Emergentes captaram só US$ 29 bi em fundos climáticos desde Paris

Fundos de private equity, venture capital, infraestrutura e private debt ganharam impulso neste ano, mas estão bem atrás do necessário, mostra estudo

Emergentes captaram só US$ 29 bi em fundos climáticos desde Paris
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Falta muito capital para lidar com a crise climática – e isso é verdade também para o dinheiro de fundos de longo prazo, que investem em ativos não listados em bolsa ou negociados em outros mercados, que em inglês são conhecidos como ‘private capital’.

Desde 2015, quando o Acordo de Paris foi firmado, somente US$ 29,3 bilhões foram destinados a veículos com estratégias climáticas em países emergentes, o equivalente a apenas 4% de todo o dinheiro levantado por essas categorias de fundos. O valor corresponde a aportes feitos em 184 fundos climáticos nos últimos anos, segundo novo mapeamento da Global Private Capital Association.

O FMI estima que países emergente e em desenvolvimento precisarão de US$ 2 trilhões anuais para lidar com a crise do clima, incluindo todas as fontes de financiamento.

A GPCA reúne gestores que, juntos, possuem mais de US$ 2 tri investidos na América Latina, Ásia, África, Leste e Centro Europeu e Oriente Médio. As categorias de fundos cobertas pela associação são private equity, venture capital, private debt, infraestrutura e imobiliários.

De acordo com o levantamento, as incertezas de mercado, com guerras, alta da inflação e dos juros, reduziram o ímpeto de captação desses fundos. Mas, ainda assim, os investimentos climáticos devem subir neste ano em comparação ao anterior.

Até junho, foram captados US$ 2,4 bi em 22 fundos – bem perto dos US$ 2,7 bi registrados ao longo de todo o ano de 2022, mas ainda longe do pico de 2021, quando a britânica Actis levantou US$ 6,2 bi com seu fundo focado em infraestrutura para África, Ásia e América Latina.

Mesmo que as cifras totais ainda sejam baixas, as estratégicas com foco em clima estão se tornando mais diversas e especializadas, apontou a GPCA. O estímulo para isso tem vindo da demanda de investidores institucionais, como fundos soberanos, fundos de pensão e seguradoras, e de organismos multilaterais de desenvolvimento, que têm assumido compromissos climáticos.

Em vez de fundos que abrangem múltiplas regiões, aqueles focados em um único país ou região têm ganhado forças nos últimos dois anos. A maior parte desses recursos vai para África e América Latina, dentre os emergentes. 

No Brasil, o relatório destaca um fundo de US$ 250 mi do BTG para reflorestamento – que atraiu a atenção da Casa Branca – e um de infraestrutura da Vinci Partners, com US$ 185 mi. Além do terceiro veículo da GEF Capital Partners, que fechou US$ 200 mi para eficiência energética, agricultura e soluções urbanas. 

Os tipos de ativos que têm feito investidores abrirem as carteiras também têm variado. 

Os projetos de infraestrutura em energias renováveis embolsaram a maior parte dos recursos dos mercados da GPCA até então, em cada uma das regiões. “No entanto, uma faixa mais ampla de fundos atraiu capital nos últimos 18 meses, com fundos de VC em climate tech subindo para mais de US$ 1 bi na primeira metade de 2023”, afirma o documento. Produtos de private debt e private equity também ganharam mais espaço. 

Na América Latina, depois das fontes renováveis, os fundos concentram seus investimentos em agricultura sustentável e alimentação; floresta e sequestro de carbono; soluções climáticas diversas e geração distribuída. 

O relatório foi publicado às vésperas da COP28, que vai reunir líderes dos setores público e privado para debater soluções para lidar com a crise climática. O tradicional embate entre economias emergentes e desenvolvidas deve marcar a conferência mais uma vez. 

Para evitar os cenários mais trágicos pelas consequências da mudança do clima, os países precisam parar de fazer novos investimentos em combustíveis fósseis e a América Latina, região mais desigual do mundo, precisa redirecionar os fluxos de investimentos já existentes e conquistar novas linhas, afirma o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).