A Organização das Nações Unidas preparou um documento no qual se posiciona contra o uso de créditos de carbono por empresas fora de um ambiente regulado, apurou o Financial Times.
Quando comprados em mercados voluntários, os “créditos de carbono não podem ser contabilizados como reduções de emissões dos próprios [poluidores]”, consta em rascunho do documento visto pelo jornal britânico.
O arquivo foi elaborado pela força-tarefa da ONU sobre os mercados globais de carbono. O grupo, convocado pela equipe de ação climática do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também teria contado com colaborações de outras agências da instituição, como a UNFCCC, a Convenção do Clima.
O mercado de carbono voluntário vem sendo constantemente criticado há um ano e meio, após uma crise gerada por questões de integridade. De forma geral, as preocupações se concentram na qualidade dos créditos e no uso das compensações em vez de cortes efetivos de emissões por parte das empresas.
Em discurso em dezembro, Guterres fez um apelo por compromissos net zero que fossem alinhados com recomendações científicas. “Isso inclui descarbonização genuína com metas detalhadas para 2025, 2030 e 2035. E evitando offsets e créditos de carbono dúbios, em qualquer escopo de emissões”, disse.
No início do mês, mais de 80 ONGs internacionais elaboraram uma carta conjunta na qual pedem pelo fim das compensações com créditos de carbono, que estariam sendo usados em detrimento do corte de emissões.
As críticas feitas pela força-tarefa da ONU reforçam uma preocupação existente do mau uso dos créditos pelas companhias que, não raro, optam por pagar pelos créditos em vez de elaborar um plano de mitigação de emissões, que podem envolver um volume robusto de investimentos e conhecimento de novas tecnologias.
Elas vêm em meio ao desenvolvimento do CORSIA, um esforço global da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), agência das Nações Unidas, para descarbonizar os voos internacionais.
O programa será, na prática, um mercado regulado, com obrigações impostas às empresas aéreas, mas existe a expectativa de que créditos de carbono também negociados no mercado voluntário sejam aceitos como forma de compensar as emissões dos voos, desde que atendam a critérios de elegibilidade estabelecidos pelo CORSIA.
Para que a aviação global atinja a neutralidade de carbono até 2050, dois terços das reduções virão de novos combustíveis, e o restante será objeto de compensações.
* Atualizada com a informação de que o sistema CORSIA vai aceitar créditos também negociados no mercado voluntário desde que atendam a critérios de elegibilidade