
Chocolates com DNA amazônico e sabor de floresta em pé. Assim a venture builder CBKK define a Mágio, biotech que fabrica chocolate nativo da Amazônia. Focada em negócios com impacto socioambiental, a CBKK fez um investimento de R$ 8 milhões na fabricante de chocolates.
Novo nome da marca DeMendes, a Mágio vai usar os recursos no aumento da produção e pontos de vendas, com abertura de lojas próprias. Atualmente a empresa conta com uma fábrica, em Santa Bárbara do Pará, a cerca de 50 km de Belém.
A primeira fábrica fora da Amazônia, que também é uma loja, acaba de ser inaugurada em São Paulo, no bairro do Itaim Bibi. César De Mendes, o fundador da marca, conta que a ideia é levar um chocolate artesanal, com cacau produzido por populações indígenas e tradicionais, diretamente ao coração econômico do país, onde a maioria das pessoas não conhece o Brasil das florestas.
A estimativa é crescer em oito vezes a capacidade atual de produção, que é de 12,5 toneladas por ano, e atingir 100 toneladas somente na fábrica de São Paulo.
“Levamos para São Paulo um pouco das comunidades da Amazônia, suas tradições. Usamos o chocolate como veículo para expandir essas histórias. O plano de crescimento da marca inclui forte ampliação no sudeste”, diz Marcelo Tucci, CEO da CBKK. Além do capital, ela faz a aceleração dos negócios, participando ativamente da operação.
Segundo Tucci, o plano é abrir mais duas lojas em São Paulo neste ano e testar novos pontos de vendas, como quiosques em parcerias com outras marcas. A projeção é duplicar o crescimento da marca nos próximos 12 meses – a startup não divulga valor de faturamento.
Até então, a distribuição dos chocolates era feita por meio do e-commerce da marca e por representantes comerciais, que vendiam os chocolates para varejistas. Agora, a ideia é apostar na venda direta nos pontos de venda próprios e no e-commerce, que está sendo remodelado.
A mudança na estratégia comercial e do nome da marca tem como objetivo ampliar o alcance do público consumidor e levar os sabores da Amazônia para outros lugares do país. Em esperanto, Mágio significa magia.
“Chocolate é um agente mágico de transformação socioambiental para os produtores do cacau, para a conservação das florestas e também para os consumidores, que têm suas memórias afetivas marcadas pelo chocolate”, diz Tucci.
Cacau da floresta
Em vez de espécies adaptadas e plantadas em monocultura, a Mágio usa como matéria-prima apenas o cacau nativo, ou “plantado por Deus”, como costuma dizer o fundador.
A marca trabalha diretamente com o plantio agroflorestal de cacau com comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. O manejo que otimiza o uso da terra, conciliando a plantação de outras culturas, reduz a pressão de desmatamento uma vez que garante renda da população local com a manutenção da floresta em pé.
Cerca de 3,5 mil pessoas estão envolvidas no cultivo. Além da venda do cacau, elas são remuneradas com o pagamento por serviços ambientais (PSA), uma vez que garantem a conservação de 300 mil hectares de floresta nativa.
O fundador da DeMendes explica que a floresta é um lugar excelente para o cacau, que cresce na sombra das árvores. A disponibilidade de água, incidência de luz e vegetação geram um equilíbrio de microrganismos que impactam o sabor do fruto – e do futuro chocolate.
Para aproximar o consumidor, a história das comunidades que produzem o cacau estampa as caixas do chocolate da marca.
Parte dos recursos do aporte da CBKK será usado para aprimorar a rastreabilidade do cacau. A marca usa um sistema em blockchain que permite ao consumidor final acessar toda a história daquela barra, incluindo fotografias e imagens de cada passo da produção.
Preço recorde
A aposta da CBKK vem num momento de forte oscilação do cacau no mercado internacional. No ano passado, ele foi a commodity com a maior alta do mundo, subindo 200%.
Os preços quase triplicaram devido à escassez de oferta do fruto, que vem sofrendo com os efeitos das mudanças climáticas nas safras. Costa do Marfim e Gana, que respondem por cerca de metade da produção mundial, têm sofrido com aumento das temperaturas e períodos prolongados de chuva ou seca.
O movimento não impactou a Mágio, que tinha estoque de cacau e já trabalha com valores acima do mercado – ela chega a pagar quatro vezes mais que o valor de mercado pelo cacau amazônico.
Os valores baixaram este ano, mas seguem voláteis. A expectativa é que a Amazônia ganhe importância como região produtora de cacau – primeiro no mercado doméstico, que ainda depende de importação, e eventualmente como um importante centro de exportação no futuro.
“O cacau é originário da Amazônia e a região deveria ser a maior exportadora do mundo. Estamos confiantes que isso acontecerá nos próximos dez anos. No momento, a Mágio está exportando amêndoas finas”, diz Tucci, da CBKK.