EXCLUSIVO: Amazon investe R$ 90 milhões para gerar crédito de carbono na Amazônia

Belterra é a parceira do projeto, que pretende implantar sistemas agroflorestais em pequenas propriedades rurais familiares

Fachada com a logo da Amazon, com o fundo preto, dizeres em branco e a tradicional seta amarela abaixo
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A gigante do comércio eletrônico Amazon fechou um contrato com a startup Belterra para gerar créditos de carbono com a restauração da floresta Amazônica, ao mesmo tempo em que beneficia pequenos agricultores da região. O investimento da empresa começa em R$ 90 milhões, mas pode ser multiplicado muitas vezes, a depender do sucesso da empreitada.

“Vamos fazer uma prova de conceito nos próximos três anos. Uma vez validado o modelo, esperamos desenhar uma estratégia de crescimento com a Amazon”, diz Valmir Ortega, fundador da Belterra, especializada no restauro de biomas via sistemas agroflorestais. “A intenção deles é fazer algo maior, mas nós optamos por começar com algo menor e ir escalando.”

Além de investir no projeto, a Amazon também tem a opção de converter uma pequena participação acionária na startup brasileira nos próximos anos.

Ortega diz que a demanda da empresa é por um crédito de carbono “de alta integridade e com alto impacto social”. Traduzindo: que o benefício climático com a remoção de gás carbônico da atmosfera seja incontestável e que exista um benefício social claro.

No modelo da Belterra, não se trata simplesmente de restaurar a vegetação nativa, o que por si só é um grande desafio, mas sim de implantar lavouras integradas à floresta. O consórcio de espécies melhora a produtividade e preserva a qualidade do solo, o que ajuda a diminuir a pressão para expandir a fronteira agrícola no país. A receita vem da venda dos produtos plantados de forma sustentável e dos créditos de carbono de reflorestamento.

Nos três primeiros anos do contrato com a Amazon, a ideia é restaurar 3 mil hectares de floresta em consórcio com culturas como o cacau. O plantio começa nas próximas semanas com 30 famílias no Estado do Pará. Mais adiante a ideia é contemplar outros Estados da região.

“No ano que vem esperamos superar 150 famílias e, em 2025, chegar a 800 a 1000 produtores”, diz Ortega.

As propriedades escolhidas são pequenas, com áreas de 3 a 6 hectares que serão dedicadas à agrofloresta. Um dos critérios para seleção das propriedades que integrarão o projeto é a possibilidade de não depender de mão de obra externa, ou seja, que a própria família seja capaz de fazer o manejo. “O fato de serem pequenas propriedades impõe um desafio adicional porque encarece o nosso trabalho.”

Até aqui, a Belterra vinha desenvolvendo projetos em que a startup fazia toda a operação, trazendo maquinário e mão de obra. “Agora é o produtor que estará à frente da operação.” 

A expectativa com essa área inicial de 3 mil hectares é gerar cerca de 750 mil toneladas de créditos de carbono em 30 anos, que servirão para a Amazon compensar parte das suas emissões. 

A ideia é que os créditos gerados sejam certificados segundo um novo – e mais rigoroso padrão – para créditos de remoção florestal de carbono que a própria Amazon ajudou a desenvolver, chamado Abacus. O novo padrão foi colocado em consulta pública agora em novembro pela Verra, a principal entidade verificadora e que também faz a custódia dos créditos. 

Além do investimento no Brasil, a Amazon também fechou parceria semelhante no Peru, com a Viridis Terra.