Como o Mercado Livre está usando seu negócio para associar preservação com geração de renda na Amazônia

Apoio à comercialização de produtos da sociobiodiversidade impulsiona empreendedores sustentáveis na região

Como o Mercado Livre está usando seu negócio para associar preservação com geração de renda na Amazônia
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Dulcecléia Oliveira, a dona Dulce, é uma paraense natural de Capitão Poço. Há 15 anos, se casou e mudou-se para o Canal do Jari, no encontro do Rio Tapajós com o Rio Amazonas, em Santarém. Pouco tempo depois, ela e o marido plantaram dez mudas de plantas nativas sob a casa de palafitas onde ainda vivem. 

O jardim vingou, cresceu e ganhou fama. Hoje dona Dulce recebe turistas do mundo inteiro para ver e degustar suas ‘meninas’, como chama as vitórias-régias que crescem sob seus pés. 

Ex-cozinheira da Marinha Mercante, ela criou mais de vinte receitas usando a planta – mais especificamente uma parte chamada pecíolo (caule) –, como ingrediente principal. Uma de suas iguarias mais famosas é a geleia de vitória-régia, comercializada sazonalmente em todo o Brasil pela Deveras Amazônia.

A empresa, com sede em Santarém, é um dos 83 empreendimentos – 47 deles na Amazônia – que integram o programa Biomas a um Clique, uma das iniciativas de impacto positivo do Mercado Livre. 

Capacitação e geração de renda

Lançado em 2019, o  programa impulsiona a comercialização de negócios da sociobiodiversidade, por meio da capacitação e geração renda a empreendedores e comunidades locais, facilitando a venda online de produtos feitos de maneira sustentável na Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. Em 2021, a iniciativa se estendeu para Argentina e México.  

Em quase cinco anos, o Biomas a um Clique contribuiu para a venda de mais de 50 mil produtos por meio da plataforma do Mercado Livre, movimentando mais de R$ 2 milhões para negócios da sociobiodiversidade e beneficiando mais de 30 mil produtores dos biomas brasileiros.

Através de soluções de pagamento, fora da plataforma do Mercado Livre, foram mais de R$ 7 milhões transacionados por esses empreendimentos desde o lançamento do programa.

O programa engloba uma curadoria especializada, feita em parceria com organizações e hubs de impacto da América Latina, seleciona itens que são disponibilizados na atual seção de produtos sustentáveis do marketplace. 

Criada como piloto em 2019 e lançada oficialmente em 2020 com o objetivo de democratizar o acesso a produtos, que geram benefícios para as pessoas e para o meio ambiente, a seção vem sendo mais procurada ano a ano.

Entre abril de 2022 e março de  2023, o número de compradores cresceu 29% somente no Brasil. Mais de 4,4 milhões de usuários da região compraram ao menos um produto de impacto positivo no Mercado Livre, 60% deles no Brasil.

“A agenda da Amazônia é extremamente relevante para o Mercado Livre, com uma quantidade incrível de pessoas produzindo e cuidando deste bioma fundamental. São vozes que precisam ser amplificadas e ouvidas”, disse Guadalupe Marín, diretora de Sustentabilidade do Mercado Livre na América Latina, durante passagem pelo Brasil para o TEDxAmazônia. 

A empresa apoiou a realização do evento, que reuniu mais de 40 palestrantes no começo de novembro para discutir, em Manaus (AM), a sociobioeconomia, geração de renda, ciência e os desafios  na região.

Desafios

Por meio do programa Biomas a um Clique, além de solução logística, um dos maiores gargalos enfrentados pelos empreendedores amazônicos e de outros biomas, a plataforma oferece visibilidade e capacitação aos produtores locais. 

Durante o TEDxAmazônia, o Mercado Livre anunciou que pretende fortalecer e ampliar a oferta de produtos feitos por comunidades tradicionais, por meio da adesão à Rede Origens Brasil, que promove negócios sustentáveis na Amazônia com garantia de origem, transparência e rastreabilidade. 

