Um mapa inédito do carbono estocado no solo brasileiro

Ferramenta do MapBiomas mostra evolução desde 1985 e pode ajudar a implementar políticas e técnicas para agricultura de baixo carbono 

Um mapa inédito do carbono estocado no solo brasileiro
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Uma ferramenta inédita que está sendo lançada hoje pelo MapBiomas traz o mapa de um ativo vital para a economia verde: o estoque de carbono nos solos brasileiros.

A plataforma traça a evolução desse indicador de 1985 a 2021 para todos os biomas do Brasil, num momento em que cresce a pressão por técnicas de manejo mais sustentáveis para conter o aquecimento global.

O estoque de carbono orgânico é um dos maiores indicadores de saúde do solo. Ao longo das últimas décadas, diversas iniciativas coletaram dados sobre esse indicador, mas nenhuma delas considerava a dinâmica temporal, avaliando o impacto das mudanças de uso do solo ao longo do tempo. 

“Com esse mapeamento é possível identificar áreas e fatores naturais e antrópicos [feitos pela ação do homem] que estão sendo responsáveis pela redução ou aumento do estoque de carbono no país”, afirma a professora Taciara Zborowski Horst, uma das coordenadoras do projeto. “Isso pode ajudar a direcionar recursos para prevenir perdas e investir na restauração de áreas de baixo estoque.”

O solo é um dos grandes reservatórios de carbono do planeta. Mas, quando em estado de degradação, ele pode liberar gás carbônico e metano na atmosfera, agravando as mudanças do clima. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), um terço dos solos do mundo está moderada ou altamente degradado

Por outro lado, técnicas agrícolas regenerativas e de recuperação de solos podem sequestrar gases de efeito estufa da atmosfera.  Com uma pressão tanto reputacional quanto regulatória, cada vez mais empresas do agro apostam em técnicas deste tipo, mirando inclusive o mercado de créditos de carbono.

“O mapeamento dá uma direção para avaliar a implementação de políticas públicas [de conservação e agricultura de baixo carbono], além de identificar áreas com maior viabilidade para a entrada no mercado de comercialização de créditos de carbono e avaliar pedidos de financiamento voltados à mitigação e adaptação às mudanças climáticas”, diz Horst. 

Como o mapa foi feito 

Para o levantamento, o MapBiomas processou dados de 9.650 amostras de solo coletadas no campo por iniciativas de órgãos públicos desde a década de 1950, sobrepondo às informações que já detinha sobre as mudanças de uso da terra ao longo do tempo. 

Os números foram obtidos a partir da análise da dinâmica do estoque de carbono orgânico no solo de 1985 a 2021 em diferentes coberturas e usos da terra, com resolução espacial de 30 metros e mostrando os estoques de carbono nos primeiros 30 cm, em toneladas por hectare (t/ha). 

A ferramenta do MapBiomas que será lançada hoje ainda é uma versão beta e está aberta para colaboração. 

A coordenadora do projeto afirma que ainda há muito espaço para melhorar e enriquecer os mapas. Entre os vetores que a serem incluídos no projeto estão técnicas de manejo do solo e indicadores mais específicos de técnicas, como se há rotação de cultura. “Esses fatores vão conseguir nos ajudar melhor a identificar e definir práticas que contribuem para o aumento do estoque”, diz Horst. 

Os resultados 

Os dados do MapBiomas mostram que, entre 1985 e 2021, a quantidade de carbono estocado no solo coberto por floresta no Brasil caiu de 26,8 bilhões de toneladas para 23,6 bilhões de toneladas (Gt). 

Isso significa uma perda de 3,2 Gt – o equivalente a seis anos de emissões de gases de efeito estufa do Brasil. 

Segundo o levantamento, do total de 37 bilhões de toneladas de carbono orgânico no solo existentes no Brasil, quase dois terços (63%) estão estocados em solos sob cobertura nativa estável, isto é, de vegetação não modificada pelo homem. 

Mais da metade desse estoque, ou cerca de 20 Gt, está na Amazônia.  Apenas 3,7 Gt estão estocados em solos de áreas que foram convertidas para uso antrópico desde 1985.