CLIMA

Fundo da família Gerdau movimenta R$ 370 mi para reconstruir RS

RegeneraRS tem Gerdau, Vale e Fleury entre investidores e usa recurso filantrópico para catalisar investimento no Rio Grande do Sul após enchentes 

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Fundo da família Gerdau movimenta R$ 370 mi para reconstruir RS

Quase um ano atrás, começavam as chuvas que devastariam o Rio Grande do Sul. O Rio Guaíba ultrapassou níveis históricos e as enchentes deixaram mais de 180 pessoas mortas. Ainda hoje, há centenas de desabrigados e quase 30 desaparecidos, e o Estado segue na tentativa de se recuperar de um prejuízo bilionário deixado como rastro.

Com esse processo em mente, o Instituto Helda Gerdau (IHG), da família Gerdau Johannpeter, dona da gigante siderúrgica, e a gestora Din4mo criaram um fundo filantrópico que investe em soluções para problemas criados pelas enchentes nas áreas de educação, habitação, negócios e regeneração urbana.

O RegeneraRS, como foi batizado, captou R$ 40 milhões até agora – mais da metade do IHG e Gerdau, e com aportes da Vale, Grupo Mais Unidos e Grupo Fleury. 

“Atuamos na lógica de capital catalítico, ou seja, como a alocação de capital pode atrair e mobilizar outros recursos financeiros. Atualmente, para cada real alocado, temos conseguido alavancar outros R$ 27”, diz Marcel Fukayama, cofundador da Din4mo, gestora do RegeneraRS.

O objetivo é usar os recursos do fundo para destravar capital. Por ora, foram desembolsados R$ 15,7 milhões, que mobilizaram R$ 374 milhões por meio de projetos. 

Na frente de negócios, um dos projetos selecionados foi um FDIC criado pelo Estímulo, fundo de impacto para prover crédito facilitado para pequenos empreendedores, focado no Rio Grande do Sul. A estrutura é de blended finance, e o RegeneraRS investe na cota subordinada, absorvendo os riscos da operação, o que permite levar crédito a juros baixos para pequenas e médias empresas gaúchas. 

O investimento do RegeneraRS no veículo foi de R$ 3 milhões, com expectativa de que sejam mobilizados R$ 150 milhões ao longo dos anos, à medida que os primeiros pagamentos permitam novos empréstimos. 

Ao todo, a estimativa do RegeneraRS é que 77 mil pessoas estão sendo diretamente impactadas por suas ações, individualmente ou por meio de empresas. 

Futuro à frente

Um dos diferenciais do RegeneraRS é o monitoramento de impacto e aprendizagem contínuos de sua atuação, diz Tarso Oliveira, coordenador executivo do fundo.

“Essa não foi a primeira nem será a última enchente que vamos enfrentar no curto e longo prazo. Nos últimos dias, houve bairros sem luz e o aeroporto precisou ser fechado por conta do vento e da chuva. Esse está se tornando o novo normal, e aprender com o que estamos fazendo é fundamental”, afirma. 

Outros projetos

Os investimentos são selecionados por um comitê e recebem o aval de um conselho formado por representantes de Gerdau, IHG e Vale. Especialistas de diferentes áreas também atuam voluntariamente para apoiar com conhecimento técnico. 

Na área de habitação, o fundo apoia o Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida), idealizado pela Gerando Falcões para promover iniciativas de melhorias habitacionais, saneamento básico e inclusão digital, e o União BR, que deve permitir a construção de 500 moradias. 

O fundo também foi um dos organizadores de um edital de R$ 10 milhões puxado pela Fundação Boticário para encontrar soluções baseadas na natureza que aumentem a adaptação e resiliência climática do Rio Grande do Sul a eventos extremos. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e a Fundação Araucária também contribuíram, com o apoio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI).

Já em educação, o fundo aplicou R$ 500 mil em um projeto do Instituto Reúna voltado para estudantes que tiveram escolas prejudicadas pela enchente. A Fundação Lemann e a B3 entraram na esteira com R$ 500 mil cada. 

“Temos um posicionamento muito claro de resolver problemas causados pelas enchentes, não uma dor pré-existente. Acima de tudo, avaliamos o potencial catalítico do investimento, tanto financeiro quanto de impacto”, diz Oliveira.

*Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

*Atualização às 15h19: A Fundação Lemann e a B3 investiram R$ 600 mil no projeto do Instituto Reúna, não R$ 500 mil como constava anteriormente. A informação foi corrigida.