticas.

Quando as perdas não são cobertas por seguros (apenas 25% na Europa foram asseguradas contra perdas por clima extremo, por exemplo), o risco é transferido para o setor público, que arca com bilhões em compensações. A recomendação central da WWF é que os governos se concentrem nas causas raízes do problema, investindo em mitigação e em soluções baseadas na natureza.

Ação conjunta

Os debates reiteraram que as crises climática e da natureza são simbióticas e devem ser resolvidas em conjunto. A UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) criou um grupo de trabalho para a natureza com mais de 60 empresas de seguro e organizações, para articular os benefícios das ações de natureza para seguradoras.

O papel dos seguros: É fundamental para o setor segurador integrar natureza e biodiversidade em suas estratégias e planos de transição, que frequentemente cobrem bem o aspecto de investimento, mas ainda não tanto a área de subscrição (underwriting).

O setor já desenvolve produtos neste sentido, entre eles:

Seguros baseados na natureza: Produtos paramétricos que financiam diretamente a restauração de ecossistemas (como recifes de coral e mangues nas Filipinas e México) após eventos extremos.

Biosseguro: Produto para a proteção, fomento e conservação de florestas.

Financiamento de carbono e resiliência: Iniciativas como a CarbonPool oferecem seguro contra o risco reverso (carbono que deveria ser sequestrado, mas é liberado devido a incêndios ou pestes), garantindo a permanência desses projetos e oferecendo estabilidade financeira a desenvolvedores e bancos.

Economia azul: O trabalho da ORA (Ocean Risk & Resilience Alliance) busca quantificar o valor dos benefícios de resiliência dos ecossistemas marinhos para que governos e seguradoras possam precificar melhor o risco e atrair investimento.

Transição justa

O conceito de transição justa é fundamental para assegurar que a mudança para uma economia sustentável não exclua pessoas, trabalhadores, fornecedores e comunidades. A transição justa não é negociável, especialmente na América Latina, que tem altos níveis de desigualdade, informalidade e dependência econômica de atividades altamente poluentes.

No setor de seguros, a transição justa significa garantir que os produtos não sejam apenas sobre alcançar a emissão zero ou a natureza positiva, mas que sejam também inclusivos e socialmente justos.

Consenso final: Esta é a COP da implementação. Não faltam inovações, mas sim uma colaboração com mais eficiência entre setor público, privado e sociedade civil para protocolar e escalar as soluções que já existem.

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