Pioneira no segmento de fazendas verticais, a Pink Farms se prepara para criar novas hortas urbanas e dar o maior salto produtivo de sua história.
A startup está terminando de captar R$ 10 milhões junto a investidores privados para botar de pé sua terceira unidade, que deve entrar em operação no começo de 2025 em Jundiaí (SP) e terá capacidade produtiva de 30 toneladas de folhas e ervas por mês.
A ideia da empresa é chegar ao primeiro trimestre de 2025 com uma produção e comercialização total de cerca de 65 toneladas por mês.
O volume representa pouco mais que o dobro do montante atual produzido pela startup, de pouco mais de 30 toneladas por mês, nas unidades de São Paulo (SP) – localizada em um galpão de 1,3 mil metros quadrados na Vila Leopoldina, bairro da zona oeste da capital paulista – e de Sorocaba (SP).
A fazenda urbana de São Paulo é dedicada à produção de folhas e de microgreens, plantas “jovens” com menos de 5 centímetros de altura como couve, mostarda e alho poró. A de Sorocaba é dedicada exclusivamente ao cultivo de cogumelos.
Com vendas para varejo, atacado e food service, a Pink Farms hoje está em cerca de 300 pontos de venda, praticamente restritos à Grande São Paulo.
Entre os clientes, estão grandes varejistas como Carrefour e Grupo Pão de Açúcar, e redes menores como Mambo, Zaffari, St. Marche e Natural da Terra.
A partir da expansão, a startup quer atender à demanda e garantir que seus produtos estejam disponíveis na gôndola com mais frequência.
“Muitas vezes, a gente entrega um volume no ponto de venda e, no dia seguinte, o produto já acabou. E às vezes só vamos entregar de novo em três ou quatro dias”, diz Geraldo Maia, CEO e cofundador da Pink Farms.
A oferta de produtos também deve crescer, passando de 28 para 48 produtos. A Pink Farms quer cultivar espinafre italiano, acelga, beterraba, agrião, sálvia, tomilho, cebolinha, salsinhas, entre outros ingredientes.
Até mesmo flores comestíveis produzidas verticalmente devem chegar ao mercado, com foco em food service.
A Pink Farms chegou a produzi-las em caráter experimental, mas não levou o projeto adiante por falta de capacidade operacional.
Mapa do crescimento
Criada há oito anos, a startup começou produzindo alfaces e foi crescendo seu portfólio ao longo do tempo, adicionando mais folhas e também os microgreens.
Mais recentemente, cogumelos entraram no cardápio. Desde o fim do ano passado, a startup passou a produzir 35 toneladas de shiitake, shimeji branco e shimeji preto por mês.
Como a capacidade de produção da fazenda de Sorocaba é bem maior que a de São Paulo, o cultivo representa a maior parte do faturamento e da produção da empresa.
Além de ampliar o mix de produtos, a Pink Farms também quer avançar para outros Estados nos próximos anos.
A meta é alcançar capitais como Rio de Janeiro e Belo Horizonte e, para isso, a startup pretende abrir uma nova rodada de investimentos no ano que vem.
A intenção é captar entre R$ 30 milhões a R$ 50 milhões para começar a construir entre três a quatro novas unidades à frente.
“Se a gente conseguir fazer 60% ou 50% desses nossos planos, já acho que é muito bom”, diz Maia.
A startup cogita emitir Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e acessar capital estrangeiro, via venture debt americano.
Levantar capital não é trivial num negócio que exige recursos para, ao mesmo tempo, aumentar produtividade, expandir a produção e atualizar tecnologias de um sistema produtivo não-convencional, segundo Maia.
Desde sua criação, a empresa já captou R$ 17,8 milhões em quatro rodadas de investimento. Bolsos relevantes como a gestora SP Ventures, um dos principais nomes do capital de risco no agronegócio, e a SLC Ventures, braço da gigante das commodities SLC Agrícola, já aportaram recursos.
Outros investimentos alternativos também apareceram no meio do caminho, como uma rodada de R$ 4,8 milhões feita numa plataforma de crowdfunding, a SMU, há três anos.
“O investidor tradicional de venture capital não tem tanto interesse em investir no nosso mercado. Mas também não entramos no mercado [de crédito] tradicional, porque é um método produtivo muito diferente.”
Cenário desafiador lá fora
Enquanto a Pink Farms tem planos de expansão no Brasil, startups de fazendas verticais enfrentam dificuldades no exterior depois de um boom do segmento ao longo da última década.
No ano passado, a pioneira AeroFarms, dos Estados Unidos, chegou a pedir concordata – o capítulo 11 do código de falências americano – e precisou vender ativos para voltar à operação normal.
A queda da startup foi rápida: apenas dois anos antes, em 2021, a AeroFarms havia sido avaliada em US$ 1,2 bilhão e foi listada na Nasdaq.
Maia diz não temer que o cenário se repita em seu negócio pelo nível de maturidade tecnológica que a Pink Farms conseguiu alcançar ao longo do tempo.
“No exterior, muitos players ainda não tinham comprovado seu modelo operacional ainda. Devido às demandas de execução rápida e pouca margem para erro, muitos construíram fazendas gigantes com uma tecnologia que ainda estava em estágio de validação”, afirma.
Sistema produtivo
Apesar de a Pink Farms ter alguns anos de mercado, o conceito de fazendas verticais ainda é pouco conhecido no Brasil.
Nesse sistema de cultivo, que foi se espalhando por startups ao redor do mundo na última década, as plantas ficam depositadas em prateleiras empilhadas em torres de sete metros de altura e recebem luz artificial – com leds da cor rosa, que dá nome à startup – que faz as vezes de sol e acelera o processo de fotossíntese.
O crescimento dos alimentos acontece de forma totalmente controlada, com mensuração de água, temperatura e umidade. A colheita da alface da Pink Farms é feita 11 a 12 vezes por ano, frequência maior do que no método tradicional, que varia entre 4 a 7 vezes a cada ano.
O ciclo de cultivo varia, não chegando a um período maior que três meses: os microverdes levam de 7 a 8 dias, enquanto a alface pode levar até 40 dias no máximo para completar seu ciclo, e os cogumelos, entre 50 a 90 dias.
O preço das verduras chega a ser entre 15% a 20% mais alto que o das produzidas no método convencional. A alface crespa, por exemplo, varia de R$ 9,40 a R$ 10. É mais caro que um pé comprado na feira, mas é menos que os R$ 10 a R$ 15 que se pagam por uma alternativa orgânica, diz Maia.
Apesar de ostentarem a inscrição “sem agrotóxicos” na embalagem, os produtos da Pink Farms não recebem o selo de orgânicos por não serem plantados na terra, uma exigência da certificação.
“Em comparação aos orgânicos, a gente tem uma economia de quase 400 vezes a quantidade de área para produzir um quilo de alimento. Também economizamos 95% de água, 60% de fertilizantes e não usamos defensivos. Na minha visão, o orgânico é um produto que não deveria existir.”