“O Origens Brasil já era parceiro de hunting do programa e a entrada oficial do Mercado Livre na rede vai potencializar nossos esforços relacionados à rastreabilidade, à produção sustentável e à comercialização ética de produtos da Amazônia”, diz Laura Motta, gerente sênior de sustentabilidade do Mercado Livre no Brasil. 

Motta explica que não basta o benefício logístico, é preciso aumentar a visibilidade desses negócios para que eles possam seguir gerando renda e protegendo a floresta. 

A Amazônia é um dos oito biomas latinos contemplados pelo programa Biomas a um Clique. No México, há um trabalho intenso com produtores das regiões de Chiapas e Oaxaca, de onde saem café, mel, mezcal, cacau e artesanato diverso com fibras naturais. Já na Argentina, os empreendedores concentram-se, principalmente, em Formosa e Chaco, no norte do país. 

“Na Argentina, no México e no Brasil o programa se propõe a fomentar a bioeconomia e iniciativas empreendedoras que promovam a conservação e a regeneração dos biomas”, explica Guadalupe Marín.

“Muitos dos empreendedores enfrentam um obstáculo comum: a distância e a dificuldade logística para que seus produtos cheguem às demais regiões. No Brasil, diante do seu tamanho e diversidade de produtos, identificamos desafios ainda maiores”, diz Marín.

Segundo a executiva, as diferenças culturais entre as regiões brasileiras ainda são um grande entrave para o consumo. Para mudar esta realidade, o Mercado Livre tem investido em campanhas e parcerias que buscam aproximar consumidores  e produtos da sociobiodiversidade. 

“Começamos trabalhando com influenciadores e chefs renomados para divulgar produtos muito conhecidos na Amazônia, como o tucupi, mas pouco utilizados no resto do país”, conta. “As pessoas precisam aprender a incorporar o consumo destes itens, muitas vezes desconhecidos.”

A empresa também investe em campanhas para democratizar o acesso a este conhecimento e aos próprios produtos. A mais recente foi batizada de Inteligência Ancestral, uma referência à Inteligência Artificial, termo amplamente utilizado em empresas de tecnologia, como o próprio Mercado Livre.

“A campanha traz o DNA de tecnologia da companhia, mas busca desafiar o interesse pela  inteligência artificial para propor a valorização da inteligência ancestral, mostrando as histórias, os saberes e processos que fazem parte da nossa sociobiodiversidade e  contribuem para preservar a floresta em pé”, afirma Laura Motta. 

Motta conta que a maior parte dos consumidores ainda não procura, “espontaneamente, na barra de busca de produtos na nossa plataforma, produtos como o tucupi ou o baru, por exemplo”.

Segundo ela, é preciso apresentar estes itens aos consumidores, seja por meio de eventos como o TEDxAmazônia, através de parcerias com outros movimentos e com organizações que atuam no tema, ou pelas campanhas publicitárias.

Floresta em pé

Além do Biomas a um Clique, outro programa de sustentabilidade do Mercado Livre, o Regenera América, também associa regeneração com envolvimento e geração de renda para comunidades locais.

A empresa investe um valor proporcional às suas emissões de gases de efeito estufa  em projetos de restauração e conservação que irão gerar créditos de carbono futuros. 

Na Amazônia, o programa apoia  iniciativas como o Café Apuí Agroflorestal, que contribui com o desenvolvimento da agricultura responsável e geração de renda para cerca de 30 produtores familiares locais.

Atualmente, o plantio de café em agrofloresta, na região sul do estado, culminou com a comercialização de duas marcas de alta qualidade em cafezais antes abandonados pela baixa produtividade, onde os grãos crescem à sombra da floresta que abraça o cafezal.

O Regenera América anunciou o investimento de mais de R$ 42 milhões adicionais no Brasil em 2023, o que permitirá a restauração e conservação de mais de 8,5 mil hectares de floresta nativa e mais de 2,6 milhões de árvores conservadas e restauradas – um potencial para captura de mais de 188.000 toneladas de CO2 e prevenção de emissão estimada em mais de 3 milhões de toneladas de CO2 em 30 anos.

Desde o lançamento do programa, em 2021, 9 projetos já foram apoiados no Brasil e México, a partir do investimento de mais de R$ 115 milhões.