A Ambipar acaba de anunciar a compra do controle da Biofílica, empresa pioneira no desenvolvimento de projetos florestais para geração de créditos de carbono, fincando o pé no mercado de compensação de gases de efeito-estufa e ampliando sua oferta de serviços no segmento de ‘environment’ para além do tratamento de resíduos.
Essa é a 18ª aquisição da Ambipar desde o seu IPO, em julho do ano passado. De lá para cá, as ações da companhia já subiram quase 75%.
Para a Biofílica, fundada em 2008, a compra vai prover acesso a capital e clientes para dar escala ao negócio de projetos florestais e ampliar o leque de serviços ambientais, não só gerando créditos de carbono a partir de outras atividades, como a agrícola, mas entrando em novos segmentos.
“A ideia é continuar com o foco em conservação de florestas na Amazônia, mas transformar a empresa na maior provedora de soluções baseadas na natureza do mundo, uma ‘one stop shop’ com um conjunto de soluções para os clientes que querem se tornar neutros em carbono”, disse ao Reset Plínio Ribeiro, fundador e CEO da Biofílica, que se manterá à frente da empresa.
A aquisição de 53,6% das ações da Biofílica se dará majoritariamente na forma de aumento de capital, que vai diluir os atuais acionistas, com exceção de Ribeiro, que manteve sua fatia.
Uma parte menor da transação será secundária, mas nenhum dos sócios atuais deixa o negócio. Entre os investidores estão o fundo de impacto MOV, com recursos dos fundadores da Natura, e a Lorinvest, da família Lorentzen (ex-Aracruz) e Zestpar.
Para a Ambipar, a aquisição traz para dentro de casa uma solução para atender a demanda crescente por offsets, que ainda não estava no portfólio.
Hoje, o braço de Environment da companhia oferece soluções de gestão de resíduos voltadas principalmente para a indústria, desde serviços de logística reversa até valorização de resíduos, transformando em novos produtos e matérias-primas o que antes teria como destino o lixo, dentro do conceito de economia circular.
A Ambipar ainda não gera créditos de carbono a partir das suas operações, mas já declarou que pode entrar nesse mercado certificando créditos a partir de projetos de reciclagem e valorização de resíduos — o que vem sendo encarado como uma opcionalidade pelo mercado.
Ainda assim, o mercado de créditos voluntários a partir de gestão de resíduos é apenas uma fração do segmento de offsets florestais, que explodiu no último ano, em meio à demanda cada vez maior de empresas com os compromissos de net zero.
Em meio ao boom, o ramo chamado de Nature Based Solutions (NBS) passa por forte consolidação no mundo todo, com grandes players adquirindo empresas do porte da Biofílica. Ontem, a trading de energia e commodities Hartree Partners anunciou a compra da Wildlife Works, uma espécie de Biofílica americana.
“É um setor em que você precisa de escala para ser relevante do ponto de vista do clima e precisa de capital para atingir essa escala”, diz Ribeiro.
Portfólio de soluções
A Biofílica foi precursora no desenvolvimento dos projetos de conservação de florestas na Amazônia chamados de REDD+, ou Redução da Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, e, atualmente, tem a maior área do mundo para certificação de créditos de carbono de origem florestal, com 1,5 milhão de hectares.
A lógica aqui é gerar créditos de carbono a partir do desmatamento evitado das áreas preservadas e o dinheiro obtido com a venda dos créditos entra justamente para financiar a preservação. (Como desenvolvedora, a Biofílica atua como intermediária, levando um fee pelo desenvolvimento e comercialização do projeto.)
Ribeiro diz que o maior potencial de crescimento da empresa ainda virá desse negócio original. Mas nos últimos anos a Biofílica começou a se preparar para ampliar o leque de atuação para gerar créditos de carbono em outras duas frentes: a de agricultura e a de restauração florestal de áreas degradadas.
“Em agricultura, o princípio é induzir práticas melhores para atingir o sequestro de carbono”, explica Ribeiro. A empresa vem desenvolvendo projetos para cadeias de fornecimento do agronegócio e deve anunciar em breve um contrato grande na pecuária.
Na frente de restauração de florestas, está em andamento um projeto para replantar 60 mil hectares de Mata Atlântica, no Pontal do Paranapanema. Se nos projetos de conservação os créditos de carbono são gerados pelo desmatamento evitado (que liberaria CO2), no replantio trata-se de remover carbono da atmosfera.
Por fim, a empresa começa a olhar também para projetos de chamado ‘blue carbon’, desenvolvidos em regiões costeiras, como manguezais, e que tem grande potencial no Brasil.
“A ideia é ampliar entre cinco e dez vezes a nossa capacidade de geração de créditos de carbono nos próximos anos”, diz Ribeiro.
Quinto andar das florestas
Além da geração de créditos de carbono, a empresa abriu uma nova unidade de negócios, a de compensação de reservas ambientais. Pelo código florestal, os produtores rurais precisam preservar um percentual de mata nativa em suas propriedades, que varia de bioma a bioma. Mas muitos estão desenquadrados da exigência.
A Biofílica desenvolveu uma espécie de ‘banco de reservas florestais’, com 4,6 milhões de hectares em todos os biomas brasileiros, para oferecer a compensação a quem precisa cumprir o percentual mínimo. A lógica é trabalhar como uma espécie de corretora imobiliária de florestas. “Meu sonho é ser o Quinto Andar das florestas”, brinca Ribeiro.