BCE divulga regras para teste de estresse climático — e quer ver impacto de carbono a US$ 100/t

Instituições terão que estimar não só como o risco das mudanças climáticas pode afetar suas carteiras de empréstimo, mas também suas operações de ‘trading’ no mercado

BCE divulga regras para teste de estresse climático — e quer ver impacto de carbono a US$ 100/t
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O Banco Central Europeu acaba de divulgar os parâmetros do primeiro teste de estresse climático a que serão submetidos os bancos do bloco, que será rodado de março a julho do ano que vem. 

Com as regras publicadas hoje, veio uma novidade. As instituições terão que estimar não só como o risco das mudanças climáticas podem afetar suas carteiras de empréstimo, mas também suas operações de ‘trading’ no mercado, segundo a Bloomberg.

As regras do BCE são seguidas com lupa pelos reguladores bancários do mundo todo, porque a autoridade europeia tem liderado essa agenda, servindo de parâmetro para os demais. 

O Banco Central do Brasil está na vanguarda do movimento e quer rodar um teste de estresse climático para as instituições locais já no ano que vem

Os testes de estresse tradicionais foram criados para medir o impacto de choques externos sobre a solvência do sistema financeiro e, nos últimos anos, a mudança climática começou a entrar no radar dos reguladores.

Pelas novas regras, os bancos europeus terão que prever como seus balanços irão reagir aos riscos climáticos pelos próximos 30 anos, bem como quaisquer perdas relacionadas à transição para uma economia de baixo carbono.

Independentemente do resultado, por enquanto nada disso terá impacto sobre o requerimento obrigatório de capital dos bancos, esclareceu o BCE. 

Mas a autoridade sinalizou que espera que os bancos comecem a entender concretamente os riscos climáticos a que estão expostos e que, aqueles que não convergirem nessa direção, poderão enfrentar maiores exigências de capital no futuro.

Carbono a US$ 100/t 

O BCE quer que os bancos considerem em suas contas uma precificação das emissões de carbono. A determinação é que as instituições incluam em suas contas um ‘aumento acentuado’ do preço das emissões num horizonte de tempo bem mais curto do que vem sendo contemplado por outros reguladores, de apenas três anos. 

Nesta parte de curto prazo do teste, os bancos devem assumir que os preços do carbono aumentarão para US$ 100 por tonelada até 2024 (hoje, os preços das permissões no mercado regulado europeu estão na casa dos US$ 65).  

A autoridade disse que considera esse cenário um “risco de cauda”, mas que testará a vulnerabilidade das exposições atuais dos bancos a “uma transição desordenada”.

Segundo o BCE, esse “aumento acentuado e inesperado no preço das emissões de carbono ou outras medidas não relacionadas a preços para reduzir as emissões” atingiria as indústrias intensivas em carbono, enquanto outras partes da economia também sofreriam um impacto indireto via cadeias de produção e outros efeitos secundários.

O BCE também quer saber quanto da receita dos bancos vem de setores intensivos em carbono e qual a pegada de carbono da carteira de crédito, ou seja, o volume de emissões de CO2 que está sendo financiada pelas instituições financeiras. 

Riscos físicos de grandes desastres climáticos, como inundações e queimadas, também terão que entrar na conta — neste caso considerando o horizonte de um ano.

Prévia

Numa espécie de prévia dos testes de estresse que o BCE e o Banco da Inglaterra conduzirão, um relatório divulgado há duas semanas pela Jefferies apontou que o alemão Commerzbank é, potencialmente, o banco mais exposto a negócios intensivos em carbono na Europa, seguido pelos italianos UniCredit e Intesa SanPaolo.

Na outra ponta, bancos dos países nórdicos e do Reino Unidos foram apontados como os ‘mais verdes’, segundo a Bloomberg. O relatório só considerou bancos listados em bolsa. O Deutsche não fez parte do levantamento porque não é coberto pela casa.