A pauta dos investidores estrangeiros para a reunião com Mourão

A pauta dos investidores estrangeiros para a reunião com Mourão
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O grupo de fundos estrangeiros que pressiona o governo para deter o desmatamento na floresta Amazônica quer usar o encontro marcado para amanhã com o vice-presidente, Hamilton Mourão, para tentar iniciar uma política de engajamento com o governo brasileiro e discutir avanços que o país pode obter nas frentes ambiental e social.

Trata-se de uma novidade do ponto de vista dos próprios fundos, que normalmente desenvolvem esse trabalho apenas com as empresas nas quais investem, para tentar melhorar suas políticas ambientais, sociais e de governança (ESG).

Basicamente, os investidores gostariam que a reunião marcasse o início de um trabalho de longo prazo e não fosse um ponto isolado.

Na reunião de amanhã, querem tentar despolitizar o debate, demonstrando que seu interesse está relacionado à prática de investimentos sustentáveis e não ao protecionismo comercial.

Integrantes do governo brasileiro, como a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, atribuíram razões políticas à manifestação dos fundos — principalmente relacionando-a a questões comerciais entre Brasil e União Europeia — e os investidores entendem que essa interpretação é equivocada e prejudica a conversa.

O encontro virtual está marcado para as 10h da manhã no horário de Brasília. Do lado dos investidores, participarão CEOs de dez gestoras, lideradas pela norueguesa Storebrand, que organizou o movimento que levou ao envio de cartas às embaixadas duas semanas atrás. Pelo governo, além de Mourão, estarão o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e alguns outros ministros. Possivelmente Agricultura, Relações Exteriores e, talvez, Meio Ambiente.

Nas últimas semanas, Campos Neto assumiu a costura do encontro, fazendo reuniões individuais com alguns dos principais signatários da carta. Ele procurou entender, do ponto de vista técnico, quais eram as demandas.

Em algumas das conversas, segundo relataram pessoas com conhecimento do assunto, ouviu que existe uma preocupação concreta dos fundos europeus com a entrada em vigor das novas regras do bloco para classificação de fundos de investimento sustentáveis (taxonomia) para alinhá-los ao Acordo de Paris. Haverá uma padronização entre os diversos países, o que dará mais transparência e comparabilidade entre os produtos e, no limite, poderá levar à retirada de recursos de ativos em países com elevado risco ESG — categoria na qual o Brasil pode se enquadrar.

O encontro é uma resposta do governo brasileiro à carta enviada há quinze dias por 29 fundos internacionais, na maioria europeus e responsáveis por R$ 20 trilhões em ativos, às embaixadas do Brasil nos Estados Unidos, Japão, Noruega, Suécia, Dinamarca, Reino Unido, França e Holanda. No texto, diziam que o desmatamento acelerado criava incertezas sobre a continuidade dos investimentos feitos no Brasil.

O governo deverá tentar mostrar avanços e medidas em andamento, mas também já indicou que quer tentar descontruir uma narrativa que não considera verdadeira.

Nas conversas preparatórias que ocorreram nesta semana, os dirigentes dos fundos definiram tópicos para discussão.

O ponto de partida é encorajar o governo brasileiro a tomar medidas que impeçam a repetição das queimadas que ganharam o noticiário mundial no ano passado. Nesse sentido, foi recebida como um primeiro gesto de boa vontade a notícia de que o governo deverá proibir queimadas por 120 dias na Amazônia e no Pantanal — muito embora uma moratória apenas temporária não faça sentido para os investidores.

A pauta deve prosseguir com a preocupação dos investidores com o relaxamento das leis e esvaziamento das agências reguladoras, como Ibama (que segue sem presidente), ICMBio e outras e também com a necessidade de combater a impunidade daqueles que descumprem o Código Florestal.

Os investidores também pretendem defender uma redução expressiva dos índices de desmatamento e mais transparência de informações para que possam monitorar tanto o desmatamento quanto o rastreamento da cadeia de fornecimento dos produtores de commodities.