re.green terá que corrigir projeto de carbono

Certificadora Verra pede ajustes no plano da startup de reflorestamento, que tem acionistas como a família Moreira Salles, Armínio Fraga e Guilherme Leal

Foto ilustrativa mostra mão apagando uma fórmula na lousa
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A re.green, startup com sócios estrelados focada no reflorestamento da Amazônia e da Mata Atlântica, sofreu um contratempo em seu primeiro projeto de créditos de carbono. O revés não é definitivo, mas demandará retrabalho da equipe da empresa e novos gastos.

Depois de mais de um ano desenhando seu primeiro projeto, no bioma da Mata Atlântica, a empresa o apresentou em dezembro para aprovação e registro da Verra, a principal certificadora de créditos de carbono do mundo, que detém mais de 80% desse mercado.

Cerca de 90 dias depois, no início de março, a startup foi informada de que o projeto tinha cinco aspectos que não atendiam às exigências para a certificação. 

No jargão da Verra, trata-se de uma negação (‘denial’), que significa que o projeto terá que ser corrigido. É um status diferente de rejeição (‘rejection’), que corresponde a uma reprovação definitiva. A informação é pública e está no site da Verra (o link gera um download automático da carta em formato PDF).

As fragilidades apontadas pela entidade vão de data e parâmetros que a re.green usou para marcar o início do projeto até os critérios para definição da linha de base. Os dois aspectos são essenciais para o cálculo dos créditos gerados.

Ajustes

Segundo especialistas consultados pelo Reset, não é incomum que os projetos tenham que ser ajustados, mas no passado era mais comum que as correções fossem negociadas entre os certificadores e a equipe das desenvolvedoras, sem maior alarde ou desgaste.

Mas, sob forte escrutínio público por conta de questionamentos sobre a qualidade e projetos de carbono certificados por ela, a certificadora vem aprimorando sua metodologia e também tornando seus processos mais rigorosos, o que ajudaria a explicar o episódio. 

“Hoje, para aprovar um projeto na Verra é preciso suar a camisa. Antes o processo era mais frouxo e resultou em créditos problemáticos, que ninguém quer negociar”, diz um profissional brasileiro bastante experiente no setor.

No caso da re.green, a negativa inicial chamou ainda mais atenção por se tratar de uma startup com um quadro de acionistas de renome: as gestoras Lanx e Dynamo, o family office dos Moreira Salles, Armínio Fraga, Fabio Barbosa e Guilherme Leal, entre outros. 

Além disso, a empresa foi a primeira a ter um crédito aprovado pelo BNDES para financiar o reflorestamento, numa nova modalidade criada pelo banco de fomento. A aprovação da linha, que ainda não foi sacada pela empresa, aconteceu antes da resposta da Verra.

Uma porta-voz da entidade afirmou à reportagem que “negações ocorrem de vez em quando”. “Vale lembrar que são 2.179 projetos cadastrados. Para proteger a integridade do sistema e cada crédito de carbono que pode ser emitido, são emitidas algumas negações. Trata-se de trabalhar com o proponente do projeto para garantir a integridade [dos créditos]”, completou.

Prazo para correção

O projeto poderá ser reapresentado a partir de 23 de maio, com o prazo limite de 23 de fevereiro de 2025. Na carta, a Verra informa que o projeto só será rejeitado se uma nova versão não for apresentada no prazo ou depois de dois ‘denials’.

Segundo Thiago Picolo, CEO da re.green, a startup está pronta para submeter uma versão revisada. “Foram poucos aspectos apontados e de baixa complexidade.”

“Não nos incomodou o fato de ter alguns achados que precisam ser corrigidos, mas sim o fato de isso ter sido encaminhado na forma de um ‘denial’ em vez de rodadas de perguntas e respostas”, diz Picolo. “É trabalhoso explicar que um ‘denial’ não é uma rejeição.”

Segundo ele, o revés não deverá impactar o planejamento da empresa. “Estamos adiantados no processo, porque na prática poderíamos ter o projeto aprovado até três anos depois do primeiro plantio. Além disso, a nossa primeira emissão de créditos de carbono só está prevista para 2026.” 

Até agora, a re.green já tem 25 mil hectares de áreas compradas nos dois biomas. O plantio começou no quarto trimestre de 2022 e foram plantadas até o momento 3 milhões de mudas. 

O projeto em questão, batizado de re.green Atlantic Forest Reforestation, inclui uma fazenda na Bahia e em outras áreas de Mata Atlântica.

O modelo de negócios da empresa prevê que a atividade de reflorestamento seja remunerada via manejo sustentável de madeira e venda de créditos de carbono.