Quando se fala em Korin, a primeira imagem que vem à cabeça da maioria dos consumidores são os frangos orgânicos da empresa, líder desse segmento no Brasil.
Mas um negócio menos conhecido do grupo vem crescendo em paralelo nos últimos anos. Trata-se da Korin Agricultura, empresa dedicada à produção de bioinsumos e outros produtos agrícolas.
Criada há seis anos, a companhia hoje só está atrás da empresa de proteína animal em importância e receita dentro da Korin, que também tem lojas e uma administradora de franquias.
E os planos são de expansão. Até a metade do ano que vem, a meta é dobrar a capacidade de produção de sua fábrica – localizada em Ipeúna (SP), junto à unidade de processamento de frangos –, passando de 1 milhão de litros para 2,5 milhões de litros.
Também há investimentos em pesquisa e desenvolvimento para melhorar e introduzir novos produtos. A Korin conseguiu R$ 6 milhões há um ano e meio num edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública que fomenta ciência, tecnologia e inovação.
“Toda a tecnologia é desenvolvida aqui dentro, nossos processos todos foram desenvolvidos internamente”, diz Sérgio Kenji Homma, diretor-superintendente da Korin Agricultura.
O carro-chefe dos bioinsumos é o Bokashi, um melhorador do solo que foi o primeiro produto lançado e que corresponde a 90% das receitas. Além desse, há outros dez produtos, que vão de um acelerador de compostagem a um limpador e neutralizador de odores para pets.
As principais culturas atendidas pela Korin Agricultura são soja, milho e algodão. Mais recentemente, tem se expandido para fruticultura de exportação, café e cevada. Hoje, a empresa tem 700 clientes ativos, com presença mais forte no Centro-Oeste. Também vende para o exterior, alcançando Bolívia, Chile e Gana.
A Korin não divulga números de receita ou faturamento de suas empresas, mas é possível ter uma ideia do crescimento do negócio nos últimos anos a partir de alguns dados.
Quando a fábrica começou suas atividades, em 2018, a produção era de 100 mil litros anuais – hoje, são 700 mil litros.
“Nosso faturamento é tímido quando comparado com algumas empresas do ramo de bioinsumos, que têm números muito maiores do que o nosso. Mas vejo que há um campo muito grande para crescermos, até porque estamos comercialmente nesse mercado há pouco tempo”, afirma Rafael Borrelli, diretor-geral do grupo.
O mercado brasileiro de bioinsumos como um todo vem crescendo nos últimos anos. Na safra 2023/24, as vendas foram de R$ 5 bilhões, uma alta de 15% em relação à safra anterior, segundo dados da CropLife Brasil, uma das associações que representam as empresas do setor.
Para ter uma ideia dos valores envolvidos, somente no ano passado, a SoluBio, uma relevante empresa do segmento, informou ter faturado cerca de R$ 200 milhões.
Um jeito diferente
No mundo dos bioinsumos e dos defensivos em geral, o foco está no combate a pragas e doenças específicas via aplicação de defensivos biológicos e agentes microbiológicos de controle.
Já a Korin prefere ir por outro caminho: melhorar a saúde do solo.
O conceito está alinhado à filosofia da Igreja Messiânica, a controladora da empresa. A religião nasceu no Japão em 1935 e está no Brasil desde a década de 1950.
Os messiânicos entram na categoria das “novas religiões japonesas” (a mais conhecida é a Seicho-no-ie) que foram nascendo ao longo do século XX.
A Korin segue a filosofia do pensador japonês Mokiti Okada, fundador da igreja. Um dos pilares da religião é a “agricultura natural”, método proposto por Okada que prega um cultivo livre de agrotóxicos e pesticidas.
“É um modelo que utiliza as tecnologias que a própria natureza desenvolveu ao longo de centenas de milhares de anos para a produção de alimentos não só rico em nutrientes, mas mais espiritualizados”, afirma Sérgio Kenji Homma, diretor-superintendente da Korin Agricultura.
Os messiânicos encontraram no método japonês Bokashi, que significa matéria orgânica fermentada, uma forma de preparar o solo seguindo os ensinamentos de Okada.
Por muito tempo, a produção agrícola da Korin ficou restrita ao consumo interno dos fiéis.
Os frangos passaram a ser comercializados ao público em geral nos anos 1990, quando os alimentos orgânicos eram raridade. Apesar do pioneirismo, hoje a companhia enfrenta a concorrência de gigantes como Sadia, da BRF, e Seara, da JBS.
Inovação caseira
O Bokashi começou a ser comercializado há 20 anos, em 2004. Antes disso, houve um longo caminho, que começou no fim dos anos 1970, com as primeiras pesquisas feitas dentro da igreja.
O produto nasceu como uma mistura de farelos e materiais orgânicos fermentados. Há uma década, a Korin percebeu que precisava mudar o formato, segundo Homma. “Essa forma farelada é de difícil aplicação para grandes áreas e grandes plantações, que é o que impera no Brasil. Tivemos a ideia de transformá-lo num líquido.”
O Bokashi é diluído em água e então pulverizado no solo. O benefício para o produtor aparece na saúde da terra e também na produtividade, segundo a companhia.
“Pegando as produções de soja, temos obtido diferenças na média de quatro a cinco sacas a mais por hectare, principalmente quando o clima está desfavorável”, afirma Homma.
Crescer é preciso
A Korin não ficou imune à quebra da última safra de soja e viu seus ganhos caírem no ano passado. O negócio de insumos fechou 2023 com um resultado 16% menor do que 2022, segundo Homma.
A ideia do grupo é diversificar e melhorar cada vez mais o portfólio para que a empresa não fique exposta às variações das safras – afinal, em tempos bicudos, o produtor tende a comprar menos o Bokashi.
“Há a necessidade de a gente partir e desenvolver outros produtos para não ficarmos presos apenas nesse único produto”, diz Borrelli, diretor-geral do grupo Korin.
Ainda não está claro como isso vai acontecer, mas deve estar dentro de um processo de reorganização interna do grupo que vai se estender ao longo dos próximos 12 meses e terá a participação de uma consultoria.
“Hoje, as empresas trabalham completamente separadas na parte de gestão e administrativa. Queremos otimizar recursos e pessoas.”, afirma.
A intenção é preparar o grupo para receber capital de fundos de investimento e poder acelerar o crescimento, até hoje feito com recursos próprios — mas Borrelli salienta que tudo depende da concordância da Igreja Messiânica.
A Korin já tinha ensaiado esse passo no passado, mas não foi adiante na ideia. Em 2017, um fundo de private equity chegou a propor um investimento na empresa, mas a igreja foi contra. “A palavra final é da mantenedora, é da igreja, não é nossa”, afirma Borrelli.
Não é fácil combinar a filosofia da instituição religiosa – que, segundo Borrelli, não vê a Korin como negócio, mas sim como uma filosofia – e o lucro, objetivo de qualquer empresa capitalista.