A camada de ozônio está se recuperando, diz novo estudo

Sucesso do acordo internacional que proibiu os químicos CFC oferece esperança na luta contra a mudança do clima

A camada de ozônio está se recuperando, diz novo estudo
A A
A A

Um esforço coordenado planetário para combater o buraco na camada de ozônio está dando resultado – e oferece uma nova esperança na luta contra a mudança do clima.

Um estudo divulgado ontem pela ONU apontou que o acordo internacional para acabar com o uso de certos químicos está restabelecendo a camada de ozônio.

Dentro de duas décadas, segundo a nova estimativa dos cientistas, quase toda a Terra voltará a contar com o filtro que impede a chegada de raios ultravioleta nocivos para a saúde humana.

A proibição de um tipo de químicos da família dos clorofuorcarbonos (CFC) foi estabelecida em 1987, num acordo global assinado em Montreal, no Canadá.

Desde então, produtos como sprays, gases refrigerantes e espumas isolantes deixaram de utilizar CFC. Os gases emitidos por esses produtos foram responsáveis pelo surgimento do buraco na camada de ozônio.

O problema foi detectado pela primeira vez em 1985 rapidamente tornou-se a maior preocupação ambiental da época. Em apenas dois anos, quase 50 países assinaram o acordo em Montreal.

“A ação [em torno do] ozônio estabelece um precedente para as ações climáticas”, afirmou Petteri Taalas, presidente da Organização Meteorológica Mundial, que apresentou o estudo nesta segunda-feira.

O sucesso da iniciativa deveria inspirar aqueles que enxergam com ceticismo o lento e tortuoso processo das COPs do clima, afirmou um dos autores do levantamento.

O acordo internacional deve ser considerado “o tratado ambiental mais bem sucedido da história e servir de incentivo” para as negociações internacionais, afirmou David Fahey, da National Oceanic and Atmospheric Administration, agência meteorológica do governo americano.

Luz no fim do túnel

Caso as tendências atuais se mantenham, por volta de 2040 os níveis de ozônio na atmosfera devem voltar ao patamar de 50 anos atrás na maior parte do planeta.

A exceção são as regiões polares: no Ártico e na Antártica, os prazos devem ser cinco e 15 anos mais longos, respectivamente.

Houve alguns obstáculos no caminho. Em meados da década passada, foram detectadas emissões de CFC em pequenas fábricas chinesas. Essas violações do acordo poderiam atrasar em até dez anos a recomposição da camada de ozônio.

Mas o sistema de monitoramento global e a ação governo chinês mostraram que instrumentos criados por um tratado internacional podem ser efetivos.

Paralelos imperfeitos

Embora os paralelos com a crise da mudança climática sejam animadores, existem algumas diferenças fundamentais.

A primeira delas diz respeito aos emissores. Os responsáveis pela liberação de CFCs na atmosfera são algumas poucas empresas, de setores definidos. No caso do carbono, as emissões estão por toda a parte.

Além disso, os CFC permanecem no ar por cerca de cem anos, enquanto o CO2 pode perdurar por vários séculos.

O estudo divulgado pela ONU também examinou pela primeira vez o potencial impacto da chamada geoengenharia.

Trata-se de uma ideia controversa: aspergir na atmosfera partículas que refletem a luz do Sol. A ideia é que elas possam ajudar a reduzir a temperatura do planeta.

Embora possa ser eficaz em teoria, esse tipo de medida pode causar diversos impactos negativos indesejados. Uma intervenção desse tipo poderia causar mudanças nos padrões climáticos globais, prejudicando determinadas regiões ou países.

Apesar das incertezas, a geoengenharia vem sendo objeto de cada vez mais estudos, pois ela poderia ser uma solução necessária caso o aquecimento global não seja controlado pela via da descarbonização.

Os defensores da ideia apontam para a erupção do vulcão Pinatubo nas Filipinas, em 1991, como uma evidência de que a ideia pode funcionar.

Naquela ocasião, enormes quantidades de gases e partículas foram lançadas na atmosfera, provocando uma redução de cerca de 0,5°C na temperatura do planeta.