A Vitreo acaba de abrir um fundo que investe no mercado de carbono europeu, dando acesso ao investidor brasileiro ao mais antigo e consolidado sistema de comércio de emissões de gases de efeito-estufa.
Só neste ano o preço do carbono no mercado europeu praticamente dobrou, em meio aos compromissos cada vez mais robustos de descarbonização dos países que compõem o bloco.
O investimento está disponível a partir de R$ 1 mil, para todo tipo de investidor. Na prática, a Vitreo aplica em contratos futuros de crédito de carbono europeu (o ICE ECX Emission) por meio de operações de swap.
Não há hedge cambial e o investidor está exposto à variação do euro. A taxa de administração é de 0,9% ao ano, com taxa de performance de 10% sobre o que exceder a oscilação do euro mais 5%.
“Se as promessas de redução de emissões forem realmente mais que apenas promessas, o mercado de carbono é muito promissor. E o mercado europeu hoje é o mais robusto para capturar essa tendência”, afirma George Wachsmann, sócio e chefe de gestão da Vitreo.
Tecla SAP
Existem dois tipos de mercado de carbono.
No voluntário, as empresas compram créditos de projetos florestais, por exemplo, para fazer compensação de suas emissões de forma espontânea. Apesar de estar crescendo, esse mercado ainda é bem pequeno, não chegando a mais de 2% do que é negociado no regulado. Além disso, com liquidez relativamente pequena, a formação de preços ainda é mais opaca.
Nos mercados regulados, governos nacionais, estaduais ou regionais determinam esquemas fechados de comercialização, envolvendo setores específicos, para estimular a descarbonização.
É o caso do sistema de comércio de emissões (ETS, na sigla em inglês) europeu, o maior e mais antigo do mundo. Ele está em vigor desde 2005 e movimenta o equivalente a 75% do mercado global de emissões de carbono em volume de negócios e cerca de 85% em valor de mercado.
O ETS europeu engloba principalmente empresas de energia e indústria pesada e abrange cerca de 40% das emissões do território.
Em linhas gerais, ele funciona da seguinte forma: o governo impõe um limite quantitativo (cap) para as emissões das entidades reguladas. Então, criam-se permissões de emissões compatíveis com esse limite, que são vendidas ou distribuídas gratuitamente. O preço dessas permissões se ajusta no mercado.
Vamos supor que uma empresa tenha permissão para emitir 100 toneladas de carbono. Se ela emitir 110 toneladas, vai ter de comprar permissões para essas 10 toneladas extras no mercado.
A lógica é que, quanto maior o preço das permissões no mercado, maior o incentivo das empresas a investirem em tecnologias de redução de emissões.
Expectativa de alta (e riscos)
No mercado, a expectativa é que os preços do carbono no mercado europeu subam nos próximos anos, por conta dos compromissos cada vez mais agressivos do bloco econômico.
A União Europeia quer se tornar neutra em carbono até 2050 e, na Cúpula do Clima de Joe Biden, anunciou que pretende reduzir suas emissões de gases de efeito-estufa em 55% até 2030, frente aos níveis de 1990.
A BloombergNEF vê o preço do carbono no bloco chegando a US$ 100 ao fim desta década. Atualmente, o contrato futuro de carbono com vencimento em dezembro de 2021 está sendo negociado a US$ 47/tonelada equivalente.
Mas, apesar da tendência de alta, investir no mercado de carbono é uma aposta de risco.
Lançado em 2005, os preços no mercado europeu oscilaram fortemente nos primeiros anos de negociação e tomaram um forte tombo depois da crise de 2009, que reduziu a atividade econômica em todo o mundo e resultou num excesso de permissões no mercado.
Depois de uma década de preços deprimidos, houve uma recuperação a partir de 2018. Além do aumento das ambições climáticas, o próprio mercado se desenvolveu e hoje há uma forte preocupação das autoridades europeias em manter a oferta de permissões apertada diante da demanda.
Mas, como em todo mercado regulado, mudanças na política de permissões ou na trajetória de descarbonização dos países do bloco podem trazer oscilações abruptas.
De acordo com a Bloomberg, a comissão europeia considera, por exemplo, reduzir a quantidade de permissões que podem ficar na mão de investidores numa revisão periódica de regras para esse mercado prevista para o fim do ano.
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