A gestora KPTL acaba de investir R$ 8 milhões na Ages Bioactive, uma startup baseada em São Paulo que desenvolve suplementos para saúde a partir de bioativos da floresta amazônica, como o urucum e o camu-camu (foto).
O aporte inaugura os investimentos do recém-lançado Fundo Floresta e Clima, voltado para soluções que mantém a mata em pé, e que tem o Fundo Vale, braço filantrópico da mineradora de mesmo nome, como co-estruturador.
Fundada em 2019, a Ages busca ativos que promovam a longevidade com saúde e qualidade de vida, unindo duas tendências: o envelhecimento da população e atividades que contribuam para a manutenção da biodiversidade e evitem o desmatamento.
Ela atua dentro do universo conhecido como “nutracêuticos”, de fármacos obtidos a partir dos alimentos.
“Vários biomas no mundo já têm seus princípios ativos consolidados e globalizados: o ginkgo biloba, da Ásia, o resveratrol [vindo da uva], dos europeus. Temos o maior laboratório do mundo, que é a Amazônia, e esse potencial todo ainda é muito pouco conhecido e explorado”, afirma o CEO Caio Agmont, sublinhando que a ambição da empresa vai além do mercado nacional.
Agmont trouxe a experiência comercial e operacional de quase duas décadas no Grupo Adeste, que atua na produção de princípios ativos para saúde e nutrição e que desde o começo dos anos 2000 já atuava com urucum.
Entre os quatro fundadores, está também o professor José Carlos Tavares, doutor em farmacologia e um dos maiores e mais respeitados especialistas em fitoterapia amazônica. É ele quem coordena a área de pesquisa e desenvolvimento da Ages, que inclui 16 pesquisadores da Universidade Federal do Amapá, de onde foi reitor por dois anos, de 2006 a 2014.
Há ainda outros 35 funcionários na companhia, que fica sediada no complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo. A Ages é dona das fórmulas, patenteadas, mas a produção é feita em fábricas parceiras.
“Somos um fundo de impacto voltado para a floresta, e a preservação da floresta passa por ter produtos de alto valor agregado e gerar renda para mantê-la de pé de maneira sustentável”, diz Danilo Zelinski, head do fundo Floresta e Clima. “A Ages traz tudo isso financiando pesquisa e a academia local.”
Por prescrição
Em vez da abarrotada seção de suplementos disponíveis nas prateleiras das farmácias, a Ages atua no mercado de medicina personalizada. Suas substâncias são receitadas por médicos e nutricionistas e produzidas por farmácias de manipulação.
O primeiro produto foi lançado no ano passado. Batizado de Chronic, ele é feito a partir do urucum e tem duas moléculas inovadoras principais que atuam na prevenção e modulação de doenças musculares e esqueléticas, como osteopenia, osteoporose, artrite e mialgias.
O segundo, chamado de Ormona, acaba de chegar ao mercado e é voltado para a saúde da mulher, especialmente aquelas que se aproximam do climatério.
Há sete outros em desenvolvimento, com pesquisas que exploram o potencial da flora local, como açaí, buriti, copaíba, tucumã e o camu-camu.
“Estamos sentados em um caminhão de pesquisa que precisava de financiamento para seguir para as próximas etapas, e o dinheiro que estamos captando vai, em parte, dar vazão a isso”, afirma Agmont.
A entrada de um fundo com viés de impacto também deve ajudar a estruturar a relação com a cadeia de fornecedores locais. A Resultante, consultoria especializada em ESG, auxilia o fundo na mensuração e estratégia de impacto.
“Para conseguir extrair o melhor dos insumos, precisamos que eles sejam extraídos e manuseados da forma correta. A floresta em pé é crucial para o nosso negócio”, afirma o CEO. “Vamos passar esse conhecimento e ajudar a cadeia nas práticas de manejo sustentável.”
Venture capital da floresta
Lançado oficialmente há pouco mais de um mês, o Fundo Floresta e Clima pretende captar até R$ 200 milhões.
Parte deste valor virá do Fundo Vale, braço filantrópico da mineradora que vai executar as metas de preservação e reflorestamento da mineradora por meio do apoio a startups. Outros investidores incluem Denis e Ilana Minev, da família controladora da varejista Lojas Bemol.
O veículo busca startups em diferentes estágios de desenvolvimento, da fase inicial, o chamado pré-seed, passando pelo seed até a etapa de captação de série A, e quer ter entre 25 e 35 empresas no portfólio nos próximos cinco anos.
A atuação está em quatro principais verticais: florestas, carbono, bioeconomia e economia regenerativa.