“A gente se questionou internamente: será que é o momento de colocar o pé nesse mercado? Mas era também uma chance de fazer diferente.”
É assim que Carlos Jacob, responsável pela ZEG Florestal, descreve as conversas dentro da empresa há mais ou menos dois anos, no início de uma crise profunda – e que ainda não terminou – no mercado voluntário de carbono.
Mesmo assim, a companhia decidiu seguir adiante. Subsidiária da ZEG, uma empresa de soluções de descarbonização lançada pelos fundadores da comercializadora de energia elétrica Capitale, a ZEG Florestal está desenvolvendo seu primeiro projeto de geração de créditos de carbono na Amazônia.
O timing não é ideal. O preço desses ativos desabou depois de uma série de escândalos envolvendo projetos de conservação da floresta, incluindo uma megaoperação da Polícia Federal em junho do ano passado.
O empreendimento da ZEG Florestal também envolve proteger mata nativa, conhecidos como REDD+. Mas há uma diferença importante, diz Jacob. A maioria das iniciativas existentes busca evitar o desmatamento não-planejado. O projeto da ZEG em Roraima quer evitar a derrubada de floresta permitida por lei.
A companhia fez acordo com os proprietários de uma área de 14 mil hectares no Estado. “Os donos provavelmente iam plantar soja, mas conseguimos convencê-los de que tinha uma alternativa”, diz Jacob.
A ideia é que eles sejam remunerados com a venda de créditos de carbono correspondentes à área que deixaram de desmatar. Na Amazônia Legal, o Código Florestal permite que proprietários derrubem até 20% da vegetação de seus imóveis.
Em Roraima, esse percentual chega a quase 50%, porque mais de 65% do território do Estado é ocupado por unidades de conservação e terras indígenas homologadas.
Jacob estima que os cerca de 6 mil hectares preservados gerem 4,5 milhões de créditos ao longo de 20 anos. Cada hectare corresponde a mais ou menos um campo de futebol.
O preço do carbono
A ZEG Florestal vai atuar como uma desenvolvedora de projetos de carbono tradicional. Além de buscar propriedades onde possa estabelecer projetos de conservação, a companhia vai cuidar de toda a parte burocrática envolvida na certificação das atividades, o que é necessário para a geração dos créditos.
Mas a ideia, diz Jacob, não é ser uma “fábrica”. Cada iniciativa tem características muito peculiares, tanto do terreno quanto das comunidades envolvidas, e abraçar muitas de uma só vez pode significar perda de foco. “Queremos ter poucos projetos, mas de boa qualidade.”
A eventual escala pode vir com o chamado “agrupamento”. Uma vez submetido e aprovado pela entidade certificadora, o empreendimento de Roraima pode crescer com a adição de outras áreas próximas.
O modelo de negócios também segue o praticado pela maior parte das empresas de REDD+ do país. A ZEG Florestal faz uma parceria com o proprietário da terra, mas não adquire os imóveis. As receitas com a venda dos créditos são divididas.
O investimento total no projeto deve ser de R$ 50 milhões, segundo Jacob. Com o preço dos créditos de carbono de desmatamento evitado ainda sofrendo com a crise geral do mercado, como a empresa pretende fazer dinheiro?
“A gente entende que muito da desvalorização está associada à falta de credibilidade”, afirma Jacob. Na visão do executivo, os compradores pagam mais por créditos de boa qualidade. “Precisamos fazer projetos à altura dessa expectativa.”
Um dos planos da companhia é buscar clientes da Capitale interessados em fazer a compensação de suas emissões de gases de efeito estufa.
A previsão de que créditos do mercado voluntário sejam aceitos no sistema regulado, que está em fase de implementação, é outra possível fonte de demanda, segundo Jacob.
Alguns anos vão se passar até que o cap and trade brasileiro esteja em funcionamento, mas a ZEG pode esperar. Na melhor das hipóteses, o projeto de Roraima terá os primeiros ativos para colocar à venda em meados do ano que vem.
E o nome da empresa também dá uma dica da paciência de seus fundadores. ZEG é a sigla de “zero emissions goal” (meta de emissões zero) e também significa “o dia depois de amanhã”, em georgiano.