A Petrobras anunciou sua estreia no mercado voluntário de créditos de carbono na manhã desta terça-feira. Foram 175 mil créditos gerados pela preservação de uma área de 570 hectares da floresta amazônica, o equivalente a 800 estádios do Maracanã, de acordo com comunicado emitido pela estatal.
Os créditos foram adquiridos do Projeto Envira Amazônia, sediado em Feijó, no Acre, e são do tipo de desmatamento evitado, conhecido como REDD+, o mais comum no Brasil. Eles contam com a certificação da Verra, empresa que domina o mercado de verificações de iniciativas REDD+.
“Essa é uma participação piloto inaugural”, disse o presidente da companhia, Jean Paul Prates, em vídeo. O valor da transação não foi divulgado. O plano da estatal prevê investimentos de até US$ 120 milhões em aquisição de créditos até 2027.
A prioridade da Petrobras será adquirir créditos de soluções baseadas na natureza, gerados no Brasil e que contribuam para a conservação e recuperação dos biomas brasileiros, segundo comunicado.
A empresa afirma ainda que a compra de créditos é uma estratégia de compensação de emissões de gases de efeito estufa, complementar à descarbonização da empresa.
De acordo com as mais recentes divulgações estratégicas, entretanto, a companhia tem deixado claro que o foco de sua atuação climática é a redução da intensidade de carbono de suas operações. Recentemente, Prates afirmou que seu desejo é que a companhia seja a ‘última produtora de petróleo do mundo’.
Como atua em um dos setores mais poluentes da economia, a Petrobras deve ser uma das empresas obrigadas a participar do mercado regulado de carbono. Um projeto de lei que cria o sistema tramita no Congresso e há a expectativa de que ele seja votado ainda este mês.
Os críticos dos créditos de carbono afirmam que, para os compradores, eles representam apenas uma “licença para poluir”. Uma série de denúncias publicadas na imprensa internacional questionam a qualidade e a integridade de parte dos créditos transacionados no mercado voluntário.
Existem iniciativas globais para tentar criar uma espécie de autorregulamentação, tanto do lado da oferta quanto do da demanda.
O movimento da Petrobras vai na contramão da gigante britânica Shell, que abandonou seu plano de comprar anualmente US$ 100 milhões em créditos de carbono, de acordo com a Bloomberg.
Ao Reset, a companhia afirmou: “A posição da Shell sobre créditos de carbono, incluindo aqueles gerados a partir de soluções baseadas na natureza, segue inalterada. [A empresa] reconhece que o mercado de carbono pode não estar funcionando de maneira perfeita em todos os lugares do mundo neste momento, mas há discussões sobre como ele pode melhorar”.
(Com Sérgio Teixeira Jr.)