Formado por mais de 570 investidores institucionais de peso, como Pimco e a BlackRock, o Climate Action 100+ está por trás da pressão feita em grandes emissores de CO2, como a Shell, para se alinhar a um futuro compatível com o que prevê o Acordo de Paris.
Agora, o grupo que reúne gestores de mais de US$ 54 trilhões está se preparando para redobrar os esforços no setor de siderurgia, um dos maiores emissores de gases de efeito-estufa — e para o qual a descarbonização é um enorme desafio tecnológico.
Um relatório divulgado ontem pelo Climate Action mostra que as siderúrgicas estão longe do caminho para atender o corte de 91% nas emissões necessário até 2050 para atingir o net zero, conforme prevê a Agência Internacional de Energia (AIE).
Apenas nove empresas siderúrgicas de grande porte já se comprometeram com a neutralidade de carbono até 2050 — China Baowu, ArcelorMittal, China HBIS, Nippon Steel, Posco, US Steel, Thyssenkrupp, SSAB e Outokumpu —, que juntas representam 27% da produção global de aço.
Mais do que pressionar pelo comprometimento com metas climáticas, o relatório desenha um panorama para que os investidores possam se engajar com as companhias e garantir que elas saiam das cartas de intenção para a ação concreta.
Entre os principais pontos, a iniciativa aponta que é preciso aumentar o uso de sucata de aço como matéria-prima — um processo que hoje é responsável por apenas 23% da produção mundial e tem bastante potencial para ganhar escala.
É preciso ainda acelerar a transição para energia limpa, mas aumentar a eficiência energética é uma medida que já está à mão das siderúrgicas, bem como melhorar a eficiência dos materiais, garantindo vida mais longa ao aço que é produzido, de forma a limitar a demanda.
Nas tecnologias mais avançadas, o grupo aponta a importância dos investimentos em processos de baixa emissão, incluído os movidas a hidrogênio em vez de carvão mineral, uma tecnologia ainda relativamente incipiente, mas que vem ganhando tração e sendo apontada como uma das opções na corrida para o “aço verde”.
Também na fronteira tecnológica, o Climate Action aponta os processos de captura e armazenamento nas plantas que ainda precisarem utilizar o combustível fóssil.
Num setor considerado de difícil descarbonização e que opera com margens apertadas, o custo tende a ser um problema. A coalizão estima que colocar a indústria mundial do aço num patamar de zero emissões deve custar mais de US$ 1,3 trilhão.
Nesse sentido, o grupo afirma que mudar o cenário vai exigir não apenas novos investimentos e avanços tecnológicos, mas apoio político e redução no preço da energia limpa.
Nesta semana, a ArcelorMittal — uma das empresas comprometidas com o net zero — estimou que o custo para atingir o objetivo apenas nas suas operações na Europa seja de US$ 65 bilhões. É quase o dobro do que a empresa vale hoje na Bolsa de Nova York (US$ 35 bilhões).
Ao Wall Street Journal, o CEO Aditya Mittal admitiu que a empresa enfrenta dificuldades no processo de transição para cortar as emissões. Semanas atrás, na divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre, a empresa informou que iria acelerar seus planos para descarbonizar seus negócios.
A pressão do CA100+ nas siderúrgicas é apenas o começo de uma abordagem setorial que o grupo colocou em marcha. Nos próximos meses, a iniciativa deve visar outros mercados, como alimentos e bebidas, setor elétrico e mineração.
(Com edição de Natalia Viri)