Systemica, de créditos de carbono, entra no negócio de agroflorestas

Empresa que tem BTG como sócio adquire a paraense Arapuá; objetivo é conjugar reflorestamento com produção de cacau

Systemica, de créditos de carbono, entra no negócio de agroflorestas
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A desenvolvedora de créditos de carbono Systemica adquiriu a Arapuá, uma companhia paraense especializada na implantação de sistemas agroflorestais (SAF), como são chamadas as áreas que conjugam cultivo de alimentos e florestas.

Com a transação, a Systemica, que tem o BTG Pactual como sócio minoritário, amplia seus esforços no negócio de reflorestamento, num movimento de diversificação de seu portfólio de ativos ambientais. O valor do negócio não foi divulgado.

A especialidade da companhia são as atividades que geram créditos de carbono protegendo a floresta. Conhecidos como REDD+, esses créditos estão no centro de escândalos e problemas de integridade que derrubaram os preços e colocaram o setor contra a parede.

A Systemica já deu os primeiros passos em recuperação de áreas degradadas, que pode ser dividido em duas grandes categorias: a ecológica e a produtiva.

A primeira envolve essencialmente o plantio de espécies nativas com o objetivo de recompor paisagens naturais que foram devastadas.

Os projetos são rentabilizados com a venda de créditos correspondentes ao CO2 que as árvores vão remover da atmosfera. Esse créditos de remoção têm sido negociado por preços mais altos que os de desmatamento evitado – e há um aumento significativo na demanda por parte de grandes compradores internacionais, como Microsoft e Apple.

A especialidade da Arapuá é o restauro produtivo, com culturas de valor comercial, como cacau e açaí, são plantadas em consórcio com a floresta.

Nesses casos, a expectativa é que 80% da receita venha da produção agrícola, e o restante, da venda de créditos. O dinheiro da agricultura recorrente vem antes, pois o carbono depende do crescimento das árvores, e garante resiliência financeira aos projetos, segundo Soares.

Traduzindo o farialimês

A meta da Systemica é recuperar 40 mil hectares de terras degradadas até 2030. Dois terços desse total serão restaurados ecologicamente. Com a alta demanda de capital do reflorestamento, o terço em que serão implementados os SAF são essenciais para atingir esse objetivo, diz Soares.

O custo estimado para regenerar um hectare, o equivalente à área de um campo de futebol, fica na casa das dezenas de milhares de dólares. Os primeiros créditos de carbono só são gerados quando as árvores atingem um determinado tamanho, o que leva anos.

Fundada em 2021, a Arapuá já implementou SAFs em 400 hectares no Pará, a maior parte deles como prestadora de serviços da Belterra, outra startup focada em agroflorestas.

A experiência e o conhecimento local do fundador da companhia, Eduardo Martins, foram decisivos para o negócio. “Fazemos de tudo: temos contato com proprietários e associações para originar áreas e [com fornecedores] de maquinário, insumos, mudas”, afirma ele.

Nascido e criado na região de Parauapebas, no sudeste do Estado, Martins resume da seguinte maneira a importância do acesso:

“Se você chegar para um produtor e falar: ‘Olha, vamos fazer uma operação de equity aqui’, ele vai sorrir e dizer: ‘Beleza’, mas não vai entender aquilo. Tem que traduzir a conversa da Faria Lima.”

A Systemica não compra propriedades. Existem dois modelos possíveis: arrendamento de terras, com toda a produção sob responsabilidade da Systemica, ou parceria rural com divisão de receitas.

Mercado estruturado

O cacau é o foco inicial dos sistemas agroflorestais da companhia. Uma crise nos países produtores da África Ocidental levou a commodity a recordes históricos no primeiro semestre deste ano, mas a decisão não tem a ver com o movimento recente do mercado, diz Felipe Monteiro, diretor da Systemica que vai assumir o comando da Arapuá (que será uma subsidiária da Systemica).

“O Brasil é importador de cacau. E é um mercado profissional, com grandes empresas compradoras e uma cadeia bem estruturada. São ventos muito favoráveis”, afirma Monteiro.

Os cacaueiros começam a dar frutos em três anos, e a produção se estabiliza em cerca de cinco ou seis. Culturas de ciclo curto, como feijão guandu, banana e mandioca são alternativas para a geração de receita mais imediata.

A visão de longo prazo é transformar a Arapuá numa companhia especializada em ingredientes amazônicos. Monteiro afirma já haver estudos sobre a produção de açaí.

Construtora de florestas

Mas é o cacau a estrela das várias iniciativas de sistemas agroflorestais que vêm surgindo no país.

Monteiro compara a Arapuá a uma “construtora de florestas”. O plano é erguer as primeiras “unidades decoradas”, mostrar os resultados para os investidores e buscar crescimento.

“Tudo é planejado. Plantamos em linhas, para ter espaço para o maquinário. Tenho uma lógica para escolher as espécies nativas. Cada uma tem sua função, seja sombrear, disputar a predação, aumentar a polinização. Nada ali é aleatório”, afirma Martins.

O objetivo é produtividade e rentabilidade, o que significa produção não-orgânica. Martins afirma que abrir mão de insumos químicos exige de três a quatro vezes mais mão de obra, para um resultado inferior.

O interesse pelo reflorestamento e pelos créditos de remoção de carbono não significa que a Systemica esteja deixando de lado o negócio do desmatamento evitado, afirma Munir Soares, o CEO.

“Pelo contrário, ainda temos metas ambiciosas de conservação. A gente só está seguindo o que a nossa vovó falava: não coloque todos os ovos numa cesta só.”