A Yvy Capital, gestora fundada no ano passado por Gustavo Montezano, ex-presidente do BNDES, e Paulo Guedes, ex-ministro da Economia, está dando a largada para atuar no mercado voluntário de carbono.
A proposta é ambiciosa: criar uma plataforma que faça negócios com créditos de carbono de ponta a ponta.
“A Yvy vai atuar como um intermediário financeiro nesse mercado”, diz Montezano. “Tanto o originador do crédito [de carbono] quanto quem os compra para fazer a compensação de emissões estão aprendendo como alocar capital e medir risco. Ter um intermediário que assume esse tipo de risco e capta capital dedicado para isso é um grande acelerador para o segmento.”
(Tecla SAP: no mercado voluntário, as negociações acontecem para atender a compromissos voluntários de descarbonização das empresas, que adquirem os créditos para compensar parte de suas emissões. É um ambiente diferente dos chamados mercados regulados, em que governos estabelecem tetos de emissões para as empresas. Saiba mais no Guia Reset de Créditos de Carbono).
Com a meta de atrair investimentos para o Brasil, a gestora acaba de fechar uma parceria com a Rubicon Carbon, plataforma de créditos de carbono criada pela gestora americana Texas Pacific Group (TPG), que tem US$ 224 bilhões sob gestão.
A Rubicon, cujo modelo está inspirando o desenho da Yvy Carbono, tem uma atuação vertical em negócios de carbono: ela identifica projetos capazes de gerar créditos de carbono negociáveis, financia alguns deles e reúne os créditos gerados em fundos ou títulos securitizados para compra e venda.
No Brasil, a Rubicon ainda tem uma atuação tímida e atua apenas como compradora de créditos de projetos existentes, gerados a partir de captura de metano em aterros sanitários e conservação de florestas, por exemplo. A área de finanças e investimentos ainda está em busca de projetos no Brasil que atendam a seus critérios.
CEO da Rubicon, Tom Montag diz que a companhia quer estar na vanguarda da economia de baixo carbono, e isso inclui se tornar um investidor líder no desenvolvimento das indústrias regenerativas do Brasil.
“Nossa parceria com a Yvy é um movimento estratégico que nos permite identificar os projetos e desenvolvedores que definirão os padrões para todos os demais”, diz Montag, por e-mail, “Estamos comprometidos em fornecer financiamento catalítico e, no futuro, manter esses créditos [de carbono] para oferecer aos nossos clientes através de nossas carteiras diversificadas de créditos, conhecidas como Rubicon Carbon Tonnes.”
A Yvy vai funcionar como um braço da Rubicon no Brasil, unindo a expertise global de uma com o conhecimento regional da outra. A parceria foi fechada após um ano de negociações, e, no futuro, poderá evoluir para uma sociedade.
A gestora será “agnóstica” na prospecção dos créditos, segundo Montezano, abrangendo desde os florestais aos de energias renováveis.
A ideia é sair na frente na estruturação financeira das transações com créditos de carbono, partindo da ideia que eles se tornarão uma commodity global e dolarizada. “Uma vez que existe um preço, você precisa começar a aprender sobre o ativo. Qual o VaR [Value at Risk, indicador de risco] dele? Qual a liquidez? Qual a melhor estratégia para negociá-lo?”, diz Montezano.
A commodity carbono
Hoje, a maior parte dos créditos de carbono são negociados em acordos bilaterais entre desenvolvedores e compradores. O tipo de projeto, benefícios para as comunidades do entorno e para a biodiversidade e localização são alguns dos fatores que afetam o preço dos créditos – ainda bem longe de serem considerados uma commodity.
A Yvy quer ocupar um novo espaço e funcionar como um trader intermediário. Montezano faz um paralelo com o papel desempenhado por grandes trading companies, do agro, como a ADM e a Cargill fazem no agronegócio.
Para ter receita com o carbono, a gestora poderá atuar em três funções: credor financiador para que empresas ou produtores rurais adotem práticas mais sustentáveis e gerem os créditos; comprador “offtaker”, que acorda o preço e garante a compra dos ativos antes de sua emissão; e como “broker”, um intermediário para vender ou comprar créditos em troca de taxa de corretagem.
O público-alvo da Yvy se divide em dois perfis. O primeiro é o cliente financeiro, que aporta recursos para monetizar ou gerar os créditos de carbono. O outro é o cliente empresarial, que vai emitir, comprar ou aposentar esses ativos.
Na visão do executivo, o risco regulatório do Brasil é um dos principais desafios da gestora nessa agenda, seguido pelo gargalo de conhecimento de profissionais e a falta de mão de obra qualificada.
“A nossa tese é que a evolução regulatória e legislativa é inexorável e vai acontecer, com certeza. A dúvida é se esse processo será mais rápido ou devagar.”, afirma Montezano.
Ciclo completo
A gestora se posiciona como uma casa de investimentos e soluções financeiras para a transição para economia verde – o que, na leitura dos fundadores, se traduz em segurança alimentar, transição energética e economia de baixo carbono no Brasil.
A Yvy Carbono é uma das três áreas de negócios da gestora, que agora já ocupa uma sede própria na região da Faria Lima, em São Paulo. As outras são uma asset management e o que vem sendo chamado de “fábrica de negócios”, que deve estruturar cadeias produtivas com grandes empresas no escopo da gestora.
A ideia é que as três áreas se conectem, diz o CEO. “A inteligência e a rede do negócio de carbono gera valor para as outras duas frentes. A fábrica de negócios se alimenta desse conhecimento e, uma vez prontos, seus projetos geram ativos que poderão ser investidos pela asset management”.
Na visão da casa, aprender a precificar o carbono deve auxiliá-la adiante, quando as emissões de gases de efeito estufa embutidas começarem a influenciar o preço do produto final.
Parte do mercado acredita que uma das grandes vantagens do Brasil na economia verde está justamente na produção e exportação de produtos industriais e agrícolas de baixo carbono, como o aço verde – produto de um processo com energia renovável – ou biocombustíveis.
Além de Guedes e Montezano, a gestora tem como sócios-sêniores o diplomata e ex-diretor geral da Organização Mundial de Comércio (OMC) Roberto Azevêdo, o ex-CEO do UBS Pactual e do Bank of America no Brasil Rodrigo Xavier, o ex-ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite e o ex-diretor de concessões e privatizações do BNDES Fábio Abrahão.
Com nomes reconhecidos em instituições tradicionais, a Yvy se une a outras gestoras que há alguns anos têm olhado para a tese climática, como JGP e GEF Capital. “A nossa visão é que a demanda [por esse tipo de ativo] vai ser muito grande. Esse é o risco que vamos tomar”, diz Montezano.