Amazônia: Sumiço dos rios paralisa a economia da floresta

Estiagem deixa sem renda comunidades que dependem de turismo comunitário, pesca e manejo florestaL

Amazônia: Sumiço dos rios paralisa a economia da floresta
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Isolados e sem ter como escoar e comprar alimentos, os produtores e comerciantes do Amazonas se veem num ‘beco sem saída’ com o sumiço dos rios causado pela seca histórica que atinge a região.

Pelo menos 20 empresas do Polo Industrial de Manaus anunciaram férias coletivas para os funcionários, e falou-se no impacto da estiagem nas compras da Black Friday em todo o país – além, é claro, no impacto para o maior varejista da região.

Mas a crise também atingiu em cheio pequenas comunidades, muitas das quais perderam temporariamente a única fonte com que contavam. Foi decretada situação de emergência em 59 municípios amazonenses, e estima-se que a estiagem atinja mais de 600 mil pessoas.

“O turismo de base comunitária, o manejo de pirarucu e o manejo florestal madeireiro foram severamente impactados”, diz o diretor técnico do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), André Vianna.

O relato de mortes do pirarucu, conhecido como “gigante amazônico”, vem da Reserva Extrativista Ituxí, localizada no Município de Lábrea, no sul do Amazonas, banhado pelo rio Purus.

O manejo do pirarucu, um peixe que pode medir até 3 metros e pesar 200 quilos, é uma das principais atividades econômicas daquela região.

Vianna afirma que ainda é difícil medir os impactos da crise em números. Muitas comunidades estão efetivamente isoladas. Municípios que antes eram banhados pelos rios Negro, Solimões e Amazonas hoje são contornados por uma extensa faixa de areia e lama. A certas localidades que dependiam do acesso fluvial hoje só se chega a pé, atravessando imensos atoleiros.

A Pousada Vista do Rio Negro, a oeste de Manaus, está fechada desde setembro. A gestora do empreendimento, Adriana de Siqueira, diz que ainda não há previsão de reabertura.

“Estamos falando de uma perda aproximada de 320 turistas que deixarão de vir neste mês de outubro e em novembro”, afirma Siqueira. Isso representa uma receita perdida de cerca de R$ 200 mil.

Adaptação climática

A seca de 2023 já é a mais grave a atingir o Rio Negro desde que começaram as medições, 120 anos atrás, e a pior desde 2010.

A perspectiva de que o fenômeno se repita com mais intensidade por causa da mudança climática leva algumas comunidades a pensar em medidas de adaptação – ainda que improvisadas.

Para Sebastião Brito, liderança na comunidade Saracá, em Iranduba (região metropolitana de Manaus), diz já estar planejando um estoque de alimentos para o ano que vem.

Itens como carne bovina e frango não chegam mais à região por causa da impossibilidade de transporte. Os comerciantes locais afirmam que a oferta só vai voltar quando o nível da água subir.

Nos casos em que a logística não foi completamente interrompida, houve aumento de até 50% nos valores de frete em algumas regiões do Amazonas, segundo o Centro da Indústria do Estado.

Vianna, do Idesam, afirma que o planejamento para a próxima estiagem deve começar agora, pois o El Niño começou este ano e pode se estender até 2024. Ele menciona a preparação da Defesa Civil como um dos pontos essenciais para lidar com os impactos imediatos.

No longo prazo, a solução passa por melhores condições para as comunidades amazônicas, o que inclui o transporte, mas vai além disso, diz Vianna.

Sem itens básicos de infraestrutura, como eletricidade e acesso à internet, não haverá a criação de negócios locais que possam trazer a agregação de valor para mais perto das populações, afirma ele.

Imagem: Fundação Amazônia Sustentável