O preço do carbono no mercado europeu superou pela primeira vez os € 100 por tonelada – rompendo uma barreira que deve incentivar de fato a adoção de tecnologias verdes emergentes.
Nos últimos três anos, o preço no mercado regulado da União Europeia quintuplicou, em meio ao aperto das regras da região para atingir a meta de se tornar net zero até 2050.
Estimativas levantadas pelo Financial Times mostram que tecnologias como a captura e armazenagem de carbono diretamente na fonte de emissão, consideradas imprescindíveis para descarbonizar indústrias intensivas, hoje custam entre € 90 e € 120 por tonelada.
Um estudo do Goldman Sachs, batizado de Carbonomics, aponta que um preço de carbono a € 100 por tonelada é suficiente para abater cerca de metade das emissões globais.
O mercado europeu é o maior e mais longevo sistema de comércio de emissões de gases de efeito estufa do mundo.
Nesse sistema empresas de energia e indústria têm um limite de permissões para emitir gases de efeito estufa, que vai sendo paulatinamente reduzido.
Se estourarem as cotas, as empresas reguladas precisam comprar permissões novas no mercado. Na mão oposta, quem cumpre as metas pode vender os excedentes de permissões no mercado.
Uma das ideias por trás da precificação de carbono é fazer com que as empresas coloquem na ponta do lápis o que faz mais sentido financeiro: comprar os créditos ou investir para efetivamente reduzir as emissões.
(Entenda a diferença entre o mercado regulado e o mercado voluntário de créditos de carbono.)
Em trajetória ascendente
Por muito tempo, as cotações do CO2 ficaram em patamares baixos – especialmente após a crise de 2008, que derrubou a atividade econômica mundial –, o que levou a um certo ceticismo sobre sua eficácia como ferramenta de combate ao aquecimento global.
O cenário vem mudando nos últimos anos, numa experiência que traz um caminho para países que querem adotar a ferramenta para combater as emissões – o Brasil entre eles.
O salto recente na União Europeia nos preços ocorreu depois que o bloco passou a mais profunda reforma no sistema de comércio de emissões, em dezembro do ano passado.
Serão feitos cortes nas permissões de emissões para as empresas reguladas e parte delas que eram distribuídas gratuitamente passarão a ser cobradas.
No total, o número de permissões será 62% menor em 2030 do que era no início do sistema, em 2005.
Além desse fator estrutural, alguns fatores pontuais também ajudam a explicar a alta dos últimos meses.
A guerra na Ucrânia interrompeu o fornecimento de gás vindo da Rússia e trouxe um aumento no uso do carvão, muito mais poluente – o que fez com que muitas empresas de energia tivessem que comprar mais permissões.
Traders ouvidos pela Bloomberg apontam também que a expectativa de uma queda na temperatura no Norte da Europa para baixo das médias históricas nas próximas semanas fez com que as geradoras de energia comprassem mais créditos de carbono para fazer hedge ao aumento da demanda para aquecimento.