Plano climático de Porto Alegre já mapeava riscos

Documento estava na fase final de elaboração e seria apresentado em julho; outras capitais já têm seus planos de prontidão

Gilvan Rocha/Agência Brasil
Gilvan Rocha/Agência Brasil
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No momento em que atravessa a maior tragédia climática de sua história, Porto Alegre se preparava para encaminhar a fase final de elaboração de seu plano de ação climática, que vem sendo construído desde o ano passado e cuja entrega estava prevista para julho.

Outras capitais brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife já têm planos do tipo, assim como grandes metrópoles ao redor do globo, como Paris e Nova York.

Esse tipo de documento tem dois objetivos principais: identificar as fontes de emissões de gases de efeito estufa do município e pensar como reduzi-las, e apontar os vários riscos trazidos pela mudança climática, como inundações, erosões e deslizamentos de terra e ondas de calor.

O corte de emissões – ou as atividades de mitigação, no jargão do clima – foi o que disparou esse tipo de planejamento, diz Sergio Margulis, coordenador técnico do plano porto-alegrense e ex-economista de meio ambiente do Banco Mundial.

“Inicialmente, a agenda climática como um todo focou principalmente na mitigação, o que é correto. Mas depois todo mundo caiu na real e hoje a preocupação maior é a adaptação”, afirma Margulis, usando o termo que indica as medidas que precisam ser tomadas já para garantir a preparação para os efeitos de um clima em mutação.

Riscos traçados

O plano completo ainda não está concluído, mas partes podem consultadas no site da prefeitura. A cidade abriu na semana passada uma pesquisa de opinião para colher sugestões da população.

Como o próprio nome indica, o foco desse tipo de estudo está na ação. Mas o trabalho começa com uma avaliação dos riscos e vulnerabilidades.

Em Porto Alegre, a equipe que conduz o programa fez a análise de seis ameaças: inundação fluvial, deslizamentos/erosão, ondas de calor, secas meteorológicas, vetores de arboviroses e tempestades.

Partindo de modelagens climáticas e levando em conta características locais como topografia, densidade populacional e distribuição de renda, tipicamente são traçados cenários de médio (2030) e longo prazo (2050).

Mas as descrições e projeções de risco que o plano faz para o futuro são quase um retrato fiel do que está acontecendo hoje na capital gaúcha.

A maior parte das regiões que, segundo o estudo, apresentavam maior risco de inundações fluviais foram afetadas pelas cheias desde a semana passada.

Em alguns pontos, projeções para 2050 são quase um espelho da situação da cidade hoje. O documento aponta, por exemplo, “trechos da BR-290 e BR-116 com classificação [de risco] ‘alta’, principalmente próximo à Arena do Grêmio, ao aeroporto Salgado Filho e próximo ao cruzamento das vias para acesso à Ponte do Guaíba.”

As duas rodovias foram bloqueadas; o gramado da Arena do Grêmio ficou cheio d’água; o aeroporto está totalmente inundado e deve ficar inoperante pelas próximas semanas.

Além disso, bairros como Sarandi, Arquipélago, Humaitá, São Geraldo, Floresta e Farrapos – que tinham risco médio, alto ou muito alto de inundação nas projeções à frente – foram todos afetados severamente pelas chuvas.

Metas e responsabilidades

Além do diagnóstico, documentos deste tipo contêm medidas práticas para aumentar a prontidão das cidades.

“O objetivo é que não seja só um documento orientativo, mas que traga justamente metas e ações que vão acontecer e que a prefeitura tenha essa responsabilidade de cumprimento das ações”, afirma Rosangela da Silva, especialista de mitigação da WayCarbon, consultoria que elabora o plano.

Silva conversou com o Reset antes da crise atual, e ainda não está claro que impacto a tragédia terá sobre as medidas sugeridas ou sobre os prazos de implementação.

O que se sabe é que as medidas devem ser transformadas em leis municipais por meio de um projeto de lei, para que o assunto não fique refém do vaivém da política.

Salvador

A experiência de Salvador, que lançou seu plano de ação climática em 2020, ajuda a entender os contornos e objetivos desse documento.

O plano estabelece 57 ações a serem adotadas ao longo dos próximos anos e décadas na capital baiana. Foram definidos três marcos temporais, de curto, médio e longo prazo (2024, 2032 e 2049).

