Cali, Colômbia – Liderada por grandes investidores globais, a iniciativa Nature Action 100 avaliou como 100 empresas ao redor do mundo estão lidando com a natureza e a biodiversidade. As brasileiras Suzano, Vale e JBS integram a lista, ao lado de BASF, AstraZeneca, Carrefour, Nestlé, Glencore e outras gigantes.
A análise, apresentada durante a COP16 da Biodiversidade, foi feita com base na expectativa do grupo de mais de 230 investidores, que soma US$ 30 trilhões em ativos sob gestão, em seis aspectos: ambição, avaliação, metas, implementação, governança e engajamento.
A conclusão foi de que as empresas ainda estão dando os primeiros passos. A ambição está lá, mas ainda existem lacunas importantes nos aspectos de avaliação e implementação.
A Nature Action 100 foi lançada em 2022 por investidores preocupados com riscos materiais, sistêmicos e financeiros causados pela perda de biodiversidade. A lista inclui a AXA Investment Managers, as assets do BNP Paribas e HSBC, a europeia Amundi e a APG Asset Management, uma das maiores gestoras de fundos de pensão da Europa.
Batizada de ‘Nature Action 100 Company Benchmark’, a avaliação recém-lançada serve como uma fonte de informação e engajamento, diz Meryl Richards, diretora de florestas e alimentos na ONG americana Ceres e uma das responsáveis pelo levantamento.
“Os investidores estão bem animados porque agora sabem como cada uma das companhias está performando em comparação às expectativas e podem questioná-las.”
Na outra ponta, as empresas têm a possibilidade de comparar seu avanço com uma base mais ampla e ter mais clareza da expectativa dos investidores. “Pela primeira vez, criamos uma lista de expectativas comuns que nos permite falar com uma única voz”, diz Emine Isciel, líder de clima e meio ambiente na Storeband, que administra mais de US$ 120 bilhões. “Nas conversas com nossas investidas, elas apreciam a iniciativa. Você não pode ter 300 investidores esperando coisas distintas.”
A iniciativa também permite pressionar que as companhias avancem em direção às metas estabelecidas pelo Marco Global da Biodiversidade para o setor privado, afirma Isciel.
A metodologia
O benchmark contou com 17 indicadores e 50 métricas para as empresas, e as informações foram retiradas de divulgações públicas, presentes em relatórios de sustentabilidade, por exemplo.
A intenção é que esta seja a primeira de uma série anual de avaliação que permita acompanhar o progresso das empresas e facilite o entendimento de movimentos importantes em setores que são sistematicamente relevantes, na percepção da Nature Action 100, para reverter a perda da natureza e da biodiversidade até 2030.
Das 100 companhias, 68 já têm algum compromisso público de proteção à natureza, sendo que 46 incluem toda a cadeia de valor. Já 47 delas apresentam metas para evitar ou reduzir o impacto sobre a natureza, e 37 mostram também as estratégias para alcançá-las.
“Nós estamos vendo uma lacuna na parte de avaliação das empresas sobre os riscos, impactos, dependências e oportunidades ligados à natureza, e isso não é nenhuma surpresa”, diz Richards, que espera que isso mude em breve, considerando que parte das companhias na lista já se comprometeram em adotar a Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD), parâmetro para incluir a natureza no balanço financeiro.
Nenhuma empresa apresentou a dependência da natureza como algo material para seu negócio, nem metas ligadas a isso. A Vale foi a única a divulgar os impactos materiais que suas operações diretas podem ter sobre a natureza.
Um outro ponto destacado por Richards foram as estratégias de implementação apresentadas pelas empresas, importantes para que elas demonstrem que estão lidando com os riscos de maneira eficiente.
“Não esperamos que as companhias tenham um plano amplo de implementação se ainda estão na fase de avaliar seus negócios e definir metas, mas o mais importante é que pouquíssimas companhias, apenas 16, têm indicadores ligados ao reconhecimento de direitos indígenas e comunidades locais, que são fatores críticos para várias companhias de setores refletidos em nossa linha. Nesta área, uma ação muito mais ambiciosa precisa ser feita.”
Primeiros passos
Ao começar a entender a relação entre biodiversidade e a empresa, os executivos devem refletir sobre uma série de questões, sugere Richards.
“Ao falar de avaliação, mais especificamente, vale se perguntar: o que significa para a empresa avaliar seus impactos e dependências, e riscos e oportunidades? Quase como qual a hípotese que levantam para isso. O que esperam encontrar? Quais os limites que imaginam para tema? Esses são os primeiros paassos para garantir que está se fazendo o trabalho mais eficiente possível”, diz.
O resultado completo da primeira análise pode ser acessado aqui. Nos próximos meses, a Nature Action 100 deve disponibilizar um material mais detalhado, com especificidades dos diferentes setores representados na lista.