A Duratex acaba de criar uma área específica para tocar a agenda ESG e se prepara para anunciar uma nova estratégia em sustentabilidade, com metas mais assertivas que ditarão 10% da remuneração variável dos executivos da empresa.
A ideia é sair de uma estratégia com 45 metas, que vigorou nos últimos anos, para um conjunto mais enxuto de objetivos, que está em fase final de definição e será aprovado pelo conselho em breve.
“Quem tem 45 metas não tem nenhuma. Teremos KPIs mais assertivos, que façam sentido para a empresa e que a gente consiga entregar”, diz Guilherme Setubal, escolhido para gerenciar a nova área ESG da fabricante de painéis de madeira, louças, metais e revestimentos cerâmicos controlada pela Itausa.
Setubal, um herdeiro das famílias controladoras da Duratex, filho de Neca Setubal, já foi gerente de relações com investidores da companhia e, nos últimos anos, estava na área de ‘revenue growth’ da divisão de louças e metais Deca.
A nova política deve ser divulgada em junho, quando os novos objetivos serão conhecidos.
Uma das novidades deve ser um plano de descarbonização da atividade, com metas baseadas em critérios científicos (SBTi).
Por causa do braço florestal do negócio, que abastece as unidades de negócios de painéis e pisos de madeira, a Duratex captura mais gás carbônico da atmosfera do que emite, o que a transforma, automaticamente, em uma empresa carbono negativa.
Mas, agora, a ideia é se comprometer a cortar as emissões — algo particularmente sensível para a área de revestimentos cerâmicos.
Para definir o percentual da remuneração variável dos executivos que estará vinculado às novas metas, a companhia fez um benchmarking no mercado e constatou que a maioria das empresas que já tem a política adota percentual entre 10% e 20%. A Duratex acabou optando pelo piso do intervalo.
Setubal diz que, embora ESG tenha virado uma gerência, a ideia não é que seja uma área isolada dentro da empresa. “O desafio da área é ser transversal dentro da companhia. Tenho total consciência do meu desafio e do que a Duratex faz de bom e faz de ruim”, diz ele.
Para ele, a empresa tem gaps relevantes nas três dimensões do ESG, mas considera que um dos maiores desafios está no ‘S’, especificamente na diversidade dos colaboradores.
“A Duratex ainda é uma empresa extremamente masculina, embora muito menos do que alguns anos atrás.” Se, em 2019, 36% das novas vagas de gerência foram preenchidas por mulheres, no ano passado o percentual subiu 60%, diz.
Como a empresa ainda não divulgou o relato integrado de 2020, o percentual final de mulheres em cargos de gerência não é conhecido.
A próxima fronteira em diversidade, diz Setubal, será avançar na questão racial.
Na visão de Setubal, ampliar a diversidade nos quadros da empresa será fundamental para que a empresa consiga entender a demanda atual dos consumidores.
“No passado, achávamos que nós, Deca, sabíamos o que o cliente quer. Mas nós não sabemos mais”, diz. “E se sentarem 100 homens brancos, engenheiros, formados na Poli, gerentes da Duratex para discutir o consumidor final, vão chegar à mesma conclusão. As novas tendências têm provocado muito a companhia.”
O conselho da empresa hoje é dominado por homens (sete dos nove integrantes), sendo que há seis representantes das três famílias acionistas (Setubal, Villela e Seibl) e apenas três membros independentes. As duas mulheres com assento são Andrea Seibl e Juliana Rozenbaum Munemori (independente).