IFC, do Banco Mundial, cria fundo para tokenizar o crédito de carbono

Iniciativa quer resolver problemas de integridade e qualidade que condenaram a primeira onda da tokenização

Ilustração mostra uma representação conceitual do blockchain
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A International Finance Corp (IFC), uma instituição ligada ao Banco Mundial, anunciou um fundo de US$ 10 milhões para testar uma nova plataforma de transações de crédito de carbono em blockchain.

O Carbon Opportunities Fund vai utilizar o Climate Warehouse, sistema em desenvolvimento desde o ano passado pelo Banco Mundial em parceria com a Chia, uma empresa de tecnologia especializada em cripto. Serão negociados apenas créditos de sequestro de carbono por meio do plantio de árvores.

A expectativa é que as primeiras negociações aconteçam no mês que vem. 

O fundo tem alguns objetivos principais, diz Bruce Ian Keith, diretor sênior de investimentos do IFC.

Um deles é demonstrar que o blockchain pode ser o mecanismo para transformar os créditos de carbono em uma verdadeira commodity, negociada globalmente.

Hoje, empresas ou outras organizações que querem compensar suas emissões de CO2 precisam negociar com brokers ou os responsáveis pelos projetos, o que significa pouca transparência de preço.

Mas a primeira onda de créditos no blockchain foi repleta de controvérsias. Como ainda não havia um padrão técnico definido, os pioneiros criaram mecanismos improvisados para tokenizar o carbono.

Essa “gambiarra”, somada à qualidade duvidosa de muitos créditos que vinham sendo colocados on-chain e ao uso do mecanismo para mera especulação financeira, levou a Verra, entidade que certifica e registra a maior parte dos créditos de carbono negociados no mundo, a suspender temporariamente um dos principais mecanismos usados para tokenização. 

Garantia de integridade

O Climate Warehouse estará diretamente integrado aos registros de entidades que fazem a certificação e a contabilidade das compensações climáticas.

Isso deve evitar um dos principais problemas da tokenização hoje, que é o descasamento do controle dos créditos que são usados para compensação de gases de efeito estufa e os que estão mudando de mãos até que seu benefício ambiental seja reivindicado.

Além de solucionar a parte técnica, o fundo terá padrões de qualidade exigentes para os créditos comprados. Eles não poderão ter sido gerados há muito tempo – de safras antigas, como se diz no jargão do setor.

E, crucialmente, só serão aceitos aqueles que corresponderem ao efetivo sequestro de carbono da atmosfera. “Mais precisamente, estamos falando do sequestro de CO2 pelo plantio de novas árvores”, afirma Gene Hoffman, CEO da Chia.

A estratégia e a execução do fundo ficarão a cargo de Cultivo e Aspiration. As duas empresas, que também cotistas do fundo junto com o IFC, são especializadas no desenvolvimento e financiamento de projetos ambientais e serão responsáveis pela escolha dos créditos que serão tokenizados.

Em entrevista à Reuters, Steve Glickman, da Aspiration, afirmou que somente cerca de 10% dos créditos disponíveis hoje atenderiam aos padrões mínimos do fundo.

Não foram divulgados os países em que as duas companhias vão buscar projetos. A Cultivo diz apenas que eles virão de países em desenvolvimento, eventualmente do Brasil, e que os créditos devem conter obrigatoriamente um componente de desenvolvimento das comunidades locais.

Hoffman afirma que um dos grandes problemas das iniciativas pioneiras em blockchain era tratar os tokens como apenas mais uma criptomoeda.

“Vimos muito ‘tokenomics’, um cassino. Eram transações que não tinham nada a ver com esse mercado”, diz ele. “Se houver uma ‘especulação’ adequada ao ativo, vamos estar criando liquidez e ajudando a direcionar mais dinheiro para projetos de boa qualidade.”