Baku, Azerbaijão – O governo brasileiro divulgou na noite de sexta-feira (8) o principal número de seu novo plano nacional de descarbonização. A proposta é reduzir as emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035. A base de comparação é 2005.
Analistas e entidades ambientais classificaram a meta como incompatível com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Mesmo sem a estratégia completa – que deve ser tornada pública durante a COP29, que começa nesta segunda-feira (11) –, a avaliação é que a meta é insuficiente de acordo com o que recomenda a ciência.
Os 197 países que fazem parte da Convenção do Clima da ONU devem entregar suas estratégias nacionais, conhecidas pela sigla NDC, até fevereiro.
Como um dos cabeças do movimento batizado de Missão 1.5 e na presidência da COP30, que acontece ano que vem em Belém do Pará, o país se comprometeu a ser um dos primeiros a depositar seu plano, para “liderar pelo exemplo”.
Um aumento dessa ambição climática global será uma das medidas do sucesso da COP no Brasil.
“Os números da NDC estão desalinhados com a contribuição justa do Brasil para estabilizar o aquecimento global em 1,5°C”, afirmou em nota Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma rede de mais de cem ONGs ambientais.
Em um cálculo realizado pela organização, a redução em 2035 deveria chegar a 92% frente à linha de base de 2005. Em números absolutos, isso significaria que os 2,44 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) de 19 anos atrás cairiam para 200 milhões daqui dez anos.
O dado anunciado indica emissões entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas.
“A nova NDC resulta de uma longa avaliação do governo e da sociedade e reconhece a urgência do combate à crise climática”, publicou no X o vice-presidente Geraldo Alckmin, que representará o país na COP29 no lugar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Expressar o carbono lançado na atmosfera em uma banda também foi objeto de críticas.
“A meta em faixa e o silêncio do governo brasileiro sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis sugerem fragilidades”, afirma Natalie Unterstell, colunista do Reset e presidente do Instuto Talanoa, um centro de estudos climático.
Unterstell, como outros que opinaram sobre os números divulgados, fazem a ressalva de que será necessário analisar a submissão completa do país. “Esperamos uma supresa positiva”, afirmou ela.
Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, observou a maneira como o dado veio a público: uma declaração publicada no site do governo brasileiro em uma noite de sexta-feira. “Esse formato envia um sinal político preocupante no contexto atual”, diz Prado, em referência à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
“Espero que o Brasil apresente o compromisso robusto esperado, mostrando o caminho de como chegaremos lá. Infelizmente, o que foi apresentado hoje não está alinhado com o Acordo de Paris.”