Amaz acelera duas startups da Amazônia e abre nova chamada

Aportes na Moma, de produtos de higiene pessoal, e na Zeno Nativo, de castanhas, são aposta nos negócios da bioeconomia

Produtos da Moma, empresa que produz itens de higiene pessoal com ingredientes amazônicos
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A Amaz acaba de adicionar duas novas startups a seu programa de aceleração de novos negócios de impacto na Amazônia e abriu a seleção das empresas que participam da próxima rodada.

Serão escolhidas entre duas e seis empresas para a rodada de 2024. Elas receberão cheques iniciais de até R$ 400 mil, que seis meses depois podem ser complementados com R$ 600 mil, levando o aporte total a R$ 1 milhão.

A Amaz já investiu em 13 negócios de impacto, representando um investimento total de R$ 4,8 milhões. Na primeira edição do programa, em 2021, foram selecionadas seis companhias. No ano seguinte, cinco.

Em 2023, apenas 2 de 112 inscritas passaram pelo crivo da aceleradora. A diminuição não foi por acaso, segundo o CEO da Amaz, Mariano Cenamo. Fez parte de um processo de reestruturação interna.

“Foi um ano de replanejamento. A gente puxou o freio de mão justamente porque precisávamos rever a nossa tese de investimento e a estrutura de aporte que a gente dava para os negócios”, afirma ele.

Mas os pilares que nortearam a Amaz até aqui seguem preservados: contribuir para a preservação da floresta em pé ao mesmo gerando renda e impacto social por meio do incentivo a novas empresas.

“Nossa expectativa é de investir em menos negócios, mas com um cheque um pouco maior e catalisar novos investimentos.”

Castanha de valor

Há mais de dez anos, o produtor Zeno Gemaque, de Acará, cidade da região de Tomé-Açu, no Pará, tentou vender em Belém as castanhas que produzia, mas ficou surpreso com os preços baixos que lhe ofereceram à época. 

“Queriam pagar R$ 2,50 por quilo”, recorda. Essa impressão ficou ainda mais evidente quando ele resolveu ir a um supermercado e viu pacotes de castanhas já processadas de 150g sendo vendidos a R$ 8.

Zeno viu nisso uma oportunidade de negócio e criou a Zeno Nativo. 

“Eu não tinha internet na época e nem conhecimento de como processar. Pesquisando com pessoas que trabalhavam em fábricas de castanha, mandei fazer um forno à lenha e comecei a produzir.”.

Ele resolveu ignorar a crença corrente na região segundo a qual é melhor vender melhor a matéria-prima bruta do que se aventurar na industrialização na Amazônia.

A aposta foi ousada, mas deu certo. Mais de uma década depois, a Zeno Nativo projeta faturar R$ 1,6 milhão neste ano, está expandindo sua fábrica e quer ampliar a presença em pontos de venda.

No ano passado, a empresa processou 40 toneladas de castanha, que são vendidas no Mercado Ver-o-Peso, em Belém, além de empórios e sorveterias. O faturamento no ano passado foi de quase R$ 400 mil, segundo Zeno.

Com a aceleração da Amaz, o plano é aumentar a equipe de 4 para até 12 funcionários e expandir a capacidade da fábrica, passando de cerca de 10 toneladas anuais de castanhas para algo entre 20 e 22 toneladas.

“Estávamos num momento muito confortável em relação a clientes, demanda grande por produto, mas não tínhamos condições de expansão. Em seis meses, conseguimos um crescimento que levaria anos, nem sei dizer quanto tempo.”

Esse salto não significa, porém, que a Zeno Nativo se distancie do seu propósito original: agregar valor às comunidades da região.

A empresa já paga pelo menos duas vezes mais às comunidades produtoras de castanha e cacau. Nos próximos anos, ele quer replicar pequenas agroindústrias nas comunidades, trabalhando em parceria. “É melhor termos pequenas fábricas para distribuir melhor a renda do que uma fábrica grande.”

Mas o principal desafio que Zeno vê para os próximos anos não está na capacidade produtiva, na relação com as comunidades ou no capital disponível para crescer.

O problema maior é o risco de queda na disponibilidade de seu principal insumo. “A castanha depende de uma mata ciliar, uma mata formada, madura. O aumento de desmatamento é uma ameaça porque leva junto as castanheiras”, afirma o empreendedor.

Sabonetes da floresta

Há quase dez anos, a paulista Vivian Chun não imaginava que sua pequena produção artesanal de sabonetes poderia se transformar na Moma Natural, marca que pretende faturar R$ 1 milhão neste ano.

Farmacêutica de formação, Chun passou a fabricar seus próprios sabonetes em um momento de questionamento sobre o sistema produtivo em que estava inserida. “E aí fui equipando meu laboratório clandestino”, brinca.

Ela passou a revendê-los para amigas e criou sua marca – uma junção das palavras mom, omma e maum, que significam respectivamente, em coreano, corpo, mãe e amor como estado de espírito.

O negócio foi apenas um hobby durante anos, até que Chun resolveu voltar a investir em sua produção de sabonetes, após deixar de forma repentina um projeto de agricultura florestal em que trabalhava, em 2021.

“Falei: é a hora de empreender. Peguei o que eu sabia, juntei com o que gostava, com o propósito e fomos para cima.”

Hoje, a Moma fabrica 11 produtos, todos veganos. São sabonetes, xampus, desodorantes e cremes que utilizam matérias-primas amazônicas como cumaru, murumuru e breu branco.

De todo o óleo vegetal utilizado na formulação dos produtos da Moma, entre 75% a 100% é óleo amazônico, o que é pouco comum na indústria de cosméticos, segundo Chun.

“Às vezes a empresa usa 5% de óleo vegetal amazônico e diz que está lindo”, afirma ela. A composição exata dos produtos muitas vezes não é divulgada, o que segundo Chun dá margem a um marketing que exagera atributos naturais.

A matéria-prima vem de parceiros como Inatú Amazônia, Vem do Xingu e Rede Origens Brasil, impactando 168 famílias amazônicas.

A produção da Moma ainda é pequena. As fórmulas criadas por Chun são fabricadas por terceiros, com insumos comprados pela Moma na Amazônia. As vendas ainda se limitam ao e-commerce.

Com os recursos da Amaz, Chun pretende investir em distribuição, aumentar a equipe, remodelar a marca e o site e investir em pesquisa e desenvolvimento para ampliar seu portfólio de produtos.

A meta é triplicar o faturamento, que foi de R$ 345 mil no ano passado, para R$ 1 milhão neste ano.

“Essas acelerações são fundamentais. Até porque eu não sou do ramo da gestão ou de negócios, eu não vim desse métier. O programa me traz contatos relevantes, estratégicos para eu acelerar, de fato, acelerar a minha jornada”, afirma.