Um novo fundo que será criado pelo BNDES pretende alavancar a restauração de florestas nos biomas do Cerrado, da Amazônia e da Mata Atlântica.
A iniciativa foi lançada em meio à profusão de anúncios pró-clima feitos durante a COP26 e agora o BNDES está em busca do gestor do novo mecanismo. O prazo para inscrição dos interessados termina no dia 31.
Batizado de Floresta Viva, o fundo será filantrópico e vai reunir recursos de doação do próprio BNDES (que por estatuto tem que destinar parte do lucro para filantropia) e de empresas parceiras. A estrutura é de um ‘matchfund’, ou seja, para cada R$ 1 do setor privado, o banco coloca R$ 1.
A primeira rodada de captação e investimento do fundo será de R$ 140 milhões no total (metade do BNDES e metade dos demais doadores), e contará com recursos de Petrobras, Fundo Vale, Heineken, Coopercitrus, Itaipu, Philip Morris e Estado do Mato Grosso do Sul.
A ideia é chegar a R$ 500 milhões com futuras rodadas, ao longo de sete anos. “Com os doadores que já aderiram, já temos R$ 86 milhões comprometidos e estamos em conversas avançadas com empresas de energia, frigoríficos e bancos de desenvolvimento internacionais”, diz Bruno Aranha, diretor de crédito produtivo e socioambiental do banco.
Com isso, a meta é restaurar entre 16 mil e 33 mil hectares de florestas – um hectare equivale à área de um campo de futebol – e capturar até 9 milhões de toneladas de CO2.
O foco são pequenas propriedades rurais, áreas indígenas e quilombolas. “Como são recursos filantrópicos, estamos focando em quem mais precisa de apoio financeiro”, diz Aranha.
O gestor selecionado será o responsável por administrar os recursos e também selecionar o pipeline de projetos que receberão os aportes. O dinheiro poderá ser usado para restauro de floresta nativa ou então na implantação de sistemas agroflorestais.
Escala e créditos de carbono
O modelo escolhido replica algo que já é feito: doações para pequenos projetos. Especialistas da área florestal consultados pelo Reset avaliam que a iniciativa poderia ter um impacto maior se o fundo fosse constituído com uma lógica empresarial, em que um gestor fosse contratado para selecionar as áreas de restauro e pudesse fazer isso em escala, desenvolvendo fornecedores e tecnologias e reduzindo o custo da recuperação por hectare.
Segundo Aranha, esse outro desenho não está descartado para o futuro.
“Essa é uma das iniciativas e não estamos fechados para outras possibilidades.” Segundo ele, um dos limitadores de um fundo de investimento para reflorestamento é que as empresas ainda encaram a atividade como uma despesa e não como um investimento. O bolso acessado ainda é o da filantropia.
Embora os recursos sejam de doação, as empresas que aderiram poderão ter como contrapartida créditos de carbono gerados pelos projetos. “Desde que devidamente certificados, esses projetos poderão emitir créditos de carbono e as empresas poderão receber os créditos na proporção dos recursos doados”, explica o diretor.
A estimativa é que ao longo do tempo de vida dos projetos possam ser gerados créditos no valor de R$ 200 milhões a R$ 450 milhões para os apoiadores do Floresta Viva.
Para o banco, o fundo cumpre o papel de ajudar a fomentar o ecossistema de oferta de créditos de carbono no mercado voluntário. “Queremos trazer empresas, criando uma governança do fundo da qual elas vão participar e começar a formar um consenso em torno de padrões e certificadores aceitáveis e, assim, criar uma massa crítica para o Brasil.”
No lado da demanda, o banco já anunciou que se prepara para realizar leilões periódicos de compra de créditos de carbono. “Nos próximos meses vamos começar com um piloto de R$ 10 milhões e a ideia é partir para leilões de volumes mais significativos, na casa de R$ 50 milhões.”
(Crédito da foto: Rogean James Caleffi/Unsplash)