
Belém – O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) foi lançado oficialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva num almoço realizado na Cúpula dos Líderes da COP30, em Belém.
O TFFF é um mecanismo financeiro com objetivo de captar US$ 125 bilhões e dar lucro – que será repassado aos países detentores de florestas tropicais que mantiverem o desmatamento sob controle.
A Noruega vai contribuir com até US$ 3 bilhões ao longo de dez anos, anunciou o premiê do país, Jonas Gahr Støre. A França vai investir € 500 milhões (US$ 580 milhões). O esperado aporte do Reino Unido, que era considerado certo pelo governo brasileiro, não veio.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em entrevista de coletiva depois do evento que a Alemanha vai anunciar aporte nos próximos dias. A China e Emirados Árabes Unidos afirmaram que vão oferecer apoio financeiro, mas não especificaram um valor.
A Indonésia, que já havia sinalizado um aporte, confirmou que investirá US$ 1 bilhão, a mesma quantia do Brasil. Ambos os países também devem estar entre os maiores beneficiários do TFFF.
Os holandeses vão doar US$ 5 milhões para a operacionalização do mecanismo – não se trata de um investimento no fundo. O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, anunciou nesta quinta (6) na Cúpula dos Líderes que o país fará uma contribuição de € 1 milhão.
O mecanismo financeiro do TFFF tem um modelo misto. Os investidores patrocinadores, que podem ser países ou entidades filantrópicas, aceitam um risco maior para viabilizar outros aportes.
Sucesso
A meta anunciada é obter US$ 25 bilhões dos patrocinadores, o que alavancaria US$ 100 bilhões adicionais em capital privado. Este valor permitiria que o TFFF operasse em sua plenitude, afirmou Haddad. Mas não há um prazo para que essa captação seja alcançada.
Ele repetiu algo que disse pela primeira vez na terça (4): atingir US$ 10 bilhões no primeiro ano de operação do fundo seria “um grande feito”. Por essa métrica, segundo Haddad, o lançamento oficial do fundo foi um sucesso, já que o TFFF obteve compromissos de ao menos US$ 5,5 bilhões
Alguns dos investidores, entretanto, apresentaram condições para integralizar suas quotas. Os noruegueses exigem que o TFFF atinja ao menos US$ 10 bilhões, e a participação do país nórdico não pode ser superior a 20% do total do fundo.
A contribuição da França também deve estar sujeitas a cláusulas que ainda não foram comunicadas oficialmente, segundo João Paulo Resende, subsecretário da Fazenda. O aporte de Paris foi uma surpresa, afurmou ele.
Britânicos fora (por enquanto)
A informação de que os britânicos não farão um aporte no TFFF agora foi transmitida pela embaixadora do Reino Unido no Brasil, Stephanie Al-Qaq, à ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, no início desta semana.
No governo brasileiro, a reação foi de surpresa, segundo apurou o Reset. Todas as indicações eram de que o governo britânico anunciaria um aporte como patrocinador depois de ter financiado o trabalho de desenho do mecanismo.
A decisão do governo britânico não significaria que o país não esteja comprometido com o TFFF nem descartaria um aporte em um momento posterior.
Pessoas a par das conversas afirmam que a motivação foi política. O premiê Keir Starmer, do Partido Trabalhista, foi eleito há um ano com uma vitória esmagadora sobre os adversários conservadores.
Mas sua popularidade despencou desde então. Uma pesquisa realizada há dois meses apontou que sete entre dez britânicos desaprovam seu governo.
A contribuição para o TFFF seria um investimento com retorno financeiro, ainda que modesto – mas justificá-lo seria praticamente impossível neste momento.
Um aumento da carga tributária é dado como certo no novo orçamento, que sai no fim do mês. Em sua campanha, Starmer havia prometido não mexer na tributação dos contribuintes, mas a especulação é que o imposto de renda também vai subir.
“No momento, o crescimento interno e a elevação do padrão de vida são o foco principal deste governo”, afirmou a Embaixada do Reino Unido em nota enviada ao Reset.
Haddad afirmou que o príncipe Willam e Starmer, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “disseram que o Reino Unido vai fazer propaganda de um conceito público-privado dessa proposta, que eles consideram muito original.”