O mercado voluntário de créditos de carbono praticamente quadruplicou em 2021 e chegou a quase US$ 2 bilhões, com destaque para os créditos das chamadas “soluções baseadas na natureza”, mostra um relatório divulgado ontem pelo Ecossystem Marketplace (EM).
Num mercado ainda com pouca transparência, a iniciativa, que compila informações reportadas pelos principais desenvolvedores e vendedores de projetos de carbono em todo o mundo, é considerada uma das principais fontes para acompanhar tendências de preços e volumes.
O levantamento anterior da entidade, divulgado em setembro do ano passado, apontava para um valor de US$ 748 milhões em créditos de carbono até agosto.
A barreira de US$ 1 bilhão, que era tida como uma expectativa para o consolidado do ano, foi rompida com folga, puxada tanto por volumes quanto preços maiores.
Em 2021 como um todo, foram transacionados quase 500 milhões de créditos (ou 500 milhões de toneladas equivalentes de CO2), mais que o dobro dos 200 milhões do ano anterior. O preço médio das transações reportadas foi de US$ 4, contra US$ 2,52 no ano anterior.
Os preços variam muito de acordo com o tipo de crédito, portanto o mercado acompanha mais as tendências de preços apontadas pelo relatório que os valores absolutos.
“Em vários aspectos, parece um novo capítulo para o mercado voluntário de carbono, na medida em que o tsunami de novo interesse e de novo capital recai sobre o desenvolvimento de projetos de carbono, e as metas de climáticas e de sustentabilidade impulsionam demanda recorde”, escreveu a equipe do EM no documento.
A entidade acompanha o mercado desde 2005, quando começaram a ser negociados os créditos do Protocolo de Kyoto, em que apenas países em desenvolvimento geravam créditos a serem comprados pelos países desenvolvidos.
Volume e preços de créditos de carbono no mercado voluntário
Soluções baseadas na natureza
Consolidando uma tendência que já vinha se observando nos últimos anos, a maior explosão no comércio de créditos veio da categoria de “floresta e uso da terra”, cujo valor movimentado passou de US$ 315,4 milhões, em 2020, para US$ 1,33 bilhão.
O volume disparou de 57,8 milhões de toneladas de carbono equivalente para 227,7 milhões de toneladas e o preço médio saiu de US$ 5,40 para US$ 5,80.
A área de energias renováveis, que por muitos anos liderou a emissão, veio em segundo lugar, com 221,4 milhões de toneladas, pouco mais que o dobro de um ano antes, e US$ 479,1 milhões em valor (ante US$ 101 milhões em 2020).
Desenvolvedores relatam cada vez mais dificuldade de cadastrar projetos de energia renovável nas certificadoras porque, com as tecnologias como eólica e solar ganhando escala e ficando mais competitivas, fica mais complicado provar a chamada “adicionalidade”.
Nas principais metodologias, um projeto só consegue emitir créditos se prova que tem um efeito adicional, isto é, que não ocorreria sem o incentivo dado pelo crédito. (Entenda mais no nosso Guia Reset de Créditos de Carbono.)
Segundo o EM, 19% do volume de energias renováveis veio de projetos eólicos na Ásia, mas cada vez mais vêm ganhando espaço projetos como biogás de aterros sanitários ou de rejeitos agrícolas, que têm um preço maior que a média de US$ 2,26 por tonelada registrada para a categoria.
Prêmio para co-benefícios e remoções
Outra tendência capturada pelo relatório foi a existência de prêmios para créditos que comprovem que têm outros benefícios ambientais, além da redução de emissões de carbono, e benefícios sociais.
Créditos com CCB, selo mais comum para co-benefícios, emitido pela Verra, principal certificadora do mercado voluntário, negociaram a cerca de US$ 5,25, frente à média geral de US$ 4 captura pelo EM. Os projetos certificados pela Gold Standard, que também atesta benefícios ambientais, ficaram no mesmo nível de preço.
Créditos de remoção de carbono da atmosfera — e não apenas de redução de emissões — também negociaram com ágio. Os projetos florestais com esse perfil, que envolvem reflorestamento, por exemplo, foram precificados a cerca de US$ 7,90 por tonelada, de acordo com o EM.
Eles, no entanto, ainda são mais raros que os créditos de emissões evitadas. O REDD+, que envolve a preservação de florestas sujeitas a risco de desmatamento, respondeu por 65% do total da categoria de “florestas e uso da terra”.