Algumas ações já foram tomadas. A cidade reestruturou a Defesa Civil. Foi criado um sistema de monitoramento com estações pluviométricas e meteorológicas.

Sirenes avisam a população caso haja risco iminente, as rotas de evacuação até os abrigos mais próximos são amplamente divulgadas.

Uma forte chuva em abril de 2015 deixou 15 mortos na periferia da cidade. Em 2020, houve tempestades ainda mais fortes, mas nenhuma morte foi registrada.

Para este ano, o documento indica que a prefeitura deveria aumentar em 50% a quantidade de equipamentos destinados ao monitoramento e alerta.

Já no longo prazo, o plano prevê a redução de 45% para 30% da população que vive em áreas de risco até 2049 – a capital baiana convive historicamente com deslizamentos de terra.

O modelo de metas vai ser adotado também em Porto Alegre. “Esses marcos intermediários são necessários para saber quando e onde a gente quer chegar no curto e médio prazo, para não ficar só com a visão 2050”, afirma Silva.

Revisões periódicas também são necessárias. “Novas tecnologias podem surgir, então esse plano também precisa ser revisto”, diz ela.

É claro que um arquivo em PDF não resolve problema nenhum. As cidades conhecem os problemas e são elas que precisam atuar nas regiões mais críticas para evitar a repetição das tragédias.

Se é possível encontrar algo positivo das notícias terríveis que vêm do Rio Grande do Sul é a sinalização de que os preparativos precisam começar já.

“O trator vai passar por cima de todo mundo. A nuvem, literalmente, varre tudo. Não respeita o limite geográfico”, afirma Margulis.

Doações

É possível fazer doações para as vítimas das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul. Confira abaixo alguns meios de fazer sua contribuição:

Governo do Rio Grande do Sul

A conta SOS Rio Grande do Sul, canal oficial de doações do governo gaúcho, aceita contribuições via PIX de qualquer valor, tanto de pessoas físicas como jurídicas. Também é possível fazer doações de fora do país, via conta corrente.

Dados para doação via PIX:

Pix para a conta SOS Rio Grande do Sul

CNPJ: 92.958.800/0001-38

Associação dos Bancos No Estado do Rio Grande do Sul ou Banco do Estado do Rio Grande do Sul (as duas opções podem aparecer)

Para doação internacional via conta corrente:

Euro
Banco Standard Chartered – Frankfurt
Swift: SCBLDEFX
Conta: 007358304
Banco beneficiário: Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A – Head office
Swift: BRGSBRRS
Beneficiário: Associação dos Bancos no Estado do Rio Grande do Sul
CNPJ: 92.958.800/0001-38
Iban: BR5392702067001000645423206C1

Dólar Americano
Banco Standard Chartered – New York
Swift: SCBLUS33
Conta: 3544032986001
Banco beneficiário: Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A – Head office
Swift: BRGSBRRS
Beneficiário: ASSOCIAÇÃO DOS BANCOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
CNPJ: 92.958.800/0001-38
Iban: BR5392702067001000645423206C1

Libras Esterlinas
Banco Standard Chartered – London
Swift: SCBLGB2L
Conta: 01251596201
Banco beneficiário: Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A – Head office
Swift: BRGSBRRS
Beneficiário: Associação dos Bancos no Estado do Rio Grande do Sul
CNPJ: 92.958.800/0001-38
Iban: BR5392702067001000645423206C1

Para todos os casos, é preciso informar:

Código Iban: BR5392702067001000645423206C1
Nome: Associação dos Bancos no Estado do Rio Grande do Sul
CNPJ: 92.958.800/0001-38

Correios

Também é possível fazer doações nas agências dos Correios dos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

A estatal está recebendo e transportando, de forma gratuita, alimentos da cesta básica, material de higiene pessoal, material de limpeza seco, roupas de cama e de banho e ração para pets.

Prefeitura de Porto Alegre

A Prefeitura de Porto Alegre também tem um canal oficial de doações via PIX, aceitando contribuições de qualquer valor, inclusive de fora do país (nesse caso, a doação deve ser feita via conta corrente).

Dados para doação via PIX:

CNPJ: 92963560000160 – Município de Porto Alegre

Para doação internacional via conta corrente:

Iban: BR48 0036 0305 0282 2000 0713 361C 1
Nome/Razão Social: MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE
CPF/CNPJ: 92.963.560/0001-60
Conta: 2822 0006 000000071336-1
Código Swift: CEFXBRSP