
O fortalecimento da agenda climática na última década, assim como a entrada de novas gerações no mercado consumidor, tem influenciado não só as decisões de investidores, governos e empresas, mas também as compras do dia a dia. Neutralidade de carbono, bem-estar animal e uso de recursos renováveis são políticas que contam cada vez mais para marcas e produtos se diferenciarem.
No caso dos alimentos, porém, o desafio vai além: transformar práticas da agricultura e da pecuária. Um desafio que a norueguesa Yara, líder mundial em fertilizantes, topou comandar e que começa a render frutos. A empresa vai apresentar durante a COP30, no pavilhão da Noruega, um café produzido no Brasil com cerca de 40% menos emissões de carbono no grão*.
Em torno de 20% das emissões de gases de efeito estufa são provenientes da agricultura, e desta fatia 11% provêm da produção e aplicação de fertilizantes, em especial dos nitrogenados. O significa que qualquer mudança na fabricação dos insumos que reduza as emissões tem um impacto significativo em toda a cadeia.
O café de menor pegada que será apresentado em Belém foi produzido com fertilizantes de menor emissão de carbono fornecido pela Yara a parceiros da cooperativa Cooxupé, selecionados a partir de um acordo firmado em 2022. A Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do mundo, recebe grãos produzidos em mais de 330 municípios do Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Matas de Minas e Vale do Rio Pardo (no estado de São Paulo). A primeira safra especial foi colhida este ano.
O portfólio de fertilizantes lower carbon da companhia norueguesa, batizado de Yara Climate Choice™, faz parte de uma agenda geral de descarbonização da empresa. Os fertilizantes partem de uma matriz energética de origem renovável e têm as mesmas características técnicas dos tradicionais, o que facilita o ganho de escala na produção agrícola.
“A gente quer primeiro desmistificar algumas crenças de que para reduzir as emissões da agricultura é preciso deixar de usar fertilizantes minerais, como os nitrogenados”, diz Francielle Bertotto, gerente de Cadeia de Alimentos e Sustentabilidade da Yara no Brasil. “Se tirássemos essa fertilização, haveria uma forte queda na produtividade, o que para o produtor e para a cadeia do alimento não é sustentável. A COP30 é uma oportunidade de falarmos para o mundo sobre o processo de descarbonização da produção de alimentos no Brasil, ainda assim aliada à alta produtividade, e o café é um exemplo disso.”
Inovação e pesquisas
O caminho para mitigar o impacto, para a Yara, exige investimentos em tecnologia de ponta para desenvolver os fertilizantes com menor pegada de carbono e rastreabilidade de emissões. “Na cultura do café, grande parte das emissões do cultivo estão associadas a produção e uso dos fertilizantes nitrogenados – o restante provém principalmente de energia, combustível e outros insumos. O fertilizante de menor emissão combinado a um manejo nutricional equilibrado aumenta a produtividade da safra, e consequentemente, a pegada de carbono de cada grão diminui”, comenta a executiva da Yara.
Inicialmente o custo extra dos fertilizantes de menor pegada de carbono não foi repassado ao produtor. As empresas desenvolveram um modelo em que agregam valor no café comercializado, de forma a cobrir esse custo extra.
“De maneira individual, os produtores enfrentam dificuldades para acessar mercados que estejam dispostos a pagar um prêmio por este café e pelo serviço ambiental relacionado a manejos agrícolas sustentáveis. O que temos feito é trabalhar de forma colaborativa através das parcerias com empresas da cadeia que possuem compromissos de descarbonização, e estão dispostas a valorizar estes atributos”, explica Bertotto.
A Cooxupé tem cerca de 20 mil associados, principalmente agricultores familiares. Para a produção do café de menor pegada de carbono foi selecionado um grupo de produtores que já adotam práticas regenerativas e fazem parte do programa de sustentabilidade da cooperativa.
O Brasil é o maior produtor mundial de grãos de café no mundo. Na última colheita, foram 65 milhões de sacas, o que corresponde a 37% da oferta global.
Metas de descarbonização
Comprometida em alcançar a neutralidade de emissões até 2050, a Yara vem liderando, desde 2005, uma transformação no setor com a produção de fertilizantes de baixa pegada de carbono.
Atualmente, os fertilizantes à base de nitrato da Yara disponíveis no Brasil, conhecidos como low carbon, são produzidos a partir de gás natural e já apresentam uma redução de 50% a 60% nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em comparação aos nitratos convencionais.
Essa diminuição é resultado de uma tecnologia pioneira de catalisadores desenvolvida pela empresa, que reduz significativamente as emissões de óxido nitroso (N₂O) no processo de produção, aliada a melhorias contínuas em eficiência energética nas unidades produtivas.
O portfólio Yara Climate Choice representa mais um passo concreto rumo à descarbonização da agricultura. Por meio da produção de fertilizantes com menor pegada de carbono, a iniciativa contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, incentiva toda a cadeia de valor do alimento a adotar soluções mais sustentáveis.
Outra frente importante no caminho da descarbonização é a adoção de matrizes energéticas de origem renovável, que viabilizam a produção de insumos ainda mais sustentáveis. No Brasil, o complexo da Yara em Cubatão já deu início ao projeto de fabricação utilizando biometano, combustível que promete revolucionar o setor industrial no estado de São Paulo.
A tecnologia é empregada, por exemplo, na fábrica de Sluiskil, na Holanda, na região dos Países Baixos, de onde o carbono puro é liquefeito e transportado pela Northern Lights, parceira da Yara, para armazenamento permanente em uma plataforma submersa no mar da Noruega. São coletadas 800 mil toneladas de CO₂ por ano. Ambas as tecnologias, que integram o portfólio de fertilizantes lower carbon da empresa, possibilitam reduções de emissões que variam de 60% a 95%**.
Para a próxima safra, prevista para ser colhida no início de 2026, o café de menor emissão incentivado pela Yara terá novos parceiros: a cooperativa Coocacer, também de Minas Gerais, e as empresas JDE Peet’s e ofi. Estas duas últimas atuam especificamente com projetos voltados ao café conilon, e em parceria com a companhia norueguesa, buscam a adoção de manejos mais sustentáveis, focando na descarbonização da cadeia produtiva.
A empresa também já assinou parcerias para a nutrição sustentável de pastagens para gado e na produção de cacau, prevendo parcerias com outros elos da cadeia do alimento.
* Em comparação à pegada de carbono média brasileira, de acordo com estudo publicado pela Embrapa (Folegatti et al., 2021).
** As reduções nas emissões variam conforme o teor de nitrogênio dos fertilizantes. O comparativo considera os mesmos produtos da Yara, porém fabricados a partir de matriz fóssil.